Em 2014, quando voltou à Libertadores depois de 18 anos, o Botafogo estreou na fase de grupos com uma baita vitória, imponente, por 2 a 0 contra outro time argentino, o San Lorenzo, em um Maracanã quase lotado, que viu uma torcida sair esperançosa com o futuro do time na competição. Semanas depois, o time sofreu uma derrota acachapante contra o time do Papa, em Buenos Aires, que provou por 3 a 0 que aquele time liderado por Jorge Wagner não tinha mesmo condição nenhuma de chegar a lugar algum. Meses depois, o San Lorenzo foi o campeão daquela Copa.
A vitória no Maracanã em 2014 foi mais tranquila, mais dominante e mais empolgante do que a de ontem, quando o Botafogo, competentemente, cortou um dobrado para fazer o dever de casa contra o Estudiantes, com o perdão do trocadilho, que é correto, afinal, vencer em casa é condição número um para avançar no torneio. O time de 2014, no papel, comparando jogador por jogador, pode ser até melhor, dependendo da análise, do que o atual. Na prática, era bem pior.
Todo o devaneio e as comparações servem para mostrar o quão difícil é entender a Libertadores e o que realmente está acontecendo com os times que ela disputam. O Botafogo, até agora, tem talvez a melhor história da competição e talvez o melhor jogador até aqui: Rodrigo Pimpão, três gols decisivos, talvez dispute o apressado posto com Chumacero, do The Strongest, um volante que marcou gols em todos os cinco jogos do time até aqui. Mas se há um boliviano cogitado como craque é o recado claro, que vem junto com o calendário, que muita coisa ainda vai rolar. Acreditar na falácia de que os brasileiros vão dominar a competição como fazem neste começo (nenhum clube brasileiro perdeu na primeira rodada) é a primeira cilada a se cair na análise. A competição é longa, os times gringos vão evoluir, e o torneio tende a ser até mais difícil do que nos últimos anos, quando os brasileiros fracassaram de forma retumbante.
O burburinho que se nota, até vindo de torcedores rivais, de que o Botafogo talvez faça boa campanha nessa Libertadores, empolga e assusta o calejado botafoguense. Até aqui, por eliminar Colo-Colo e Olimpia, por vencer o Estudiantes, gigantes do futebol sul-americano que somam, juntos, oito títulos do torneio, o torcedor do Botafogo surfa no otimismo que vem quando o time joga grandes jogos, enche estádio, vive boa fase, coisa que não ocorria há três anos em General Severiano. Mas, no pacote, vem também a sina do pessimismo alvinegro: o terror de, hora ou outra, a vaca seguir sua tendência doentia de voltar sempre para o mesmo brejo, de onde só parece sair com muito esforço, feito o time do Brasileirão do ano passado. Até porque, saindo do campo místico, os adversários do grupo são muito difíceis.
As certezas são raras no futebol, quase inexistentes na Libertadores, mas o Botafogo vem lapidando algumas ao longo da campanha: contra o Colo-Colo provou que Jair Ventura não é uma aposta irresponsável feito era Eduardo Húngaro, que é realmente bom técnico que conseguiu montar um bom time tendo perdido quase todos os titulares do ano passado. Contra o Olimpia, mostrou que Marcelo é uma baita descoberta, que Pimpão vive grande fase e que o imponderável, que tem uma relação bem ruim com o clube ao longo da história, parece estar do lado desta vez, ao menos por enquanto. Contra o Estudiantes veio a certeza de que é um time com muita vontade de vencer, e que Sassá não é um caso perdido.
Daqui para frente, não há mais convicções. Há um tortuoso e deliciosos caminho de dúvidas, emoções, grandes jogos, unhas roídas, coração acelerado. Ou seja, há uma grande competição em que o time tem chance de fazer bonito para disputar. E o torcedor do Botafogo merece, e tem o dever, de desfrutar.