Cotidiano

Taxa de investimentos, de 16,9% do PIB, é a menor em 21 anos

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RIO e SÃO PAULO – Embora analistas já vejam sinais de estabilização da economia brasileira ainda no fim deste ano, um dos indicadores mais importantes para ditar o ritmo da retomada ainda mostra fragilidade: o nível de investimentos. Segundo os dados divulgados ontem, a taxa de investimento ? proporção do que é gasto com máquinas, equipamentos e construção civil sobre o total do Produto Interno Bruto (PIB) ? caiu para 16,9% no primeiro trimestre, pior patamar de toda a série histórica, iniciada em 1996. Para se ter uma ideia, a taxa é 2,6 pontos percentuais inferior ao registrado no primeiro trimestre do ano passado, maior variação anual desde o início da série.

A queda nesse indicador está relacionada ao tombo da chamada formação bruta de capital fixo (FBCF), que recuou 2,7%, na comparação com o quarto trimestre. A queda é menos intensa que a retração de 4,8% registrada nos últimos três meses do ano passado, mas, ainda assim, marca uma sequência de resultados negativos. Na comparação com igual trimestre do ano anterior, a queda foi de 17,5%, o oitavo número negativo seguido.

Para analistas, a fraqueza dos investimentos é um grande ponto de interrogação sobre a capacidade de recuperação da economia. A retomada está diretamente relacionada à melhora na confiança dos empresários, mas não só isso. Na avaliação do economista do Banco Votorantim Roberto Padovani, o excesso de ociosidade na economia, especialmente na indústria, também deve dificultar o desempenho dos investimentos:

? A retomada da confiança estimula os investimentos, mas, como temos muita ociosidade, os investimentos vão demorar a reagir, mesmo quando a confiança melhorar. Esse movimento será postergado.

QUEDA DE 15,9% EM 12 MESES

Para Antonio Corrêa de Lacerda, economista da PUC-SP e sócio-diretor da MacroSector, a persistência de números ruins dos investimentos ? que já acumulam queda de 15,9% em 12 meses ? foi o destaque negativo do PIB divulgado ontem.

? O que chama atenção é a queda expressiva do investimento. Como o investimento é o motor da economia, isso mostra que uma eventual recuperação ainda está distante ? avalia Lacerda.

Para a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), os dados fracos são puxados não só pelo adiamento de compras de máquinas e equipamentos, mas também pela piora do cenário da construção civil, que influencia o índice.

? Nos últimos anos, teve um boom de construção, todo mundo conseguiu adquirir a casa própria. Quando o crédito desacelera, o processo de retomada é mais lento. É um crédito que demanda uma certeza de que você vai continuar empregado ? destaca a analista.

Enquanto o cenário não melhora, a solução encontrada por empresários é evitar risco e adiar novos projetos. Foi essa a estratégia adotada pela construtora MBigucci, empresa de médio porte que atua em São Paulo. A empresa afirma estar ?segurando? seis lançamentos imobiliários na expectativa de haver uma melhora do cenário econômico. Esses empreendimentos foram planejados e deveriam ter sido lançados entre janeiro e março deste ano, mas, sem colocá-los no mercado, não saíram do papel.

? Não há a confiança do consumidor em comprar. Portanto, não tem porque lançar ? diz Milton Bigucci, presidente da construtora.

Atuando há 33 anos no mercado paulista, Bigucci diz que, embora já tenha passado por muitas situações difíceis, nunca viu uma crise como a atual. E condiciona uma mudança no atual quadro à retomada da confiança do consumidor. Ele descarta que o problema seja falta de oferta de crédito.

? Não é crédito o problema. O que enfrentamos é a falta de confiança no futuro, e isso estava ainda pior no início do ano. Acredito que, no segundo semestre, as coisas possam começar a dar sinais de melhora ? diz.