RIO ? A sabedoria popular ensina que, em um mesmo barco, todos devem remar juntos. Melhor ainda se ao seu lado estiver o seu grande amigo. Aí é garantia de entrosamento e sucesso, receita que vem rendendo bons resultados e garantiu a classificação olímpica a Anderson Oliveira e Charles Corrêa. Os dois garotos criados juntos em Piraju, no interior paulista, formam a equipe brasileira do C2, na canoagem slalom, que vai tentar buscar, no dia 11, uma medalha inédita para o esporte no Parque Radical de Deodoro. Links esportes dessa sexta
A amizade de Charles, 23 anos, e Anderson, 24, vem desde os 10 anos de idade. Ainda moleques, se conheceram na Escola Municipal Balbino, na pequena Piraju. A cidade com 30 mil habitantes no oeste paulista é cortada pelo rio Paranapanema, o que facilita a prática de esportes náuticos. Depois de constatar que não levava muito jeito para o futebol (?Eu era mais ou menos, aí preferi tentar outra coisa??), Charles se inscreveu em um projeto social da cidade, que oferecia aulas de canoagem, remo e vela.
? Comecei no remo e convidei o Anderson. Depois, com 13 anos, fomos para a canoagem slalom e não paramos mais ? recorda Charles.
A dupla dinâmica, porém, começou separada, e com uma grande dose de rivalidade. Os dois treinavam na K1, caiaque individual, onde o atleta vai sentado e utiliza um remo de duas pás. Logo na primeira prova que disputaram, Anderson chegou em primeiro e Charles foi o terceiro. Começava ali uma competição sadia, tradicional em adolescentes, que acabaria por elevar, e muito, o nível dos dois amigos.
? Ah, sempre tinha provocação, zoação com quem chegava atrás. Cada competição era uma guerra, né? Ninguém queria perder para o outro ? diz Charles, rindo.
QUANDO AS PORTAS SE ABRIRAM
Das provas locais em Piraju para as competições nacionais e, posteriormente, mundiais, foi um passo. Ainda competindo separados, os dois conseguiram um resultado expressivo no Mundial Júnior da França, em 2010, quando ficaram em quarto lugar por equipes.
? Ali as portas se abriram ? conta Charles.
Em 2012, o italiano Ettore Ivaldi, técnico da seleção brasileira, sugeriu aos dois que unissem forças e passassem a remar juntos, formando um time no C2 ? a canoa em dupla, onde cada atleta vai ajoelhado, com um remo de apenas uma pá. Charles e Anderson aceitaram, e os resultados não demoraram a aparecer. Foram campeões brasileiros, pan-americanos, medalha de bronze no Mundial sub-23 e prata nos Jogos Pan-Americanos de Toronto.
? Dividir os erros é difícil. Com certeza você tem mais confiança em um grande amigo ? diz Anderson.
? Um depende muito do outro. A gente dá risada, mas tem também muita cobrança. Felizmente nunca teve uma briga feia, mas de vez em quando ficamos uns dias emburrados ? revela Charles.
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Na canoa, Charles, que é mais baixinho (1,60m), vem à frente, na posição em que é preciso dar mais velocidade, e Anderson (de 1,70m) fica atrás, trabalhando mais a direção.
? A gente brinca que o Charles é o motor e eu sou o volante.
As brincadeiras saem fácil no papo com a dupla. Experimente perguntar para eles por que resolveram trocar o remo e a canoagem de velocidade pela canoagem slalom…
? É mais radical, né? A gente brinca com o pessoal da velocidade dizendo que quem gosta de água parada é dengue ? dispara Anderson.
Os dois chegam ao Rio na 29ª posição no ranking da Federação Internacional. Uma medalha parece um sonho distante, mas não impossível para a dupla que saiu de Piraju e ganhou o mundo.
? Queremos no classificar para a final, e aí tudo pode acontecer. É chegar lá e remar forte ? diz Anderson.
Afinal, como diz outro ditado popular, ?barco parado não ganha frete??. Muito menos medalha.