DAMASCO – Enquanto a ONU começou a retomada de ajuda humanitária na Síria, o Exército do regime de Bashar al-Assad anunciou o início de uma nova ofensiva no Leste de Aleppo, uma das regiões mais disputadas no país em 2016. Foram registrados na quarta e na quinta-feira vários episódios de violência na região, com uma estimativa de ao menos 45 mortos. síria
“O comando das operações militares insta os habitantes a se afastarem de regiões controladas pelos grupos terroristas (como a Síria chama os rebeldes)”, escreveu o Exército em um comunicado divulgado pela agência estatal Sana.
Combates nos bairros rebeldes de Aleppo se intensificaram nesta quinta-feira, onde os bombardeios provocaram muitos incêndios. Foram registrados violentos combates nos bairros dos arredores, enquanto no centro as zonas rebeldes estavam em chamas devido aos bombardeios.
Hamza al-Khatib, diretor de um hospital no Leste tomado pelos rebeldes, disse à Reuters que o saldo de mortes foi de 45 pessoas.
“É como se os aviões estivessem tentando compensar todos os dias em que não lançaram bombas” durante o cessar-fogo, disse Ammar al-Selmo, chefe do serviço de resgate da defesa civil no leste de Aleppo.
Um jornalista da AFP explicou que em seu bairro de Bustane al-Qasr bombeiros voluntários passaram a noite toda lutando contra as chamas.
Segundo o Aleppo Media Center, um grupo antirregime, o fogo foi provocado por “bombas de fósforo”. Em um vídeo divulgado pelo grupo, é possível ver uma bola de fogo no céu no que parece ser Aleppo.
“Imagens horríveis de edifícios residenciais em chamas após os bombardeios do regime/russos com bombas de fósforo em Aleppo”, escreveu no Twitter um jornalista local, Hadi al-Abdullah.
O bombardeio ao comboio na região de Aleppo matou 20 pessoas, incluindo um diretor local do Crescente Vermelho Sírio, e destruiu alimentos, roupas de inverno e cobertores. Milhares de sírios ficaram sem assistência.
?Hoje enviamos um comboio (…) com ajuda de emergência para os habitantes de uma zona cercada da província de Damasco?, e a ONU espera enviar outros nestes ?próximos dias?, disse o porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) em um comunicado.
Em um apelo sem precedentes, a ONU solicitou nesta quinta-feira ao presidente sírio, Bashar al-Assad, que permita distribuir os alimentos bloqueados na fronteira turco-síria, ressaltando que alguns perderão a validade na próxima segunda-feira.
“Por favor, presidente Assad, faça a sua parte para permitir que cheguemos ao leste de Aleppo e também a outras áreas sitiadas”, declarou à imprensa em Genebra Jan Egeland, chefe da missão humanitária das Nações Unidas na Síria.
Os Estados Unidos culparam a Rússia pelo ataque contra o comboio, mas Moscou alega que os caminhões pegaram fogo devido a um incidente em terra e não por causa de um bombardeio aéreo.
Em uma reunião no Conselho de Segurança na ONU na quarta-feira, o chanceler russo, Sergei Lavrov, defendeu uma investigação completa e imparcial sobre o ataque. Lavrov afirmou que um cessar-fogo intermediado com os Estados Unidos, em 9 de setembro, só funcionaria se houvesse uma abordagem abrangente com medidas simultâneas adotadas por todas as partes envolvidas na guerra.
O secretário de Estado americano, John Kerry, por sua vez, pediu a aviões que permaneçam em terra para a passagem de ajuda humanitária. O chefe da diplomacia americana exortou ainda os países a pararem de apoiar as partes do conflito que tentem sabotar o acordo de trégua.
O ataque ao comboio ocorreu no dia em que se encerrava uma frágil trégua de uma semana negociada entre EUA e Rússia.