Esportes

Após ciclo de crescimento, confederações perdem quase 15% de verba federal

A Olimpíada não deixou legado econômico para as 27 confederações de verão do Brasil. Menos de um ano após os Jogos, as entidades perderam quase 15% da verba da Lei Agnelo/Piva, que é repassada de acordo com as novas regras de meritocracia pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O valor previsto para este ano, proveniente da arrecadação das loterias federais ? que sofrem com a redução de apostas ? é de R$ 80,4 milhões, R$ 13 milhões a menos que em 2016 (R$ 93,8 milhões).

Se for considerada a perda da inflação, de quase 40%, a quantia de 2017 é menor que a de 2012 (R$ 59,3 milhões), ano dos Jogos de Londres. O valor total corrigido pelo IPCA indica que o repasse para este ano teria que ser de R$ 83,4 milhões se quisesse acompanhar a inflação do período.

Dentro do último ciclo, o aumento foi de 30% dos valores repassados de 2013 (R$ 64,9 milhões) a 2016 (R$ 93,8 milhões). O maior investimento foi justificado pela necessidade da participação do Brasil, como sede, em todas as modalidades, inclusive em esportes que tiveram pela primeira vez a presença de brasileiros, como golfe, rúgbi, hóquei sobre grama, badminton e ginástica de trampolim.

O corte não afeta só as estreantes. Confederações tradicionais, como desportos aquáticos, atletismo, hipismo, handebol e tênis de mesa tiveram perda real de cerca de 20% em relação a 2012.

Info – COB legado em crise

INTERVENÇÃO NO TAEKWONDO

O handebol, que conquistou o mundial feminino da categoria em 2014, foi um dos que mais perderam (22%). Na comparação com o ano passado, a queda foi de 20%. Isso porque houve um fator de correção do COB, que limitou a redução de todas as confederações a esse percentual ? com exceção do taekwondo, que aparece com corte de 25%, pois a confederação sofre intervenção da justiça desde o ano passado.

? Vai ter perda, vai afetar, mas não adianta chorar pelo leite derramado. Apesar da nossa avaliação extremamente positiva dos Jogos, não ganhamos medalhas, e perdemos verbas. De qualquer forma, se tivéssemos recebido em 2017 o mesmo do ano passado, já não seria o suficiente. Vamos fazer de tudo para não afetar o esporte e participar de todos as competições. Vamos cortar onde tiver menos influência no resultado ? disse o presidente da confederação, Manoel Luiz, acrescentando que a entidade ainda pleiteia verba do fundo do esporte para a contratação de novos técnicos.

A nova fórmula de repasse da verba criada pelo COB teria como objetivo contemplar as confederações que atingiram melhor resultado no ciclo. Porém, as modalidades que ganharam medalhas tiveram investimento reduzido, de 6% a 25%: atletismo, boxe, canoagem, desportos aquáticos, ginástica, judô, taekwondo, tiro, vela e vôlei.

?Todas as confederações sofreram reduções, e como consequência fomos obrigados a realizar alguns ajustes para não comprometer o orçamento. Renegociamos todos os contratos existentes e diminuímos custos administrativos. Reformulamos a previsão de despesas com competição, priorizando as classes que temos os melhores resultados, bem como os investimentos na vela jovem?, diz a nota da CBVela.

CRITÉRIO CONTESTADO

O novo critério não teve unanimidade entre as confederações.

? Acredito que o critério usado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) não foi o mais coerente, uma vez que se olhou mais para trás do que para a frente. O nosso planejamento estratégico que está em vigor previa cinco cenários para este ano, desde o mais pessimista ao mais otimista. Porém, mesmo com todo esse preparo, ainda vamos ter de nos adaptar bastante, pois os montantes previstos hoje são menores que os do cenário mais pessimista. Procuramos alterar pouquíssimo a agenda do Hugo Calderano e Bruna Takahashi, duas promessas de medalha em Tóquio. Mas tivemos um corte na comissão multidisciplinar ? afirmou o presidente da CBTM (do tênis de mesa), Alaor Azevedo.

O golfe e o rúgbi, por exemplo, tiveram mais de 100% de aumento nos repasses em relação a 2012, porque foram estreantes na Rio-2016. Na nova redistribuição, os dois esportes, que tiveram resultados inexpressivos, foram dos poucos que sofreram perda pequena. O golfe, porém, terá que usar recursos próprios.

?Houve uma readequação de alguns projetos, deixando algumas despesas para recursos próprios. Por ora, o calendário nacional e a participação de atletas brasileiros em campeonatos no exterior não sofreram alterações. Não acreditamos que a redução possa afetar o próximo ciclo olímpico? respondeu em nota a confederação de golfe.

OUTRAS FONTES DE RENDA

A distribuição de repasses feita pelo COB depende do valor arrecadado pela Lei das Loterias. Segundo o órgão, a verba total e os valores distribuídos diminuíram porque o arrecadado com as apostas também caiu. A Lei Agnelo/Piva destina 1,7% do prêmio pago aos apostadores de todas as loterias federais do país ao COB, e R$ 85 milhões são reservados para aplicação nas confederações, incluindo as duas de inverno, segundo a entidade, que assegura o ?investimento de outros R$ 41 milhões em projetos alinhados ao planejamento estratégico de preparação de atletas e equipes para os Jogos Olímpicos Tóquio-2020?.

Em nota, o Ministério do Esporte ressaltou, ainda, ?que as confederações possuem ainda outras fontes de recursos além da Lei Agnelo/Piva, como a Lei Pelé, patrocínio das estatais, Lei de Incentivo ao Esporte e os termos de fomento do Ministério do Esporte?.