RIO – A terceirização é um processo inexorável, afirmam os especialistas em mercado de trabalho José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, e José Pastore, professor da USP, que debateram o tema da reforma trabalhista na série de encontros do GLOBO E agora, Brasil?. O mundo moderno, globalizado, impôs cadeias de produção que permitiram o barateamento de bens como smartphones e eletrodomésticos, mas praticamente decretaram o fim da indústria ocidental, segundo Camargo:
Mas a globalização gerou uma enorme redução da pobreza na Ásia.
Segundo o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, são 12 milhões de trabalhadores terceirizados no país. Em abril do ano passado, a Câmara aprovou o projeto que regula a terceirização. Agora, está tramitando no Senado. O governo quer fazer algumas mudanças no projeto e aprová-lo, no escopo da reforma trabalhista que pretende implementar.
O projeto extinguiu com a figura da atividade fim e atividade meio, permitindo a terceirização de qualquer atividade da empresa, desde que a firma contratada seja especializada no serviço. E estabeleceu que a empresa que contrata o serviço deve arcar com encargos trabalhistas e indenizações se o prestador do serviço não pagar. Mas isso apenas depois que o trabalhador não tiver sucesso na Justiça.
Pastore dá um exemplo simples para explicar o custo trazido pelas amarras à terceirização. Na construção de um prédio de apartamentos, por exemplo, a construtora só precisa recorrer a serviços de terraplanagem uma vez durante o projeto. Se não puder terceirizar o serviço, no entanto, terá que arcar com esse custo, o que levaria um apartamento a custar uma exorbitância, segundo ele.
PROIBIDO PARA ATIVIDADE FIM
Atualmente, a Súmula 331, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), regula a atividade, proibindo que a atividade fim da empresa seja terceirizada.
A produção é feita em escala, em cadeia. Não dá para saber o que é atividade fim ou atividade meio. No fim, o prejudicado é o consumidor diz Pastore.
É muito difícil definir o que é atividade meio e atividade fim. Isso é uma jabuticaba brasileira reforça José Márcio Camargo.
Pastore afirma que o projeto que está no Senado é um avanço em termos de proteção para o trabalhador:
O contratante é corresponsável se os direitos trabalhistas e previdenciários não forem pagos pelo prestador de serviço. É uma proteção que vai além da CLT.
Para o professor da USP, o projeto dá segurança jurídica aos empresários e garante os direitos dos trabalhadores:
O terceirizado deve almoçar no mesmo restaurante dos funcionários diretos. Isso não é exigido hoje. O projeto ainda precisa de mudanças, mas é necessário.
Segundo o professor da PUC-Rio, a terceirização não é um problema brasileiro.
Surgiu com a globalização, que destruiu a indústria ocidental. A indústria, em termos relativos, diminuiu. Tudo foi para a Ásia. Trump (Donald Trump, o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos) e Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) são resultados disso, com os problemas trazidos pela globalização.
Ele usa como exemplo a produção de smartphones:
Smartphone existe e tem esse preço porque a produção é terceirizada. Se a Apple e a Samsung fizessem todo o processo de produção não teríamos dinheiro para comprar os aparelhos.
Sobre a contratação como pessoa jurídica, Camargo afirma que a carteira assinada é uma imposição das empresas, não do empregado:
As pessoas querem ser PJs porque pagam menos impostos.
Pastore lembra também que há o projeto de trabalho intermitente. Segundo o diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Aldo Gonçalves, governo, sindicatos de empregados e patrões estão negociando as formas de regular esse tipo de trabalho intermitente:
A CLT foi voltada para indústria, que tem horários definidos. O comércio tem horários e dias com mais movimento. Estamos negociando com as centrais sindicais.