Cotidiano

Vizinhos de imóvel que explodiu em Fazenda Botafogo continuam sem gás

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RIO – A explosão que matou cinco pessoas e feriu nove em um conjunto habitacional em Fazenda Botafogo, no dia 5 de abril, continua fazendo vítimas. Cerca de 120 apartamentos do local estão sem gás encanado desde o acidente. Segundo a Companhia Distribuidora de Gás (CEG), não há previsão para a normalização do serviço. No entanto, as contas da concessionária continuam chegando para os moradores.

O laudo preliminar do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) apontou que o acidente foi causado pelo acúmulo de gás proveniente de um vazamento de esgoto. Mas, em prédios vizinhos ao da explosão, a CEG constatou vazamentos provenientes de sua tubulação, levando à interrupção do serviço. Sem opção, moradores tiveram de comprar botijões e fogareiros, fazendo gastos que a empresa se comprometeu a ressarcir, o que, até agora, não fez.

? Você liga para lá e nada é informado. Quando a ligação não cai, dizem que não há data para fazerem conserto nem para retomarem o serviço. Fica por isso mesmo ? queixa-se o morador Freud da Silva.

INSTRUÇÃO ILEGAL

Não há uma legislação nacional que regulamente o uso dos botijões de gás. No Rio, o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Corpo de Bombeiros proíbe sua utilização em prédios residenciais com mais de cinco apartamentos, a não ser no térreo ou do lado de fora da edificação. O texto, apresentado no decreto estadual nº 897, de 21 de setembro de 1976, diz ainda que, nos prédios em que há gás canalizado, botijões ou cilindros são vetados. Mas, por conta do impasse, é comum encontrar moradores que passaram a se arriscar usando o equipamento sem segurança desde que a CEG interrompeu o abastecimento. É o caso do síndico Edson Queiroz, que cozinha em um fogareiro instalado em um cilindro de gás em uma cozinha com pouca ventilação. Segundo os moradores, eles foram instruídos a usar os botijões pela própria concessionária.

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? É o único jeito. Antes da explosão, tinha um ano que reclamávamos do forte cheiro de gás e nada era feito. Depois vieram aqui, cortaram o gás e pronto ? queixa-se ele.

A prova de que os moradores sofrem há muito tempo com o atendimento da concessionária é a medida drástica tomada pela aposentada Elzira da Silva. Há mais de seis meses, após muitos contatos frustrados com a CEG, ela passou a usar botijão.

? Reclamávamos do cheiro e da conta, que vinha muito alta. Tem gente que chegou a receber a correspondência com valor de mais de R$ 200 para pagar ? relata ela.

Cobranças que, segundo os moradores, continuam chegando mesmo depois de o serviço ter sido cortado.

? Este mês, eu recebi uma conta no valor de R$ 42 que não vou pagar, pois não reconheço esse consumo. É muito desrespeito ? completa Queiroz.

Os moradores mostraram o laudo de uma visita feita em 21 de julho de 2015 pela CEG, que destaca a necessidade da troca de seis válvulas de escape na tubulação para resolver o problema de pressão no condomínio. Problema que não consta no laudo da vistoria de 1º de dezembro de 2015.

? Como pode ter desaparecido a pressão constatada se nada foi feito? Vieram aqui e nos disseram que estava tudo normal. Mas dava para sentir o cheiro de gás forte do quarto andar. Todo dia sentíamos náusea e dor de cabeça. Moradores do primeiro andar se mudaram porque não aguentavam ficar dentro de casa ? relata o motorista Freud Silva.

Em nota, a CEG afirma que os edifícios tiveram o fornecimento de gás interrompido por medida de segurança, por problemas na instalação interna. A companhia diz ainda que tais reparos são de responsabilidade, respectivamente, do condomínio e dos moradores. No entanto, ressalta, assinou na última segunda-feira um aditivo ao Termo de Compromisso firmado com a Agência Reguladora de Saneamento Básico e Energia do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa) no qual se compromete a adotar uma série de medidas. Entre elas, a construção de novos ramais internos nos 86 prédios do condomínio Fazenda Botafogo sem ônus para os moradores, obras que começarão pelos prédios com fornecimento de gás suspenso. Em seguida, a empresa custeará também a inspeção periódica de gás prevista em lei, originalmente de responsabilidade dos moradores.

Sobre a emissão de faturas, a CEG informa que ?para os prédios que tiveram o fornecimento de gás interrompido por medida de segurança, a companhia emitiu cobrança apenas para o período em que houve consumo?.