Alan Fonteles e Teresinha Guilhermina chegam aos Jogos do Rio pressionados. Não apenas porque competem em casa e defenderão medalhas de ouro conquistadas em Londres-2012, a partir de quinta-feira. Ambos tiveram ciclos paralímpicos instáveis, com problemas de peso ou de contusão. Alan, que tem, ao menos, um quilo a mais do que seu peso ideal, leva vantagem: dois concorrentes diretos ao pódio não vieram: o americano Blake Leeper foi pego no exame antidoping e está suspenso, e o também americano Richard Browne, machucado (T43 e T44, para amputados). Já Teresinha ganhou duas grandes rivais: Libby Clegg, da Grã-Bretanha, e a chinesa Guohua Zhou, que foram reclassificadas e agora correm na mesma categoria que ela (para cegos, T11; eram T12).
– Trabalhei muito para chegar aqui na melhor forma possível. Vim para o Rio para defender meu título em casa – diz Alan, que vai priorizar a prova dos 200m, afirmou que os alemães serão os seus maiores rivais e evitou comentar a ausência dos americanos. – Está rolando uma pressão muito grande por esta Paralimpíada ser em casa. Mas eu tenho essa e mais duas pela frente. Desencanei um pouco disso, não posso ficar me pressionando, com ou sem esses ou outros rivais.
Paralimpíada esportes em 6 de setembro
Leeper, que foi prata em Londres-2012 nos 400m, atrás do sul-africano Oscar Pistorius, testou positivo para cocaína em campeonato nacional nos EUA, em junho de 2015. Ele, que admitiu que luta contra o vício em drogas e bebida, foi punido com dois anos de suspensão. A pena caiu para um ano e o caso chegou a Corte Arbitral do Esporte (recurso da USADA).
Fonteles, ouro nos 200m na Paralimpíada de Londres-2012 e atual recordista mundial nos 100m (10s57) e nos 200m (20s66), tem o terceiro melhor tempo da temporada nos 200m (21s89). É superado pelos alemães David Behre (21s79) e Johannes Floors (21s82).
– Não posso ficar pensando em quem veio e quem não veio. O que preciso fazer é correr o meu. Esse ano já fiz melhor tempo que meus rivais nos 100m, por exemplo. Eu é que não fico guardando isso, pensando no tempo – declarou Fonteles, que não aparece entre os melhores no ranking internacional dos 100m em 2016.
Floors é o mais rápido do ano (11s21), à frente de Liam Malone, da Nova Zelândia (11s26).
– O Alan está bem fisicamente, com massa muscular forte, mas está, sim, um pouco acima do peso. Ele vai brigar pelo ouro nos 200m e está voltando para uma zona interessante, porque deve brigar por medalha também nos 100m, já que correu 10s97 em torneios paulistas, não credenciados internacionalmente. E ainda no revezamento 4x100m. Se estivesse mal, não teria condições como essas. No caso do revezamento, espero que a gente consiga bater os Estados Unidos, que ainda é a nossa pedra no sapato – declarou Ciro Winckler, coordenador técnico de atletismo do Comitê Paralímpico Brasileiro, que afirma que Alan está com 75 quilos, um a mais do que o ideal. – Ele está no Rio para brigar por medalhas, no plural. Além disso, o cenário, para ele, está favorável sem os americanos.
Teresinha Guilhermina, ouro nos 200m e nos 100m em Londres-2012 e atual recordista mundial nos 100m (12s01) e nos 400m (56s14), na categoria T11 (cego total), ganhou concorrentes de peso. A chinesa Zhou também foi ouro em Londres nos 100m e a prata nos 200m, mas na categoria T12 (baixa visão). E Clegg, prata nos 100m, em Londres (perdeu para a chinesa), na mesma categoria. Ambas correrão com a brasileira no T11.
– Respeito muito as duas, mas minha maior concorrente não será nenhuma delas. Sou eu mesma. Sei o que fiz para chegar até aqui e acredito que farei melhor ainda na hora do vamos ver – desconversa Teresinha, que agora correrá com guia novo, Rafael Lazarini, que ela conheceu durante o Mundial de Doha, em 2015, e com quem treinou durante oito meses. – Ele é um anjo, vou voar com ele na pista do Engenhão. Estou muito feliz com a mudança. Tudo vai dar certo.
Ciro comenta que Teresinha, que se recuperou recentemente de lesão no músculo posterior da coxa esquerda em abril, cresce com a concorrência, e que sua principal prova será os 200m. Ela ficou três meses treinando apenas com baixa intensidade.
– A Teresinha gosta desse tipo de pressão. Ela cresce com isso, é extremamente competitiva e fará a primeira Paralimpíada contra essas novas concorrentes. Ela está com a faca nos dentes. Quer recuperar as medalhas que perdeu no Mundial de Doha (2015) – diz Ciro, que tem ainda Jerusa Geber, com a melhor marca do ano nos 100m (12s12) e Lorena Spoladore, com o terceiro tempo de 2016 (12s24), à frente de Teresinha, em quarto (12s25).
Nos 200m, Clegg tem a melhor marca do ano (24s44), à frente de Thalita Vitória (25s41) e Jerusa (25s49). Teresinha não está entre as melhores.
Pela primeira vez em 10 anos, a brasileira deixou um Mundial Paralímpico de Atletismo sem sequer uma medalha de ouro. A heptacampeã mundial se despediu do emirado do Oriente Médio com duas pratas, nos 200m e 400m, e não conseguiu se classificar para a final dos 100m.
Clima paralímpico na Vila dos Atletas
– Fiz todo o tratamento necessário para estar aqui 100% e estou. Vou fazer o meu melhor. Prometo que essas lágrimas que derramei devido ao meu machucado valerão a pena no Engenhão – promete Teresinha, que afirma que a lesão lhe ajudou a treinar de forma diferenciada. – Pude trabalhar outros grupos musculares, além da fisioterapia. Em agosto já estava zerada e estarei mais rápida do que nunca, mais potente do que nunca e mais técnica do que nunca. Vou correr para medalha nos 100m e nos 200m. Acho até que essa lesão foi providência divina, porque pude me preparar de forma tranquila e como nunca havia feito. Ssempre treinei de forma intensa demais, e não dava tempo.
Teresinha disse ainda que Rafael, assim como os guias anteriores, gosta de ajudar na sua parte “visual”. A velocista é conhecida por desfilar com o tapa-olho enfeitado. E para o Rio-2016 ela não só tem modelitos novos como também customizou os tênis e agasalhos de pódio da seleção brasileira e até a sapatilha que vai correr.
– Ele confere se está tudo OK, incluindo a maquiagem. Preparamos algo especial para estes Jogos em casa. É surpresa para o público.
Quinta-feira, Teresinha e Alan correm as eliminatória dos 100m, ela a partir das 10h40m e ele, das 17h40m.