RIO – Graças a Super Mario, a cerimônia de encerramento da Rio 2016 deixou a impressão de que basta um cano para percorrer os mais de 12 mil quilômetros (por dentro da Terra, claro) que separam Rio e Tóquio. Mas, como nem todos nascem personagens da Nintendo ou se elegem primeiro-ministro, caberá à multidão de brasileiros já seduzidos pelos próximos Jogos poupar com vigor olímpico para estar do outro lado do mundo daqui a quatro anos. Mas um planejamento financeiro rigoroso é capaz de tornar essa maratona menos estafante para o bolso.
Quem tentar sondar preços de pacotes rumo à capital japonesa para 2020 não conseguirá números precisos hoje. Isso porque as companhias aéreas só liberam seus planejamentos de voos com 11 meses de antecedência. Mas, a pedido do GLOBO, a operadora de turismo Century Travel ? especializada no destino nipônico e apropriadamente localizada no bairro paulistano da Liberdade ? fez uma estimativa.
O mais recente pacote da operadora, um roteiro de 16 dias por 14 cidades japonesas, foi comercializado a partir de US$ 6,6 mil (R$ 21,1 mil, ao câmbio atual de R$ 3,20). O valor inclui, entre outros itens, passagem aérea na classe econômica da Emirates, hotel, seguro-viagem e um guia para os passeios. Hoje, dado o tamanho reduzido do país, raros são os turistas que ficam apenas na capital, mas o diretor comercial Marcel Iyeiri admite que isso será comum nas Olimpíadas.
? Um roteiro apenas para Tóquio, com a mesma duração, sairia hoje por algo entre US$ 4,5 mil e US$ 5 mil. Só que sabemos que, dada à lei da oferta e procura, os preços sobem em Olimpíadas. Tem hotel que chega a triplicar o preço. Então, estimo que um pacote para Tóquio em 2020 sairá por cerca de US$ 6,5 mil ? explicou o diretor da Century Travel, que, a convite do governo metropolitano de Tóquio, promoveu um seminário sobre a cidade para agências de Rio e São Paulo na semana passada.
A esse valor, o aspirante a turista olímpico deve acrescentar ainda os gastos com alimentação e, obviamente, o custo com ingressos para as competições. Com a experiência das 44 viagens que já fez ao país dos seus ancestrais ao longo de 25 anos, Iyeiri recomenda reservar US$ 60 por dia para comer e beber. Quanto ao gasto com os tíquetes, quem quiser curtir intensamente o clima esportivo deve despender a partir de R$ 3,5 mil, contou o funcionário público Gabriel Gervásio Neto, um aficionado das Olimpíadas que esteve em Atenas, Londres e Rio e que tem certeza de onde estará em 2020. Somados todos esses valores, o seguro é preparar um salgado orçamento final de R$ 29,4 mil ? considerando que o câmbio médio até 2018 é de R$ 3,50, segundo estimativa compilada pela agência Bloomberg.
Com o valor em mente, resta ao turista praticar a modalidade do planejamento financeiro para cruzar a linha daqui a alguns anos pronto para quitar o pacote.
? Em hipótese alguma ele deve se endividar para custear uma viagem, isso seria loucura. O brasileiro tem, sim, que se planejar, uma tarefa para a qual não foi educado. Com juros tão altos, a pessoa que pode poupar aqui está no melhor lugar do mundo para investir. Esse deve ser o caminho para Tóquio 2020 ? explicou Alexandre Espírito Santo, professor de finanças do Ibmec e economista da Órama.
De fato, será difícil bater a marca apenas economizando. O custo total equivale a pouco mais do que o de um Nissan March 1.0, modelo 2015, segundo a tabela Fipe; ou do que infindáveis 151 litros do saquê Hakushika bebidos no restaurante tijucano Mitsuba. Com juros de dois dígitos como os de hoje no Brasil e um prazo relativamente longo, o ideal é mesmo aplicar. Segundo cálculo de Espírito Santo, a melhor aplicação entre as com menor potencial de risco é o Tesouro Direto.
Para chegar daqui a 36 meses (cerca de um ano antes dos Jogos) com o dinheiro para contratar um pacote, um investidor que optar pelo título Tesouro Prefixado com vencimento em 2019 terá que aplicar R$ 676 mensais, começando hoje com mil reais; caso ele comece com R$ 5 mil, o investimento mensal deve ser de R$ 548. O especialista considerou uma taxa de custódia de 0,3% ao ano. Os valores são um pouco menores do que os necessários em aplicação de fundo DI com taxa de administração de 1% ao ano (R$ 683 para quem começa com mil reais e R$ 556 para início aos R$ 5 mil). A poupança é o pior caminho, exigindo aportes mensais de R$ 708 ou R$ 585. As projeções já descontam a alíquota do Imposto de Renda, quando necessário.
Mas é claro que os brasileiros mais despachados poderão arrumar outras maneiras de reduzir o impacto do sonho olímpico nas finanças.
? Eu acho que o principal problema do Japão vai ser a hospedagem, pois é muito cara. Vou tentar, junto com oito amigos, alugar uma casa e reduzir esse custo ? contou o habitué dos Jogos Gervásio Neto.