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Acusações de propina podem inviabilizar compra do Maracanã

65614004_ESP Rio de Janeiro RJ 07-03-2017 Treino do Flamengo no Maracanã antes do jogo de estreia n.jpg

A possibilidade de irregularidades na licitação do Maracanã virem à tona com as delações premiadas de executivos da Odebrecht na Operação Lava-Jato deve inviabilizar a venda da administração do estádio. GL Events e Lagardère, as duas empresas interessadas, temem que revelações provoquem a anulação do processo licitatório, que ocorreu em 2013. Como as companhias pretendem comprar a concessionária Maracanã S.A, herdando a concessão, o receio é de que, após o investimento de R$ 60 milhões, o dinheiro seja perdido em função do cancelamento do atual contrato vencido então pelo grupo formado pela IMX, de Eike Batista, pela Odebrecht e pela AEG. Como a Odebrecht não tem como garantir que a licitação não será citada na Lava-Jato, as negociações pararam. Agora, as duas empresas esperam que uma nova licitação, essa com direito à sociedade direta com os clubes, seja executada. Fontes do governo acreditam que, mesmo lenta, essa seja a opção mais segura para o Maracanã não voltar para o estado.

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Maracanã – 15.03

A preocupação das duas empresas tem fundamentação. O frágil edital em vigor sempre carregou suspeita de carta marcada. Em 2013, a Justiça chegou a suspender o processo mais de uma vez sob o argumento de favorecimento à empresa de Eike Batista, hoje preso em Bangu 9. A IMX foi responsável pelo estudo de viabilidade econômica, base do modelo de gestão que seria aplicado no estádio. A empresa, que fazia parte do consórcio Maracanã S.A., foi a vencedora do processo.

Reuniões que aconteciam numa sala ?secreta? que pertencia à Odebrecht, na Barra, apontam que Flávio Godinho, então diretor da IMX e ex-vice-presidente de futebol do Flamengo, também preso preventivamente pela Operação Calicute ? braço da Lava-Jato no Rio ?, negociou a compra desta licitação em diversas reuniões. Elas teriam contado com a presença de representantes da Odebrecht, com o então governador Sérgio Cabral, muito próximo a Eike, na época secretário da Casa Civil, Régis Fichtner (até agora sem citações na Lava- Jato), o ex-secretário de obras Hudson Braga e o ex-secretário de Governo Wilson Carlos, ambos presos. Nessas reuniões,, teria ficado acertado, em troca de propina, que o Maracanã pertenceria ao grupo de Eike. Com a falência da IMX, a Odebrecht comprou a parte da empresa no consócio, no qual já era majoritária.

Se isso for de fato provado, qualquer um pode anular o atual contrato, e a empresa que o assumir ficaria sem o direito de administrar o estádio. Eike e Cabral estão presos preventivamente pelo envolvimentos num esquema milionário que também envolve a reforma do Maracanã. E, segundo a coluna de Lauro Jardim, no GLOBO, adiantou, Eike também teria pagado propina de R$ 1 milhão pela administração do Maracanã ao escritório de Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama, mais uma em prisão preventiva em Bangu.

Além disso, o Tribunal de Contas do Estado pede explicações do governo estadual sobre alguns processos dessa licitação. Não bastasse isso, ainda há o problema do valor a ser pago, caso o atual contrato continue em vigor. Se alguma empresa de fato comprasse a Maracanã S.A., o reequilíbrio financeiro teria que ser acertado antes.

O único aditivo de contrato em vigor é decisão de Cabral, por pressão popular, de não demolir e reconstruir fora do Complexo Maracanã o Centro de Atletismo Célio de Barros, o Parque Aquático Júlio de Lamare e a Escola Arthur Friedenreich. Essa decisão previa também a demolição e reconstrução do presídio da Quinta da Boa Vista. Essas obras estavam orçadas em R$ 594 milhões, que se somavam aos R$ 5,5 milhões anuais que, por 33 anos, pagariam os 35 de concessão. Esse valor é apenas R$ 1 milhão acima do que previa o estudo da IMX.

O governo teria baixado esse valor em obras para R$ 150 milhões. Mas, sem especificar que obras seriam feitas, fragiliza, mais uma vez, as garantias jurídicas. A última reunião entre as partes aconteceu na terça-feira, dia 7, e as negociações foram paralisadas.

Agora, a esperança é que o novo edital, já elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, seja lançado. As empresas não falam abertamente da suas decisões, mas já pressionam o governo para que a nova concorrência seja lançada o mais rápido possível. Por enquanto, Odebrecht ainda administra o Maracanã, e o Comitê Rio-2016 começará a fazer as obras necessárias.

*Colaborou Marco Grillo