ISTAMBUL ? A polícia turca utilizou um canhão de água e gás lacrimogênio para conter uma multidão de manifestantes que protestava contra a prisão formal de jornalistas e executivos do jornal de oposição Cumhuriyet, que haviam sido detidos na segunda-feira. A publicação é um dos poucos canais de mídia ainda crítico ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Os funcionários foram presos porque, segundo promotores de Istambul, são suspeitos de terem cometido crimes em nome de militantes curdos e da rede do clérigo Fethullah Gulen, que vive nos Estados Unidos e é acusado pelo governo de orquestrar a tentativa de golpe de 15 de julho.
O protesto no centro de Istambul aconteceu apenas horas depois que as autoridades formalmente ordenaram a prisão dos nove funcionários do jornal detidos. Dentre os detidos, estava o o editor-chefe do Cumhuriyet, Murat Sabuncu. Na segunda-feira, o governo ainda fechou 15 veículos de imprensa e demitiu 10 mil pessoas dos seus empregos por suspeitas de conexões a Gulen. O clérigo nega qualquer envolvimento com a tentativa de golpe de 15 de julho.
Além disso, mais nove membros do principal partido curdo do país, o Partido Democrático dos Povos (HDP), foram detidos, apenas um dia após os dois líderes da legenda terem sido formalmente presos.
A detenção de Selahattin Demirtas e Figen Yüksekdag constitui mais um passo nos expurgos lançados pelo governo turco desde o golpe de Estado frustrado de julho e que atinge em cheio os setores pró-curdos. Um ataque ocorrido depois das prisões foi atribuído pelo primeiro-ministro, Binali Yildirim, ao PKK, uma organização classificada como terrorista por Ancara, Washington e Bruxelas.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, se declarou extremamente preocupada com as prisões na sexta-feira e indicou no Twitter que convocará uma reunião de embaixadores da UE em Ancara. Berlim anunciou, por sua vez, que convocou o encarregado de negócios turco. Já os Estados Unidos disseram estar “muito preocupados” com estas prisões.
“O HDP convoca a comunidade internacional a reagir contra este golpe do regime (do presidente Recep Tayyip) Erdogan”, pediu o partido em sua conta no Twitter.
A Turquia está em estado de emergência desde a tentativa de golpe de Estado de julho. Vários países europeus, assim como ONGs, acusam as autoridades turcas de perseguir os opositores e não apenas os supostos golpistas. Um total de 35.000 pessoas foram detidas e dezenas de milhares foram demitidas ou suspensas no âmbito de um imenso expurgo que atinge diferentes setores da administração pública.