Cotidiano

Turquia intensifica perseguição a clérigo inimigo de Erdogan

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RIO E ANCARA – A Turquia agora investiga o homicídio do embaixador russo, Andrei Karlov, como parte do que considera uma conspiração contra o Estado liderada pela rede comandada pelo clérigo Fethullah Gülen, seu inimigo pessoal autoexilado nos EUA desde 1999. O assassino do diplomata, o policial Mevlut Mert Altintas, foi segurança do presidente Recep Tayyip Erdogan em oito eventos desde o golpe militar fracassado de 15 de julho ? pelo qual Gülen é também acusado por parte do governo.

Segundo o jornal ?Hürriyet?, Altintas, de 22 anos, integrava o segundo grupo de proteção a Erdogan, depois dos seguranças pessoais do presidente.

? É um membro da Organização Terrorista Fethullah Gülen, não há necessidade de dissimular o fato. Os elementos mostram ? afirmou Erdogan numa coletiva de imprensa em Ancara. ? Digo claramente que esta organização suja ainda está dentro do Exército e da polícia.

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Um dos focos da investigação turca é um centro educacional frequentado pelo policial e dirigido pelo grupo ligado a Gülen, que coordena uma rede de empresas e instituições de ensino de teor sunita moderado.

O clérigo, que vive na Pensilvânia, nega ter sido mentor dos dois episódios. Os EUA não corroboram as acusações turcas e se recusam a entregá-lo. Ancara anunciou na quarta-feira a suspensão de 1.980 educadores como parte do expurgo de supostos apoiadores do golpe. Mais de 125 mil pessoas foram suspensas ou exoneradas de forças de segurança, Exército, Justiça e serviços públicos desde então. Mais de 40 mil foram detidos.

Treze pessoas já foram presas na investigação sobre o assassinato do embaixador, entre eles os parentes mais próximos do atirador. Em um fato inédito, Ancara incorporou 18 especialistas russos no inquérito. O grupo inclui o serviço secreto e diplomatas.

O porta-voz Dmitry Peskov advertiu que ?não se pode tirar conclusões precipitadas até que a investigação tenha determinado quem está por trás. Murat Yetkin, editor do ?Hürriyet?, afirmou ser ?provável que os russos não fiquem satisfeitos com afirmações sem provas concretas?.

? Não há evidências que mostrem que o assassino era um gulenista. Algumas supostas conexões apareceram na mídia pró-Erdogan, vinculando-o superficialmente a escolas gulenistas no passado. Mas isto se mostrou um alarme falso ? disse ao GLOBO o cientista político Huseyin Senturk.

Segundo Senturk, supostas ligações de Erdogan com a al-Nusra (antigo nome do braço sírio da rede terrorista al-Qaeda) dominam as notícias há um bom tempo e poderiam motivá-lo a tentar encerrar logo uma investigação sobre a morte de Karlov.

? Culpar os gulenistas ajudará Erdogan a se salvar de um embaraço. O fato de que ele não quer uma investigação mais a fundo do incidente é uma indicação de que ele tem medo de revelações perturbadoras e conexões que viriam à tona com um inquérito minucioso.

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