MONTEVIDÉU – Nas contas da comissão técnica, a seleção precisava de um ponto para garantir vaga na Copa do Mundo até o fim das eliminatórias. Veio mais do que isso na goleada de 4 a 1, de virada, sobre o Uruguai, em Montevidéu. Se a matemática de Tite e companhia estiver certa, o Brasil irá à Rússia. Mas ainda é uma equipe em construção, como diz o técnico. A cada jogo, descobre uma solução para um problema que surge.
Ontem, no Estádio Centenário lotado, saiu atrás do placar pela primeira vez nesses sete jogos da Era Tite. Soube manter a posse de bola, seguir seu padrão de jogo até chegar ao empate. Nem mesmo um gol nascido de uma falha individual tirou a equipe do rumo.
Com a vitória, Tite chegou ao sétimo triunfo seguido em eliminatórias e passou a ser o recordista isolado entre os treinadores nacionais, ultrapassando João Saldanha (1969). Foi a primeira derrota do Uruguai no Centenário em 28 jogos. A última vez que o Uruguai perdeu em casa foi em 14 de outubro de 2009, 1 a 0, gol de Mario Bolatti para a Argentina. E o Brasil voltou a vencer no estádio, o que não ocorria desde 2010.
Se a defesa mostrava hesitação em alguns lances, a proteção à frente da zaga compensou e deu segurança nos momentos de maior pressão, colaborando para o equilíbrio. Na frente, quando a marcação bloqueava os atacantes, Paulinho veio de trás para encontrar a saída duas vezes.
O jogo começou exatamente como o técnico Tite previu, com o Uruguai marcando próximo à área da seleção, numa tentativa de manter o seu estilo de jogo ofensivo. De seis jogos, o Uruguai marcou pelo menos um gol no primeiro tempo. O treinador testou durante a semana alternativas para aliviar a pressão. Disse na véspera que não iria recuar e esperar. O padrão a ser mantido era mais importante. E o Brasil procurou seguir o jogo proposto por Tite. A fazer a bola rodar, tentava manter a posse e marcar a saída do rival. Com o Uruguai todo em seu campo, foi achar um atalho para sair do sufoco com Neymar, que carregou, sem ter combate, até rolar para Philippe Coutinho cruzar da esquerda. A bola passou pela área, ninguém alcançou.
A melhor defesa das eliminatórias esteve um pouco desatenta, perdendo a segunda bola e correndo o risco de rebotes em frente à área. Em um chute de longe após uma sobra, quase o Uruguai abre o placar. Logo depois, a desatenção ficou evidente quando Marcelo tentou atrasar de peito para Alisson, mas o toque saiu fraco e Cavani se antecipou. Alisson fez o pênalti no atacante, que bateu, aos oito minutos, para abrir o placar.
Era a primeira vez, na Era Tite, que a seleção saía em desvantagem no placar. Não se desarrumou. Pelo contrário. Melhor posicionado nos próximos dez minutos a partir do gol, o Brasil passaria a controlar as ações e buscar espaço onde o Uruguai era mais vulnerável na marcação, pelo meio, subindo ao ataque com os dez jogadores.
O Uruguai estava pressionado. Naquela mesma faixa de campo na qual Neymar carregou a bola sem ser incomodado. Foi ali que o camisa 10 achou Paulinho, que pôde conduzir até soltar a bomba e empatar o jogo, aos 18. Um chute apenas, um gol.
O domínio foi intermitente. Mas sem conseguir transformar a maior posse de bola em chances de gol, a seleção soube sofrer, como imaginou Tite. O Uruguai chutava mais. E levava perigo na bola parada, com cruzamentos seguidos que quase terminaram em cabeçadas fatais. A seleção sofreu, mas garantiu o empate no primeiro tempo eletrizante.
Sem mudar, o Brasil voltou diferente na postura ofensiva. Sumido no primeiro tempo, preso na marcação, Firmino foi pro jogo. Logo aos sete minutos, ele girou na entrada da área e chutou. Martín Silva ofereceu o rebote e Paulinho concluiu para fazer 2 a 1.
TABU MANTIDO CONTRA TABÁREZ
O jogo aberto fez os goleiros trabalharem. Tanto Martín Silva quanto Alisson tiveram participações importantes ao defenderem cobranças de faltas de Neymar e Cavani, respectivamente.
Neymar, aberto na esquerda, conduzia para o meio em arrancadas que, invariavelmente, terminavam em faltas, com a sua camisa 10 sendo puxada pelos uruguaios. Em uma delas, ele rolou para o meio e Marcelo chutou por cima.
E o terceiro gol sairia dos pés dele. E foi um golaço. Para quem nunca havia feito gol contra o Uruguai, o de ontem foi de placa. Aos 29, ele recebeu, invadiu a área e deu um toque de classe para encobrir Martín Silva.
A valente torcida brasileira que ocupava pequena parte do Centenário passou a gritar “O campeão voltou”. Desolados, os uruguaios viam cair a sua longa invencibilidade e também assistiam ao Brasil disparar na tabela e transformar a vitória em goleada. Aos 47, de peito, Paulinho fez o terceiro dele no jogo.
No duelo dos técnicos, Tite levou a melhor e manteve a seleção em alta, numa situação confortável demais para enfrentar o Paraguai em São Paulo, na terça-feira. A Oscar Tabárez, a marca de 168 jogos no comando do Uruguai, um recorde mundial, serviu de consolo. Mas, nesse tempo todo, ele jamais venceu o Brasil. Imagens de Uruguai 1 x 4 Brasil