Para além da frustração pelo mau resultado, o desempenho muito abaixo da expectativa do Brasil em alguns esportes pode dificultar a vida destas modalidades no próximo ciclo olímpico. Encerrada a participação brasileira na Olimpíada, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) faz um balanço dos resultados e traça o planejamento para o próximo ciclo olímpico, principalmente no tamanho da fatia a que cada confederação esportiva terá direito na redivisão do repasse de verbas feito pelo COB, que distribui os recursos arrecadados das loteiras esportivas, como determina a Lei Piva. O desempenho do Brasil na Olimpíada do Rio
Olhando para o ciclo olímpico encerrado agora, algumas modalidades que são ?carros-chefe? do esporte olímpico brasileiro podem perder terreno por não terem entregado resultado. Na preparação para o Rio-2016, atletismo, natação, judô, vela e vôlei eram as cinco grandes, na primeira faixa de repasses via Lei Piva (o quadro ao lado mostra quanto cada uma das 29 confederações esportivas recebeu do COB em 2016, último ano do ciclo). Deste grupo, natação (nenhuma medalha), vela (só uma medalha) e judô (três medalhas, menos que em Londres-2012) tiveram rendimento abaixo do esperado e podem receber menos verbas.
No ciclo para o Rio-2016, a Lei Piva rendeu cerca de R$ 700 milhões ao COB, que repassou quase a metade para as 29 confederações, fora outra parte de investimento direto nos atletas, como o salário de alguns treinadores e dinheiro para treinos fora do país. O G-5 do primeiro patamar recebeu R$ 4,9 milhões cada só em 2016.
Na redivisão do bolo para o próximo ciclo olímpico, o COB terá de incluir ainda os novos esportes que passam a integrar o programa dos Jogos de Tóquio-2020: surfe, skate, escalada esportiva, caratê e beisebol. O comitê evita citar confederações que podem perder espaço, mas reconhece que haverá mudanças de patamar:
? Esta tabela é viva, sujeita a permanente reavaliação. A meta de medalhas e resultados do COB nada mais era do que a soma das metas passadas pelas confederações. Muitas não atingiram. O problema é quando fica longe de atingir, e houve casos. Isto será levado em conta para o próximo ciclo. Cada confederação apresentou suas metas e recebeu investimento para chegar lá. No fim, é preciso entregar (resultados) ? afirmou Marcus Vinícius Freire, diretor-executivo de Esportes do COB. ? Desempenho nos Jogos não é o único critério, mas importa.
Todas as medalhas do Brasil no Rio-2016
Para pelo menos um alto dirigente do COB, a natação não mostrou um ?projeto consistente?, e a CBDA aparece como candidata a ter verbas cortadas no repasse da entidade. Do ?segundo grupo? no atual ciclo, o basquete e o handebol tiveram mau rendimento, enquanto o hipismo e, principalmente, a ginástica (três medalhas e dez finais no total) mostraram evolução e podem crescer no rateio das receitas.
Os recursos da Lei Piva não representaram a única fonte do investimento no esporte de alto rendimento do Brasil. No total, os programas Bolsa Pódio e Plano Medalha, do governo federal, a Lei de Incentivo ao Esporte e os patrocínios que cada modalidade consegue completaram os recursos para o Rio-2016.
COB FAZ PRESSÃO CONTRA O FIM DO BOLSA PÓDIO
Algumas modalidades, patrocinadas por empresas públicas, já sabem que terão suas verbas diminuídas por causa da crise econômica, como o atletismo (Caixa Econômica Federal), natação (Correios) e vôlei (Banco do Brasil).
Criado visando aos Jogos do Rio e podendo ser extinto, o Bolsa Pódio virou questão crucial para o esporte brasileiro. O COB já entrou em campanha junto ao governo federal, que ainda não deu posição definitiva.
? Eu integro o conselho do Ministério do Esporte, e já falei ao ministro (Leonardo Picciani) da importância de se manter o Bolsa Pódio ? afirmou Marcus Vinícius. ? Não acho que vai haver uma queda grande no investimento. Vale lembrar que duas fontes importantes, a Lei Piva e a Lei de Incentivo, são leis, como o nome diz, e portanto não podem ser cortadas.
Além das três medalhas que faltaram para atingir a meta do 10º lugar no quadro geral ? terminou em 12º, com 19 pódios, empatado com a Holanda ?, o Brasil teve um dos menores crescimentos de um país-sede nos Jogos, se comparado com as nações que fizeram edições anteriores. Ainda assim, o balanço do COB foi positivo para o esporte brasileiro.
? A meta era difícil e ousada. Saltar de 17º para o 10ª lugar era factível, tanto que ficamos apenas três medalhas abaixo. A diferença dos outros países é que estão há vários quadriênios investimento. Nós começamos há pouco tempo, precisamos de mais ciclos com essa forma de financiamento para continuarmos crescendo ? analisou Freire.
Sem se apegar tanto aos números não alcançados no Rio, o COB preferiu destacar outros. Como a maior presença no pódio em diferentes modalidades.
?Nossa meta também era aumentar a abrangência do esporte brasileiro, fazer top 10 em várias modalidades. Conseguimos medalhas em 12 modalidades diferentes e fomos o sétimo país que mais conquistou pódios em esportes distintos ? conta o diretor-executivo, que aponta outro dado favorável ao Brasil. ? Em Londres, fizemos 36 finais, no Rio, foram 71. Tivemos ainda 19 equipes ou atletas que terminaram em quarto ou quinto lugares. Isso mostra a qualidade do trabalho independentemente das medalhas.
O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, rechaçou as comparações com outros países-sede e fez questão de lembrar que há exemplos que não deram continuidade ao desenvolvimento esportivo. O Brasil não será um deles:
? A Espanha caiu desde Barcelona. Nós temos um trabalho junto com as confederações que a partir daqui vai poder desenvolver e melhorar mais.