Foram apenas seis dias de folga após a apoteose no Maracanãzinho. Campeão dos Jogos do Rio, ao lado do filho, o levantador Bruno, com a família e amigos na plateia, e a torcida inteira a favor num templo do vôlei, o técnico Bernardinho logo voltou a trabalhar no time feminino do Rexona/Sesc, no Rio. Sem tempo para o vazio, para a tal ?depressão olímpica?, ele ganhou mais um estadual, o 13º seguido do clube, ontem, ao derrotar o Fluminense por 3 a 1 (23/25, 25/13, 25/21 e 25/) e agora prepara a equipe para a Superliga, que deve começar dia 27 de outubro.
Sua equipe busca o 12º título do torneio mais importante do país, que nesta temporada contará com dez estrangeiras, sendo a holandesa Anne Buijs o maior reforço no Rexona. E, desta vez, a cidade do Rio terá mais uma equipe: o Fluminense, que venceu seletiva para chegar à elite.
A equipe das Laranjeiras, com a campeã olímpica em Pequim-2008 Sassá, a oposta Renatinha e a ponteira Jú Costa, é treinada por Hylmer Dias, ex-auxiliar de Bernardinho. E promete fazer bonito na Superliga. Ontem, venceu o Estadual justamente em cima do Rexona, por 3 a 2 (25/23, 13/25, 21/25, 25/20 e 16/14), interrompendo uma séria de 12 títulos seguidos do novo rival.
? Há 45 anos, comecei a jogar vôlei no Fluminense. Foi muito bacana voltar às Laranjeiras no Estadual, lembrar do início de tudo. Mais bacana ainda é ver o clube de volta à Superliga. É nosso rival e parceiro ? revela Bernardinho, que ?compartilhava? com o Fluminense jogadoras novas, para que elas pudessem atuar nas categorias de base, já que o Rexona só tem time adulto e escolinhas.Bernardinho
Desde a temporada 2012/2013, quando o Macaé deixou a Superliga, o Rexona é o único representante do Rio na competição. O recorde de equipes cariocas na elite do vôlei aconteceu em 1983, com Supergasbras, Fluminense, Flamengo e Botafogo; em 1989/1990, com Supergasbras, Lufkin, Atlântictur e Flamengo; e 2000/2001, com Flamengo, Vasco, Força Olímpica e Macaé.
Bernardinho sente frio na espinha ao lembrar de 2000/2001, quando os últimos clubes de futebol voltaram. Frisa que os tempos eram outros, mas afirma que Vasco e Flamengo, à época, não fizeram bem à modalidade.
? Era véspera de Sydney-2000, e Vasco e Flamengo resolveram ter times. O clássico projeto Eurico Miranda inflacionou o mercado de maneira absurda e, depois, saíram. Chamo de ?inflação de promessa?. Posso prometer salário de R$ 1 milhão. Legal, mas não pago. Até hoje o Vasco deve metade do salário da Fernanda Venturini. Muitas não receberam ou ficaram anos na Justiça ? conta. ? Fizeram mal ao vôlei. Flamengo e Vasco são clubes incríveis, que hoje têm gestores competentes. Mas, à época, além da questão dos salários, trouxeram a violência dos estádios. Na final entre Flamengo e Vasco, teve até tiro na porta do ginásio.
FUTURO NA SELEÇÃO
A experiência passada, no entanto, não significa que a chegada do Fluminense não seja bem-vinda.
? Mas é preciso saber que, aqui, não há espaço para loucuras nem violência ? pondera o treinador. ? Naquele momento não foi bom.
Ainda animado com os Jogos do Rio, Bernardinho destaca os efeitos de sediar a competição e a importância de manter o projeto olímpico:
? Mesmo que o Sesc, que se uniu ao nosso projeto, e Fluminense já estivessem estruturados para o vôlei antes da Olimpíada, de certa forma, estão participando de um legado. E temos de continuar. Nossa missão é ser uma Grã-Bretanha e não uma Grécia. Ao menos agora o Brasil tem meta. Antes, nem isso. Era na base do ?vamos lá ver no que dá?. O Time Brasil não pode morrer.
Mas, quando perguntado sobre seu futuro no Time Brasil, ele se esquiva. O treinador ? à frente do projeto do Rexona há 20 anos e há 23 com as seleções brasileiras (sendo sete anos no feminino) ? explica que ainda não conseguiu decidir e que precisa de calma. A pressão da família e dos vários negócios pesam de um lado, mas a paixão pelo que faz puxa para o outro. É um dilema duro.
? Não me cobro para ter uma definição imediatamente. E não tenho uma data limite, pedida pela Confederação Brasileira de Vôlei. Mas também não deixei de trabalhar. Continuo trabalhando com a seleção. E falei para os jogadores que o novo ciclo já começou e que será mais difícil ? comenta Bernardinho, que não descarta cargo de coordenação. ? O vôlei precisa voltar a investir na base, com projetos de desenvolvimento sólidos. A gente está perdendo espaço se comparar com o que há lá fora.
PROTAGONISMO DE GABI
Antes da Superliga, o Rio disputará o Mundial de Clubes, a partir de 17 de outubro, em Manila, nas Filipinas. Além do Rexona (campeão da América do Sul) e do time da casa, Philippine Superliga, o torneio conta com Bangkok Glass (Tailândia, campeão asiático), Pomi Casalmaggiore (Itália, campeão europeu), e quatro convidados: os turcos Eczacibasi Istanbul (que tem Thaísa), o VakifBank Istanbul (com a chinesa Ting Zhu, MVP do Rio-2016), o japonês Hisamitsu Springs e o suíço Volero (da levantadora Fabíola). ‘Falei para seguir em frente’, diz Bernardinho a Isaquias Queiroz
? Os dois times turcos são verdadeiras seleções. Se jogarem a Olimpíada, ganham. E o nosso time é bom nacionalmente falando. Para nós, esse Mundial não é factível ? reconhece o técnico. ? Então, vamos com uma tática suicida e, se der certo, podemos estourar no colo de alguém, tipo kamikaze. Se não, vamos perder, como perderíamos de qualquer maneira.
Mas, na Superliga, a história é outra. Mesmo que aponte o Praia Clube como o mais forte, seu time entra para chegar à final. O Uberlândia, vice-campeão, renovou com a equipe titular, incluindo a americana Alexandra Klineman, maior pontuadora de 2015/2016, e contratou a bicampeã olímpica Fabiana.
? O Praia sentiu o gosto quando chegou na decisão e, agora, investiu para ganhar. É superior a todos ? elogia Bernardinho, que esse ano perdeu Natália (foi para o Fenerbahçe, da Turquia), mas trouxe a holandesa Anne Buijs e ?promoveu? Gabi. ? Lá atrás a ideia era que ela se tornasse titular, importante e efetiva na seleção. Agora, é ser protagonista e liderar aqui dentro.