RIO ? Impulsionada pelo sucesso do brasiliense Tiago Iorc, a cena folk pop brasileira vem ganhando cada vez mais espaço nos últimos meses. Nessa onda, um exemplo é o duo Anavitória, formado em Araguaína (TO), cidade com menos de 200 mil habitantes. Até o meio do ano passado, quando deram entrevista ao blog Amplificador, do GLOBO, as amigas Ana e Vitória, de 21 e 20 anos, respectivamente, nem sequer tinham uma agenda de shows, apesar do sucesso do clipe de ?Singular?, que viralizou nas rede sociais ? já são mais de 6 milhões de visualizações.
A chave virou quando Ana deixou o curso de medicina que fazia em Araguari (MG) e se mudou para São Paulo, para morar com Vitória. Em dezembro, a dupla de ?pop rural? (definição criada por elas) anunciou um crowdfunding para viabilizar a produção do primeiro álbum. A meta inicial de R$ 48 mil foi superada com facilidade (arrecadaram R$ 61,5 mil) e, em agosto, nascia ?Anavitória?, o disco, repleto de melodias simples e letras fofas, fáceis de decorar. Com ele, uma turnê que vem lotando de jovens fãs casas pelo Brasil. A partir desta sexta-feira, acompanhadas por sua banda, as cantoras e compositoras fazem uma minitemporada de três shows no Solar de Botafogo (sexta e sábado, às 22h; domingo, às 20h), com ingressos esgotados há pelo menos uma semana.
? Ainda estamos naquela fase de ver aonde isso vai dar, vivendo tudo em seu devido tempo. Estamos amando esse nosso momento ? comemora Vitória. Anavitória – Agora Eu Quero Ir
Ana conta que a relação com a música começou na infância, em uma casa muito musical ? a mãe sempre tocava violão nos tempos livres. Mas foi só no terceiro ano do ensino médio que ela escreveu sua primeira música. Depois, não parou mais.
? Comecei a botar minhas músicas e os covers em um canal no YouTube. Uma coisa pequena, para os meus amigos e familiares. Nesse meio tempo, eu conheci a Vitória. Na verdade, a gente se conhecia desde a infância, mas não éramos amigas. Ela era mais nova e, por isso, os grupos eram diferentes. Até que eu vi um vídeo da Vitória cantando uma música da Lorde e a convidei para gravar comigo ? lembra Ana.
Naquela época, ela já tinha deixado Araguaína e partido para Araguari, em Minas. Em uma das férias de 2013, as duas se encontraram e gravaram o primeiro cover. E a música acabou as aproximando cada vez mais. De um desses encontros saiu uma versão simples, voz e violão, de “Um dia após o outro”, de Tiago Iorc ? Vitória é fã de longa data do cantor e compositor brasiliense e ia a todos os shows dele em Goiânia.
Elas então mandaram, sem grandes pretensões, o vídeo para Felipe Simas, empresário de Iorc, que adorou a versão e entrou em contato com as meninas. Na época, eles estavam montando o selo Forasteiro, para lançar artistas independentes. Um dia depois, veio o convite para a gravação, em São Paulo, do primeiro EP de Anavitória. A escolha do repertório do trabalho foi feita em parceria com Iorc e Simas.
? Anavitória é um projeto de quatro pessoas: Ana, Vitória, eu e o Felipe. Somos um quadrângulo de pessoas envolvidas artisticamente. O bonito dessa parceria é que eu venho trabalhando com o Felipe há sete anos e tudo o que a gente aprendeu com a minha carreira tem servido como inspiração para ajudar essas meninas. Usamos as portas que fomos abrindo para mostrar o caminho a elas ? explica Iorc, que também participa do álbum, cantando na faixa “Trevo (Tu)”. Anavitória – Singular
Mas a relação não se baseia apenas no campo profissional. O músico brasiliense, que se prepara para lançar, na segunda quinzena de outubro, o DVD “Troco likes ao vivo”, aparenta uma genuína admiração quando fala do talento de Anavitória:
? É uma paixão mesmo, uma sintonia. Eu vi no trabalho delas, junto com o Felipe, algo especial, verdadeiro, ao mesmo tempo muito poético e lindo porque elas são compositoras das canções delas. Uma sutileza, uma coisa pura e com muita possibilidade de vir ao encontro das pessoas. Por isso, as coisas têm acontecido nessa velocidade para elas.
O RÓTULO DE ‘POP RURAL’ E A TORCIDA DOS FÃS
Anavitória, o duo, é constantemente atrelado ao rótulo de “pop rural”, uma definição que as próprias criaram.
? Eu acho legal porque traz bem o que é a gente, o que é nosso som. É um atrativo para quem não conhece nosso trabalho. É pop porque é uma música direta, que chega com facilidade ao público. E é rural porque é de onde a gente vem, do Norte do Brasil. Todas as nossas influências são de lá ? justifica Vitória.
Do rural de Araguaína, as meninas agora se aventuram na selva urbana de São Paulo, a maior cidade do país, onde dividem apartamento. Um impacto que, garantem, não tem assustado mais.
? No começo, eu estranhei bastante. Aqui em São Paulo é tudo muito grande, muita gente, uma coisa meio agressiva. Estranhei mesmo. Mas, agora, tem um ano e meio que eu estou aqui e, hoje, não me vejo morando em outro lugar ? diz Ana. Anavitória – Anavitória
Apesar da agenda cheia ? depois do Rio, elas têm shows marcados em Araguaína, Manaus, Belém, Belo Horizonte e São Paulo, tudo em outubro ?, as artistas garantem que conseguem ter um tempinho livre. Mas sem muita agitação.
? A gente fica em casa mesmo, vendo série, fazendo vários nada (risos) ? conta Ana.
A repercussão cada vez maior do trabalho e o crescimento do número de fãs também têm seu lado negativo. A grande maioria das publicações da dupla nas redes sociais é acompanhada por comentários de admiradores que “shippam” Ana e Vitória, torcendo para que elas formem um casal ? incentivados pelas trocas de olhares e o clima de intimidade dos clipes que já lançaram.
? Acontece muito, mas isso não nos incomoda ? garante Vitória. ? A nossa música é a mensagem que queremos passar, o que queremos que fique. E isso não deixa de ser uma divulgação, uma maneira da mensagem ficar.
? Se quiser “shippar”, “shippa”. Se não, não “shippa”. Mas escutem Anavitória (risos) ? conclui Ana.