RIO ? Uma família brasileira viveu na terça-feira uma experiência traumática ao ser recebida por um cenário de caos em Istambul. O grupo de cinco paulistas desembarcou de um voo da Turkish Airlines, que havia partido de São Paulo, no momento em que três terroristas suicidas abriram fogo e se explodiram no aeroporto de Atartuk, o principal terminal aéreo da Turquia. O episódio matou 41 pessoas, incluindo 13 estrangeiros, e feriu outras 239. Indícios apontam que o Estado Islâmico (EI) realizou o ataque, segundo o premier Binali Yildirim.
Na sua primeira viagem à Turquia, Deborah Vallilo relatou pelo telefone ao GLOBO que a descida do avião foi marcada pela incerteza sobre o que acontecia do lado de fora. Passageiros, comissários de bordo e funcionários do aeroporto não sabiam o que estava acontecendo, apesar de alguns relatos de que havia pessoas nervosas no local. Por isso, os passageiros do voo THY16m foram, a princípio, liberados normalmente para buscarem suas bagagens.
? Quando chegamos, dois chineses voltaram correndo e disseram aos comissários para não deixarem ninguém sair da aeronave, porque do lado de fora havia muita gritaria, correria e barulho de explosivos. Mas os funcionários não sabiam de nada, eles continuaram liberando todo mundo e, depois de percorrer um longo caminho, sentimos um cheiro muito forte de queimado, o que nos fez recuar. Todos voltaram em direção à aeronave e, quando ligamos o celular, descobrimos pela internet o que estava acontecendo.
Acompanhada pelo seu marido e de três adolescentes, para visitar uma família de amigos que mora em Istambul, a professora de 40 anos se viu no meio de uma situação difícil de compreender naquele momento. Eles ficaram retidos no aeroporto, antes de passar pela imigração, por cerca de três horas, enquanto a polícia isolava o local.
Sem compreender inglês ou turco, Deborah relata que foram as imagens à sua frente que lhe explicaram a gravidade do atentado. No caminho após desembarque, ela se deparou com muitos policiais, autoridades do esquadrão anti-bomba e muitas pessoas correndo no sentido contrário ao seu. Mesmo sem conhecer perfeitamente os fatos, a cena ativou o seu instinto de fugir dali também.
? O pânico estava instalado. Todos corriam e choravam sem saber o que acontecia e os funcionários também choravam muito. O terror já tinha acontecido, então o teto tinha caído, havia estilhaços de vidro espalhados, marcas de tiro e muitas manchas de sangue pelo caminho.
Após ter caminhado sozinha pelo aeroporto que não conhecia, a família finalmente conseguiu encontrar os amigos que haviam ido ao local para buscá-los. Eles ficaram sem malas e, agora, Deborah diz que não tem vontade de voltar àquele cenário tão cedo, mas voltará em duas semanas ao Brasil.
Em seu Facebook, o marido de Deborah, Mario Vallilo, compartilhou uma mensagem de alívio aos seus amigos e familiares:
“Foram momentos e cenas horríveis, de destruição, desespero e pessoas de todas as idades, todas as etnias passando mal, tentando uns proteger aos outros sem saber o que fazer ou a quem recorrer. Sem informações ou ajuda, depois de quatro sofridas horas pós-embarque conseguimos fazer a imigração e sair do aeroporto Atartuk – Istambul, deixando para lá nossos pertences, nossas malas, mas com uma certeza: de que renascemos, de que somos privilegiados por sairmos com vida e de podermos encontrar nossa família, que amamos tanto.”
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, o consulado-geral brasileiro em Istambul afirmou que apesar do ataque ter coincidido com a chegada do voo da Turkish Airlines procedente de São Paulo, os passageiros que acabavam de chegar se encontravam ainda na área de imigração e recolhimento de bagagem, distante dos locais mais afetados. Ainda de acordo com a representação, não há registro de cidadãos brasileiros entre os mortos e feridos.
A posição de Istambul, uma ponte entre a Europa e a Ásia, faz do aeroporto de Ataturk, o maior do país, um importante centro de trânsito da Turquia para passageiros em todo o mundo. Cinco sauditas e dois iraquianos estão entre os mortos, segundo uma autoridade turca citada pela agência Reuters. Também morreram um chinês, um jordaniano, um tunisiano, um uzbeque, um iraniano e um ucraniano.