Um ex-funcionário da embaixada da Venezuela no Iraque afirma que o país mantinha um esquema de venda de vistos e passaportes, até mesmo para pessoas ligadas ao terrorismo islâmico. O advogado Misael Lopez, de 41 anos, revelou à CNN que já em seu primeiro dia de trabalho em Bagdá, em julho de 2013, foi apresentado ao esquema de corrupção pelo próprio chefe, o embaixador venezuelano Jonathan Velasco:
“Ele me deu um envelope cheio de vistos e passaportes”, contou à CNN. “Ele me disse: ‘pegue isso, isso vale um milhão de dólares americanos'”. Lopez pensou ser brincadeira. Não era, no entanto.
Documentos obtidos pela CNN relacionam o atual vice-presidente da Venezuela, Tareck El Aissami, à emissão de 173 passaportes e identidades venezuelanas para indivíduos do Oriente Médio, incluindo pessoas ligadas ao Hezbollah. Documentos e gravações apontam, porém, que a venda de documentos oficiais surgiu nos anos 2000, ainda durante o governo de Hugo Chávez.
Durante as investigações, Lopez contou que uma intérprete iraquiana da embaixada disse a ele ter ganhado milhares de dólares vendendo passaportes, e que ele poderia se beneficiar do esquema negociando vistos para 13 sírios por US$ 10 mil cada. Ele recusou. O advogado apresentou documentos comprovando ter recorrido à autoridades para denunciar o esquema, mas foi acusado de divulgar informações oficiais.
Conforme investigava, mais evidências chocantes vinham à tona. Lopez encontrou uma lista com 21 nomes árabes relacionados a passaportes venezuelanos válidos. Até mesmo um traficante de drogas iraquiano,condenado, possuía passaporte do país latino americano. Em 2014, ao procurar o embaixador Velasco para falar sobre o esquema, Lopez foi ameaçado de ser demitido o que o levou a procurar o FBI na embaixada de Madri no ano seguinte. Lopez foi acusado pelo governo venezuelano de “abandono de posto”, removido do cargo e posto sob investigação por revelar “documentos confidenciais”.
Lopez hoje vive na Espanha e teme por retaliações por parte do governo de Nicolás Maduro. Em resposta à reportagem, Velaco negou as acusações:
“Esta embaixada está pronta para ser auditada e investigada por qualquer organização internacional e serviços de inteligência, eu não tenho nada a esconder ou temer. Tenho certeza de que sob meu comando esta embaixada nunca vendeu nacionalidades venezuelanas, isso será uma piada para todas as organizações internacionais de segurança e inteligências internacionais”, afirmou.
Em 2006, um relatório do Congresso americano já alertava para o suposto apoio da Venezuela a grupos terroristas com a venda de passaportes e vistos e afirmava que “os documentos de viagem e de identificação venezuelanos são extremamente fáceis de obter por pessoas que não têm direito a eles”.