RIO – Uma universidade nos Estados Unidos alega que uma aluna que foi estuprada durante um programa de intercâmbio em Porto Rico tem parte da responsabilidade do ataque porque bebeu naquela noite e escolheu entrar no elevador com um estranho.
Os argumentos de culpabilização da vítima são dos advogados que representam o Worcester Polytechnic Institute, em Massachusetts. A escola está sendo processada pela aluna por não fornecer um ambiente seguro para os estudantes: o crime aconteceu no prédio do dormitório e o estuprador era um segurança que deveria guardar o local e proteger os alunos. Os documentos do processo foram conseguidos pelo jornal Boston Globe, que primeiro falou sobre o caso.
O ataque ocorreu em abril de 2012. A mulher, que não foi identificada no processo para preservar a sua identidade, era aluna da universidade na época, estudando em uma programa de pesquisa em Porto Rico por dois meses. Ela e outros estudantes estavam morando em um condomínio na capital, San Juan, parte do qual foi alugado pela universidade. A residência no local era obrigatória.
Em uma noite, a aluna e seus colegas saíram e foram a um bar, onde ela tomou apenas um drinque. Na volta, a mulher foi atacada por um segurança do prédio num terraço do local após ele segui-la e entrar no elevador com ela. O homem, um ex-policial expulso da força por vender munições, foi condenado e está cumprindo uma sentença de 20 anos em Porto Rico.
A mulher e sua família abriram um processo contra a universidade em 2015 por não fornecer um ambiente seguro para os alunos, já que o estupro ocorreu no prédio que servia de dormitório da universidade. Segundo ela, é equivalente a se tivesse ocorrido no campus.
Em seu depoimento ao tribunal, advogados do instituto perguntaram se a vítima havia bebido e se seus pais a tinham ensinado a “não aceitar presentes de estranhos” ou como se proteger de um ataque sexual. Ela respondeu que esperava ser protegida por um segurança, não atacada.
Um dos advogados então pergunta: “Então você achou que não havia problema em subir no elevador com ele, apesar de sentir que a situação era estranha? Um homem que você não sabia o nome, nada de quem ele era, você não acha que isso era comportamento de risco?”
A família e a vítima se queixaram ao tribunal, dizendo que os argumentos da universidade são apenas tentativas de assediar, intimidar e culpar a vítima.
“Quando você diz que uma vitima de estupro causou o próprio estupro, é uma coisa tão ofensiva que não tenho palavras”, disse em entrevista ao Boston Globe Colby Bruno, advogada que está ajudando no caso. Já a universidade afirma nos documentos que não está tentando culpar a vítima, apenas enfrentando a alegação de que a escola foi negligente na proteção dos estudantes.