RIO ? O time de atletas refugiados, montado especialmente para a Olimpíada no Rio, enfim está completo, com a chegada à cidade do maratonista etíope Yonas Kinde, de 36 anos. Yonas é um dos dez atletas escolhidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para o grupo que vai disputar medalhas em nome de 60 milhões de refugiados, e não de seus países de origem ou destino. O time inteiro deu uma entrevista coletiva à imprensa na tarde desta terça-feira. Yonas vive em Luxemburgo, onde é taxista, há cinco anos. No Rio, vai disputar prova no atletismo.
? É a primeira vez que uma equipe de refugiados se concretiza numa Olimpíada. Temos orgulho de representar milhões de refugiados. Queremos encorajar milhões no mundo inteiro ? disse o etíope.
Dos 20 atletas que a Etiópia enviou ao Rio para as competições masculinas, 18 disputam modalidades do atletismo, parte deles com chances de medalha. É a especialidade do país. Das 20 mulheres, somente uma não está na disputa por medalha no atletismo. Yonas começou a treinar em seu país, como contou na entrevista à imprensa, e seguiu os treinos depois de se refugiar em Luxemburgo. Não representará nem um nem o outro país.
? Eu sempre estou motivado porque todos me motivaram até agora para me transformar num maratonista ? afirmou o atleta.
O time de atletas refugiados conta ainda com os nadadores sírios Yusra Mardini, 18, e Rami Anis, 25. Ela vive na Alemanha e ele, na Bélgica. Foram os dois primeiros a chegar à Vila dos Atletas e já treinam há uma semana no Estádio Aquático, no Parque Olímpico. Dois atletas vivem no Brasil e vão disputar categorias do judô. Yolande Mabika, 28, e Popole Misenga, 24, fugiram da República do Congo. No Rio, Popole já tem mulher e filho brasileiros.
? O Brasil é minha casa. No conflito do Congo eu perdi minha mãe, fiquei separado dos meus irmãos. Vou lutar para ganhar medalha ? disse ele.
Yolande descreveu o que vai sentir ao entrar no tatame:
? Vou pensar em quantas nações represento e na minha família. As pessoas olhavam a gente como se a gente não pudesse fazer nada na vida. Estou treinando e faltam poucos dias para lutar.
Os outros cinco atletas são do Sudão do Sul e buscaram refúgio no Quênia: Anjelina Nadai, 21, James Nyang, 28, Paulo Amotun, 24, Yiech Pur, 21 e Rose Nathike, 23. Todos são do atletismo. A maioria deles vive ou viveu em campos de refugiados no norte do Quênia. As primeiras provas em que se destacaram foram realizadas em competições escolares nesses campos.
? A vida em campos de refugiados é um desafio. Às vezes você pode ser atacada, pode ter estupro de mulheres ? relatou Rose.