“Hoje vocês vão ganhar”, disse a mineira Clycie Gouveia, de 72 anos, o andar típico das velhinhas de Copacabana, ao grupo de camisetas vermelhas na esquina da Leopoldo Miguez com a Bolívar. Ali, no Bar Copinha, tradicional reduto colorado no Rio, as reações foram mistas: a vitória sobre o Cruzeiro era fundamental para a manutenção dos gaúchos na Série A, mas a campanha não inspira qualquer confiança.
TABELA: Jogos e classificação da Série A
Quando Valdívia acertou o ângulo direito de Rafael aos 30 minutos da etapa final no Beira-Rio, as cerca de 60 almas coloradas presentes davam graças a Deus e gritavam de esperança e euforia. Menos Vanessa Cristani, que gemia de dor.
Rodada 37 da Série A do Brasileiro
? Eu dei um soco na árvore de tanta alegria e cortei a mão ? conta a assessora de imprensa, 35 anos, natural de Santo Ângelo. Enquanto sacode a mão, algo anestesiada pela cerveja, lembra que já fez coisa pior pelo Inter. ? Quando ganhamos a Libertadores, em 2006, eu morava em Carazinho, terra de Leonel Brizola. Voltei para casa sem meus tênis.
Os colorados do Copinha se organizaram contra o inimigo comum ? a Série B, que associam ao rival birrebaixado, o Grêmio ? e fizeram uma agenda de resistência, segundo o “embaixador” do clube no Rio.
? O pessoal estava meio desanimado depois da derrota para o Corinthians, e o Copinha não ia abrir hoje (neste domingo), porque não é todo domingo que abre: depende de quantos de nós viremos. Mas rolou um gás, e a gente negociou uma ?caixinha? para os funcionários ? conta Luciano Torres, 38, diretor regional do Inter para o Rio.
Torres é um dos mais confiantes de que o Inter poderá escapar. Atuou nas divisões de base, cresceu no Beira-Rio e diz que ?não tem outra saída senão acreditar?. Para outro dos ?líderes? do Copinha, Marcelo Peralta, 41 anos, o quadro atual é sinistro.
? Não estou acreditando. Quando um avião cai, não é por causa de um defeito, e houve muitos erros, do (presidente Vittorio) Piffero, do (vice de futebol) Fernando Carvalho, do (ex-técnico Celso) Roth ? enumera.
Por 90 minutos, o bar de seu Domingos Ribeiro, ?botafoguense que torce pelo Inter?, testemunhou cenas de desespero e euforia contagiantes. O nervosismo da equipe, ainda em 17º lugar e ameaçada de seu primeiro rebaixamento, multiplica erros contra o Cruzeiro, e o primeiro tempo é péssimo. Com o 1 a 0 garantido, imploram pelo apito final e começam a acreditar no milagre, embriagados de sonho.
Minutos depois de o jogo acabar, muitos já se recordam de que é preciso secar o Vitória, que visita o Coritiba nesta segunda-feira, às 20h. A tensão vai durar mais uma semana. É nessa hora de meditação e cervejas finais que passa dona Clycie, com um sorriso:
? Eu não disse que vocês iam ganhar hoje? ? lembra a mineira Clycie, voltando de seu passeio. Ela recebe as palmas da galera, que encobrem a resposta de Peralta:
? Manda essa véia voltar aqui na segunda!