Após um primeiro tempo que reproduzia os melhores sonhos de cada torcedor alvinegro, os aplausos ao final do jogo, um tanto tímidos, eram o sinal claro de que algo mudara. Tudo começou com o mosaico ?Lutem por nós? na entrada em campo, passou pelos dois gols do primeiro tempo e acabou com um Engenhão apinhado de gente vendo a estreia do Botafogo na Libertadores terminar num apertado 2 a 1. Houve motivos para imaginar uma vantagem confortável para o jogo de Santiago, até a saída de Aírton, no intervalo, provocar uma reação em cadeia que fez o time desmoronar. O empate no Chile, na próxima quarta-feira, servirá para o Botafogo seguir no torneio. Duro será esperar uma semana.
Figuraças do Fogão: Mick Jagger e outros na estreia da Libertadores
Não é fácil fazer o que fez este Botafogo, com assinatura de Jair Ventura: mudar características dos jogadores a partir da chegada de reforços, adaptar a forma de jogar do time, mas sem perder a identidade que caracterizou o alvinegro desde a última temporada. Ficaram intactas a ideia central de jogo e o perfil do time. O Botafogo era absolutamente reconhecível diante de um ColoColo com estilo consolidado. O desafio era enorme e foi vencido.
Ao acrescentar Montillo, grande reforço da temporada, a um time que já tinha Camillo e um centroavante, o também contratado Roger, havia um risco de desmontar a estrutura de um Botafogo forte na marcação e especializado em transições rápidas. Pois o primeiro tempo mostrou que quase nada fora perdido. Aírton seguia como o volante central à frente da zaga e a marcação forte pelos lados do campo era sustentada por Bruno Silva na direita e Rodrigo Pimpão na esquerda. Cabia a Camilo um esforço notável: juntava-se a Montillo como um dos dois meias por trás de Roger e, sem a bola, recompor as duas linhas de quatro marcadores, posicionando-se ao junto a Aírton na frente da defesa. O Botafogo funcionou após dez minutos naturalmente tensos, em que a troca de passes afinada dos chilenos ameaçava ditar o ritmo.
A apreensão durou até os traços mais marcantes deste Botafogo entrarem em campo. A pressão dos homens de frente, numa disciplina elogiável, tirava o conforto do Colo-Colo, que queria atravessar o campo trocando passes. A marcação forte é a cara deste Botafogo, assim como é a cara deste time de Jair Ventura a presença dos volntes nas ações ofensivas. Foi assim que Aírton acertou o chute que abriu o placar. Também é a cara do Botafogo a solução rápida das jogadas de ataque, a rapidez, usada por Rodrigo Pimpão para conduzir a bola e dar a Montillo a chance de finalizar, no lance que terminou em gol contra de Pavez.
Mas as circunstâncias foram cruéis com o Botafogo. Se há um departamento que é o pilar deste time, trata-se do composto pelos volantes. E Aírton, obrigado a cobrir imensa porção de campo ontem, função que cumpria à perfeição, saiu machucado no intervalo, com problemas no cotovelo. Golpe dificílimo de assimilar.
Jair Ventura há de saber, internamente, as razões que o levaram, dois dias antes do jogo com o Colo-Colo, a não inscrever Rodrigo Lindoso no torneio. De repente, foi como se o treinador se visse curto de opções. O especialista da função disponível no banco era o jovem Matheus Fernandes, talvez preterido por causa da idade. O treinador decidiu usar João Paulo, um meio-campista com um pouco mais de saída, ainda em suas primeiras semanas de Botafogo. Colocou-o pelo lado direito, onde estava Bruno Silva, deslocado para o meio, onde faria a função de Aírton. Aconteceu algo que vitima qualquer time: o Botafogo perdeu a estrutura, desmoronou, perdeu presença em campo.
Para piorar, perdeu a confiança quando Paredes, de um ângulo um tanto improvável, marcou o gol do Colo-Colo. Ainda havia 40 minutos de jogo pela frente e a disputa física pelo meio-campo parecia perdida. Os chilenos eram donos da bola e da ocupação do espaço. Restaria ao Botafogo tentar posses de bola mais longas, mais trocas de passes. Mas não é para este tipo de jogo que o alvinegro foi programado. O jogo, que era uma alegre celebração no primeiro tempo, virara uma agonia em que o andar do relógio, por mais que o 2 a 1 não fosse um resultado que dê garantias para a partida de Santiago, já parecia lento demais. Ainda que, embora tivesse perdido o controle do campo, o Botafogo tivesse concedido poucas chances reais ao rival. A questão é que sofrer outro gol seria desastroso.
Aos poucos, o esforço de recompor como mais um volante e a tentativa de se juntar a Montillo e Roger na frente consumiu Camilo. Restou a Jair apostar em Matheus Fernandes, depois em Joel, tentando alguma agressividade. A esta altura, o Engenhão era um estádio tenso.
Em Curitiba, o Atlético-PR, com um gol de Grafite, venceu o Millonarios, da Colômbia, por 1 a 0, e garantiu vantagem no jogo de volta, em Bogotá.