WASHINGTON – O presidente Donald Trump, horas após fazer um aceno histórico aos imigrantes ilegais, adotou um tom otimista em seu primeiro discurso ao Congresso. Com a missão de defender sua agenda legislativa, em parte contestada pelos próprios republicanos, o presidente americano adotou um tom mais ameno que o usado na posse, fazendo um apelo à unidade e inclusive defendendo parcerias com nações amigas, deixando de lado o isolacionismo que marcou seu discurso ao assumir o governo. Em outros momentos, no entanto, voltou à sua retórica nacionalista e de medo. TRUMP CONGRESSO
Trump foi ovacionado pelos republicanos, enquanto democratas permaneciam em silêncio. Congressistas democratas compareceram vestidas de branco em homenagem às sufragistas, numa forma de destacar a união contra qualquer tentativa para reverter os progressos que as mulheres conquistaram no último século.
? O tempo de pensar pequeno acabou. A era de lutas triviais passou ? disse. ? A partir de agora, os EUA serão fortalecidos por nossas aspirações, não sobrecarregados por nossos medos. Precisamos apenas da coragem para compartilhar os sonhos que preenchem nossos corações, a bravura para expressar as esperanças que mexem com nossas almas e a confiança para transformar em ações estes sonhos e esperanças.
Até então, Trump adotava uma retórica baseada no medo e nas ameaças que rondam, segundo ele, os Estados Unidos. Neste discurso ? que ocorreu em um Congresso em clima de guerra ? o presidente fez um aceno a parcerias internacionais:
? Trabalharemos com nossos aliados, incluindo nossos amigos e aliados no mundo muçulmano, para extinguir esse inimigo vil do nosso planeta ? disse, em referência ao ?terrorismo islâmico?. ? A única solução a longo prazo para estas catástrofes humanitárias é criar as condições para que as pessoas deslocadas possam voltar para casa em segurança.
Ele, no entanto, deixou clara a visão que tem sobre a posição do país:
? Meu trabalho não é representar o mundo, mas os Estados Unidos.
Por outro lado, defendeu o início imediato da construção do muro na fronteira com o México e o polêmico corte do Orçamento das parcerias internacionais que os EUA fazem pelo mundo ? e que é considerada crucial para garantir a paz, de acordo com uma carta de 120 militares aposentados, divulgada ontem, que critica ?o aumento histórico? da verba militar proposta por Trump.
? Nós gastamos trilhões de dólares ao exterior, enquanto nossa infraestrutura em casa está tão ruim ? disse.
O presidente voltou a prometer pontos importantes de sua campanha, como uma reforma fiscal que vai aliviar os impostos para a classe média, a substituição do Obamacare ? o plano de saúde de Barack Obama ? por outro ?mais abrangente e mais barato?, disse que ?começou a drenar o pântano? da corrupção em Washington e afirmou que vai acelerar a economia interna.
? Hoje, convido também este Congresso a revogar e substituir o Obamacare, com reformas que ampliem a escolha, aumentem o acesso, reduzam os custos e, ao mesmo tempo, proporcionem melhores cuidados de saúde ? disse Trump sobre um tema que divide republicanos.
Em um raro sinal à oposição, defendeu propostas bipartidárias:
? Meu governo quer trabalhar com membros de ambos os partidos para tornar acessível a assistência à infância, para investir na saúde das mulheres e reconstruir nossas Forças Armadas e nossa infraestrutura ? disse, citando pela primeira vez questões ambientais, apesar de todas as suas decisões até o momento, como a liberação da exploração de petróleo, tenha sido em sentido contrário até o momento.
Discursos contraditórios
No discurso, Trump adotou um tom relativamente duro contra a imigração ilegal, embora tenha dito horas antes, em um encontro com âncoras de TV, que defendia uma lei que poderia ser um caminho para legalizar milhões de ilegais.
? Ao cumprir nossas leis de imigração, aumentaremos os salários, ajudaremos os desempregados, economizamos bilhões de dólares e tornaremos nossas comunidades mais seguras para todos ? disse, no Congresso.
Horas antes, havia adotado outro tom:
? É o momento certo para um projeto de lei de imigração, desde que haja um compromisso de ambos os lados ? disse a jornalistas de TV na Casa Branca.
Nem mesmo Barack Obama, um presidente pró-imigrantes, conseguiu aprovar uma lei a favor deles, apesar de ter tido maioria parlamentar em seus dois primeiros anos. Segundo fontes da Casa Branca, Trump está ansioso para aprovar um projeto de lei de imigração que abriria caminho para a legalização de milhões, desde que não tenham cometido crimes graves ou violentos, e ainda trabalhem e paguem impostos.
Fontes explicam que o projeto não facilitaria a cidadania ? exceto para os chamados dreamers, que chegaram aos EUA quando crianças ou jovens ?, mas permitiria status legal. O surpreendente é que isso contradiz tudo o que Trump tem feito.
? Os desafios que enfrentamos como uma nação são grandes, mas nosso povo é ainda maior ? concluiu, após defender o aumento de gastos militares e prometer mais recursos para os veteranos.