BRASÍLIA – Falcão, Roberto Dinamite, Júnior, Dunga, Taffarel, Romário, Bebeto, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Neymar… É extensa e rica a lista de craques brasileiros que ficaram pelo caminho na busca do ouro. Hoje, quando estrear no Rio-2016, às 16h, contra a África do Sul, virá à cabeça a velha questão: se sempre houve talentos, por que o Brasil nunca venceu a Olimpíada? Talvez por ter colecionado preparações e montagens de time improvisadas. Hoje, começa nova corrida do ouro. Com uma geração que dá esperanças, mas tenta se afirmar; com o craque do time pressionado a vencer; e com um projeto, mas ainda com toques de ?brasilidade?.
Chegou-se a improvisar a ponto de, em Los Angeles-1984, um time quase todo do Internacional ser medalha de prata. Desta vez, houve preparação, ainda que com marca brasileira: três mudanças de rota, trocas de técnico e de planos. No fim, Rogério Micale, que conduzia a parte final do projeto mas, no plano original, entregaria o time a Dunga, herdou o comando após a queda do técnico da seleção principal.
Entre janeiro de 2014 e março de 2015, foram onze amistosos com Alexadre Gallo. Demitido, deu lugar a Micale, que só pôde iniciar a preparação olímpica em setembro passado, após comandar no Mundial sub-20, um time que Gallo convocara.
Micale fez oito amistosos com o time olímpico e testou 48 jogadores. Cerca de 45 dias antes do Rio-2016, soube que seria o técnico. Recebeu a notícia horas antes do prazo para entregar uma pré-lista de 35 convocados. O maior projeto olímpico brasileiro teve toques do nosso futebol. Ao menos, houve projeto. Já foi uma evolução. Assim como entregar a equipe ao técnico que mais a dirigiu.
? Tivemos dez dias de treino. Não se atinge o máximo. Mas temos um time de qualidade e o possível melhor jogador do mundo ? disse Micale, que construiu carreira nas divisões de base de clubes do país. ? Eu me preparei por muitos anos. Na teoria e na prática.
Neymar é um dos passageiros mais recentes desta viagem, que põe em jogo muito mais do que quebra do jejum de ouros. A urgência do futebol brasileiro vai além. Há uma geração nova para se afirmar, uma pessimismo nacional para quebrar. E sob a liderança do principal jogador do país, o terceiro melhor do mundo, que vive momento feito à imagem e semelhança desta seleção.
Neymar vive sua era de astro da seleção justamente em tempos de maus resultados. Venceu a Copa das Confederações, fazia boa Copa do Mundo até se machucar antes do 7 a 1, mas não há quem escape ileso a tantos tropeços. Suspenso na Copa América de 2015, ausente nas eliminatórias, passou a se ver questionado.
? Estou aqui para ser cobrado. Assumo a responsabilidade ? diz Neymar.
EM JOGO, GERAÇÃO E PAZ PARA TITE
Neymar bateu na trave em Londres-2012, ao perder a final para o México. É titular da seleção principal, assim como Renato Augusto vinha sendo. O meia dá o tom do quanto há em jogo.
? Até para o Tite trabalhar haverá mais tranquilidade ? disse.
As ausências e dificuldades na liberação de jogadores rivais aumentam a responsabilidade do Brasil, que teve menos problemas. E que tem Neymar, em prestígio, fama e valor uma exceção no torneio. Mas o contexto impõe que uma nova geração se afirme, abrande a convicção nacional da crise de talentos, apesar da cotação no mercado. Ontem, foi confirmada que o Manchester City vai pagar ?32,7 milhões (cerca de R$ 121 milhões) ao Manchester City. Gabigol tem propostas superiores a R$ 70 milhões. A comissão técnica tenta blindar os jogadores do tema. Há um controle para que o assunto não domine entrevistas. Quando os dois ?Gabriéis? se dirigiram à imprensa, pediram para responder só uma vez sobre mercado.
Há, ainda, um técnico em seu maior desafio. Pela primeira vez sob os holofotes, Micale mostrou bom humor ontem. Primeiro, ao falar da projeção dos jovens brasileiros no mundo disse que ?o menos conhecido aqui deve ser o técnico?. Em seguida, um jornalista listar os prováveis titulares do Brasil:
? E eu, né? Pretendo estar lá também, se não perder a credencial.
No fim, foi perguntado sobre como faria caso, após escalar Neymar, Gabigol e Gabriel Jesus, e lançar Luan e Rafinha no decorrer do jogo, a seleção continuasse sem conseguir um gol:
? Aí, só Jesus Cristo.
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