Harmonia e festividade. Esse foi o tom da festa que reuniu as cultura alemã e
brasileira na Casa da Alemanha, no Leblon, para onde milhares de pessoas foram
na noite deste sábado assistir à final de futebol masculino entre os dois
países. O fair play predominou durante quase todo o jogo,
mas, na hora dos pênaltis, o espírito competitivo do brasileiro falou mais alto.
Cada gol era comemorado com gritos e palmas. Já os pênaltis de jogadores alemães
eram precedidos do refrão ?uh, vai perder!”. E foi assim até a Alemanha
efetivamente perder. Quando isso aconteceu, ganhou coro o bordão ?é
campeão!”.
? O time se redimiu um pouco pela Copa do Mundo ? avaliou a estudante Thais Tizzo, de 23
anos. ? Eu assisti ao jogo do 7 a 1 no Leme, com os alemães. Hoje, trouxe até as
bandeiras que eles me deram lá para descarregar todo o azar delas com a nossa
vitória.
De acordo com um funcionário da casa, havia muito mais que quatro mil
convidados no local.
? Esse é o número que estava dando em dias normais de evento. Hoje está muito
mais cheio, então não tem nem comparação ? disse um segurança, que não quis se
identificar.
O clima de festa só aumentou após a vitória, com o público cantando a
indefectível ?sou brasileiro, com muito orgulho e muito amooor…”
Quem agradeceu foram os comerciantes, tanto os oficiais quanto os
extraoficiais que trabalharam no evento. Gustavo Santos, sócio da Adega do
Pimenta, afirma que o movimento foi tão intenso que não teve como avaliar quanto
produto saiu.
? Não tive tempo de ir checar o estoque ? conta ele. ? Tivemos que montar uma
verdadeira operação para controlar as filas. Tenho quatro pessoas só fazendo
isso. Organização alemã.
Segundo ele, o movimento só não foi maior porque as comidas alemãs dividiram
a atenção dos comensais com a tensa partida de futebol.
A MALANDRAGEM NAS VENDAS
Nas areias do Leblon, os comerciantes informais também fizeram a festa. Um
deles é Carlos Eduardo Souza, de 33 anos, que alternava as vendas de balas e
chicletes com olhadelas para o telão:
? Estou vendendo bem. Às vezes, dá sorte de aparecer um estrangeiro, e
consigo vender mais caro.
Ao longo da noite, a predominância brasileira foi total. Conforme o jogo foi
ganhando contornos dramáticos, cada vez menos brasileiros e alemães se mostravam
dispostos a conversar. Um dos poucos que permaneceram intocados pela tensão foi
o estudante Breno Nascimento, 18 anos. Ele e seus amigos trocaram a partida pela
mesa de pingue-pongue instalada na casa.
? Estava prestando atenção até ficar um a um. Aí, desanimei. O futebol
brasileiro não está mesmo passando por uma fase boa. Assistir aos jogos não tem
me agradado muito.
Apesar disso, o morador de Pedra do Guaratiba, na Zona Oeste, disse que
gostou do passeio.
? Valeu a pena pegar BRT e ônibus para chegar aqui. Foi muito divertido ?
disse.
A brasileira de origem alemã Cláudia Schmidt, de 32 anos, que decidiu ir à casa para
levar parentes que vieram para os Jogos, preferiu não dar sua opinião:
? Não torci para o Brasil nem para a Alemanha. O que fiz foi torcer para
nenhum dos dois perder ? ponderou Cláudia, política.
O alemão Schumann Druno, de 23 anos, assistiu ao jogo usando a
bandeira de seu país como capa. Druno, porém,
não é o alemão típico: um de seus sobrenomes é Carvalho.
? Minha mãe e eu nascemos em Berlim, mas meu pai é brasileiro. Venho aqui
umas duas ou três vezes ao ano. Não tinha como perder a Olimpíada.
Apesar da conexão com o país, Druno não fala
português. Segundo ele, seu pai tentou ensinar, mas não conseguiu. O alemão
disse não se incomodar com a presença esmagadora de brasileiros na Casa da
Alemanha:
? Acho que os alemães devem ter preferido ver no estádio. Eu tentei comprar
ingresso, mas não deu.