Economia

Embargo japonês a Santa Catarina vai gerar negócios adicionais ao PR, projeta Ortigara

Matelândia- 22-10-2020 - Abatedouro de aves da cooperativa lar em Matelândia - Foto : Jonathan Campos / AEN
Matelândia- 22-10-2020 - Abatedouro de aves da cooperativa lar em Matelândia - Foto : Jonathan Campos / AEN

A suspensão das importações de aves das granjas comerciais de Santa Catarina anunciada pelo governo japonês nesta semana tende a provocar negócios adicionais ao Paraná dentro da referida cadeia produtiva. Quem afirma é o secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, em entrevista concedida ao Jornal O Paraná. “De um lado, [o embargo] afeta a imagem do Brasil como um tudo, desnecessariamente, no meu ponto de vista. Eventualmente, poderá haver alguma originação adicional ao Paraná”. Japão e Coreia são grandes clientes do Brasil e em especial, do Paraná.

A decisão do governo japonês, na ótica do secretário estadual, “causa estranheza”.  Para ele, trata-se de uma medida extrema adotada pelo governo japonês. “Defendemos a ideia de que uma eventual suspensão precisa ser discutida anteriormente e só seja efetivada com a comprovação da ocorrência de casos de gripe aviária nas produções comerciais”.

No sábado (15), foi confirmado um foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em aves domésticas de subsistência em propriedade no município de Maracajá (SC), onde encontravam-se múltiplas espécies de aves que eram criadas soltas e não eram destinadas à produção de produtos para comercialização. A propriedade está interditada e todas as aves foram eutanasiadas e as carcaças destruídas e enterradas.

De acordo com informações do Observatório Fiesc, da Federação das Indústrias de Santa Catarina, o Japão importou US$ 310,8 milhões em frango, ovos e subprodutos no último ano, representando 14,75% da receita total. Com base nos dados da Associação Brasileira de Proteína Animal, em 2022, Santa Catarina foi responsável por 21,85% das exportações nacionais de carne de frango. O estado ocupa a segunda posição no ranking das exportações de carne de frango no Brasil, ficando atrás apenas do Paraná e à frente do Rio Grande do Sul.

Excesso de oferta

O embargo causa um estresse no mercado e represa a produção de aves de Santa Catarina, respingando em outros estados. “Já estávamos com a sobreoferta nas plantas frigoríficas, inclusive com a redução ou suspensão do nível de contratação. Isso é um sinal de que há excesso de oferta no mercado, embora tenhamos exportado bastante nos primeiros seis meses deste ano”.

A suspensão imediata de importação imposta pelo Japão à produção avícola de Santa Catarina por conta da presença da influenza aviária em criação caipira causou espanto a todos, na visão de Ortigara. “Existe um trabalho diplomático sendo feito por parte do Ministério da Agricultura, por intermédio dos adidos agrícolas presentes no Japão”, salienta.

Na próxima semana, uma comitiva liderada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, segue em direção a Tóquio para apresentar todo trabalho feito pelo Brasil como referência em biossegurança. “O Japão está tendo um protocolo mais rígido, que está sendo revisado pelo mundo todo. Então passou a ser prioridade número um da nossa missão. Já estamos em tratativas para rediscussão desse protocolo, já que o Brasil continua com garantia de sanidade”, disse o ministro.

De acordo com o Código Sanitário de Animais Terrestres da OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), a ocorrência da infecção pelo vírus em aves silvestres e domésticas de subsistência não compromete a condição do Brasil como país livre de IAAP. No entanto, o Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão (MAFF) comunicou a decisão de suspender a importação de aves vivas e carne de aves do Estado de Santa Catarina até que o Mapa encaminhasse informações detalhadas sobre o caso.

Cuidados

O contato direto, sem proteção adequada, com aves doentes ou mortas deve ser evitado pela população. Todas as suspeitas de IAAP em aves domésticas ou silvestres, incluindo a identificação de aves com sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita, devem ser notificadas imediatamente ao órgão estadual de saúde animal ou à Superintendência Federal de Agricultura e Pecuária por qualquer meio ou pelo e-Sisbravet.

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Secretário “na torcida” para que outros países sigam o exemplo dos britânicos

O impacto da restrição comercial do Japão às aves catarinenses foi amenizado com uma notícia positiva na semana. Nove meses depois de realizar uma visita técnica ao Brasil, o Reino Unido anunciou a flexibilização das restrições e a abertura de mercado para a carne brasileira. O governo britânico retirou os controles reforçados às compras de carne brasileira, conforme confirmação feita pelo Ministério das Relações Exteriores e da Agricultura.

A decisão garante a habilitação de empresas autorizadas a vender carne ao Reino Unido, no chamado pre-listing. Outra decisão dos britânicos é que os casos de gripe aviária passarão a ser tratados no âmbito meramente estadual, sem dimensionar para todo o Brasil. Até então, o Reino Unido adotava como prática a suspensão da importação de todo o país, independente do estado de origem dos casos.

A auditoria sanitária feita pelos britânicos no Brasil constatou a eficiência do País nas questões de regulação sanitária e fitossanitária. No ano passado, o Brasil US$ 282,2 milhões em carne de aves e cerca de US$ 134 milhões de carne bovina aos britânicos.

Para o secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, a medida é positiva e faz parte de um processo de simplificação do comércio internacional. “Estou na torcida para que outros países adotem medidas semelhantes para que o Brasil amplie as relações comerciais, tanto individualmente como em bloco”, disse Ortigara ao O Paraná.

Missão tenta reverter suspensão

Brasília – O Ministério da Agricultura e Pecuária aproveitará uma missão comercial e empresarial prevista para a próxima semana para tentar reverter a decisão do governo japonês em suspender a compra de aves vivas e de carne de aves produzidas em Santa Catarina, após um foco de gripe aviária no estado. Uma comitiva do ministro Carlos Fávaro com exportadores de carnes participará de reuniões e de seminários na Coreia do Sul e no Japão na próxima semana.

Ainda na segunda-feira (17), o Ministério da Agricultura enviou os esclarecimentos às autoridades sanitárias japonesas. A pasta ressalta que o Brasil continua livre de gripe aviária para aves comerciais.