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Campeã de kitesurf alertou bombeiros após ver, da varanda, prancha de surfista morto no Rio

A prancha de Lucas Zuch, surfista de 27 anos que faleceu no sábado após um acidente na praia da Barra da Tijuca, foi identificada no mar por Milla Ferreira, carioca campeã mundial de kitesurf em 2016. Milla estava na varanda de seu apartamento na última terça-feira, na altura do Posto 2 da praia da Barra, quando viu o objeto boiando a cerca de 250 metros da areia.

Desconfiada da prancha abandonada, a kitesurfista passou a gritar da janela, tentando alertar os bombeiros do 2º Grupamento Marítimo (GMAR), unidade localizada no Postinho. Segundo ela, uma pessoa que estava na areia ouviu seus apelos antes dos bombeiros e chamou um salva-vidas. Embora o mar não estivesse violento para o surfe, com vento fraco e ondas de 1 metro, Milla lembra que a corrente e a distância da prancha até a areia tornavam muito difícil um acesso a nado.

? Eu tinha um compromisso e desmarquei não sei porque. Quando cheguei em casa e fui para a varanda, vi a prancha. A gente sabe que não é normal uma prancha boiando tão longe da areia e sem ninguém por perto. Comecei a gritar e até tentei ligar para o GMAR, mas o telefone que encontrei no Google aparecia como inexistente ? conta Milla.

? Depois de uns cinco minutos, vi alguém aparecer no pátio do GMAR e gritei novamente. Eles foram até a prancha de jet-ski e acharam o Lucas por perto, já afundado. Levou pelo menos 10 minutos entre o momento que eu vi a prancha e os bombeiros chegarem com ele na areia. Conseguiram reanimá-lo e a ambulância levou mais ou menos outros 10 minutos para chegar. Se eu não tivesso visto, o Lucas ia desaparecer no mar ? lembra a kitesurfista.

SURFISTA DIVULGAVA O ESPORTE

Lucas se acidentou quando surfava sozinho na praia da Barra, e foi levado para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, onde ficou até sexta-feira. De lá foi transferido para a Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio. O surfista teve detectado um traumatismo craniano, possivelmente causado por um impacto com a prancha ou com algum banco de areia.

No sábado, a família foi informada que Lucas tinha um quadro irreversível devido a lesões cerebrais. O corpo foi transferido para Porto Alegre no domingo, e o velório deve ocorrer ainda no início desta semana, depois que for concluído o processo de doação de órgãos.

Lucas era o idealizador e um dos sócios do site Surfari, dedicado a difundir o estilo de vida do surfe e mostrar ensinamentos trazidos pelo esporte. Ele havia concluído, no fim de 2016, as gravações do projeto ?Reconhecendo o surfe?. Ao lado de Eduardo Linhares, um dos seus sócios no Surfari, Lucas viajou por todo o litoral brasileiro para mapear o surfe no país e traçar um perfil dos praticantes do esporte.

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O projeto começou a ser divulgado no Surfari em setembro, e a previsão é de que continuam sendo publicados até abril. O último que foi ao ar, no início de março, mostrava a prática do surfe no Norte fluminense. De acordo com Andreia Sabino, também sócia do Surfari, a edição do material já estava bastante adiantada, e Lucas procurava formas de usá-lo para incentivar o esporte.

? Duda (Eduardo Linhares) e o Lucas tinham se mudado para o Rio em janeiro, para que ficassem mais próximos às principais marcas e à cultura do surfe. Eles queriam apresentar o projeto para empresas e esportistas, para ajudar a pensar o surfe nacionalmente ? disse Andreia.

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O Surfari, segundo Andreia, surgiu a partir do TCC de Lucas na faculdade de Administração, em 2010, quando morava em Porto Alegre. A tentativa de traçar um perfil do surfista brasileiro, que serviu de base para o ?Reconhecendo o Surfe?, originou projetos paralelos no Surfari. Um deles foi o Surfest, campeonato realizado em fevereiro de 2016 na praia de Atlântida (RS) com a ideia de ser um espaço de integração, e não puramente competitivo. Havia categorias como surfe com fantasia e também de fotografia.

? O Lucas uniu um know-how de pesquisa, uma facilidade incrível para escrever, com a paixão pelo surfe ? comenta Andreia. ? A ideia dele era que o surfe fazia as pessoas serem melhores. Ele queria viver este sonho. E foi o sonho que o levou embora.