RIO? A medalha de ouro na canoagem do azarão Marcus Walz, de apenas 21 anos, ficará gravada na memória ? principalmente na dos celulares e máquinas fotográficas ? dos espanhóis. Walz, que nunca havia competido na categoria K1 1000m em grandes eventos internacionais, desbancou favoritos como o português Fernando Pimenta e o tcheco Josef Dostal na decisão desta quinta-feira, subindo pela primeira vez ao topo do pódio em provas adultas de caiaque.
A caminho da coletiva de imprensa após o pódio, Walz teve que se demorar na parte externa do Estádio da Lagoa, onde membros da delegação espanhola de canoagem, empolgadíssimos, apontavam câmeras de todos os tipos ? de profissionais a celulares ? para o campeão. Foram pelo menos 15 minutos atendendo os “fãs”, o dobro do tempo levou a entrevista coletiva de Walz para os jornalistas. Nem mesmo a imprensa espanhola, recolhida a um canto durante a sessão de fotos, fazia tantos registros do jovem canoísta.
? Ora, na Espanha somos assim! Quando um vence, tiramos muitas fotos. Quando perde é que ninguém fotografa ? argumentou Manuel Fonseca, antigo diretor do Conselho Nacional de Esportes da Espanha e um dos membros da comitiva. No intervalo de alguns minutos, Fonseca posou em pelo menos quatro posições diferentes ao lado de Walz.
A febre fotográfica já havia sido notada na segunda-feira, quando Walz chegara em terceiro na semifinal da K1 1000m, atrás dos renomados Fernando Pimenta e do australiano Murray Stewart, garantindo uma vaga na decisão desta terça. Animados, membros da comissão técnica de canoagem foram para a zona mista, onde os atletas falam com jornalistas após a competição, e pediram que Walz fizesse incontáveis poses com o remo em mãos. Walz, muito tímido, apenas aceitava as sugestões com um pequeno sorriso no rosto. O canoísta espanhol havia garantido, há apenas três meses, a última vaga europeia para os Jogos do Rio, ao chegar em terceiro no qualificatório do continente.
? Ele é um menino humilde, sensível. Não é nem um pouco arrogante. A medalha de ouro não me surpreendeu. Ele é assim: às vezes parece um passo atrás, mas logo dispara e ultrapassa todos ? declarou Fiona Waltz, a mãe de Marcus. Acompanhada dos tios e da prima do canoísta, Fiona curiosamente era a única que não fazia nenhum registro.
? Eu prefiro vê-lo com meus próprios olhos. Se eu ficar tirando fotos o tempo inteiro, vou acabar não vendo de verdade ? argumentou, com um enorme sorriso.
ORIGEM INGLESA
Nas raras vezes em que abria a boca no meio da festa, Walz mantinha a voz baixa e se comunicava com a mãe, dois tios e a prima em inglês, não em espanhol. Nascido em Oxford, na Inglaterra, ele se mudou muito novo com a família para Mallorca, na Espanha. A origem inglesa é uma possível explicação para o comportamento tímido do canoísta, segundo sua prima, Hannah.
? Os espanhóis são famosos por esse jeito mais ‘caliente’ ? afirmou.
Na prova decisiva desta terça, Walz largou bem, mas perdeu desempenho rapidamente e chegou à metade da prova em quinto, muito distante da liderança. Nos últimos 250 metros, porém, ele foi de três a quatro segundos mais rápido que todos os adversários, arrancando para a primeira colocação enquanto Pimenta e Stewart, por exemplo, despencavam para fora do pódio. A prata foi do tcheco Dostal, enquanto o bronze ficou com Roman Anoshkin, da Rússia.
? Eu não sabia se estava vencendo, perdendo ou se eu era o último. Apenas remei o mais rápido que eu podia. Queria fazer a corrida mais forte da minha carreira ? explicou Walz.
? Ele é um menino extremamente centrado, e muito seguro para tão pouca idade ? emendou Fonseca após a vitória: ? Para adotar a estratégia que ele usou, de deixar os outros saírem à frente e recuperar do meio para o final, é preciso ter cabeça fria. Não é para qualquer um. Mas o Marcus é bastante tranquilo. Ele sabe muito bem o que quer.