PARIS – O ministro das Relações Exteriores, José Serra, sinalizou um possível distanciamento do Brasil nas negociações com a Organização Mundial do Comércio (OMC) se as demandas por um maior equilíbrio nas relações comerciais não avançarem.
? Com um padrão de comércio geograficamente bem distribuído, o Brasil naturalmente valoriza a OMC, mas a experiência dos últimos dez anos não tem sido recompensadora. Não temos sido capazes de ajustar a assimetria em setores econômicos e ao acesso entre produtos agrícolas e industriais. Não temos sido capazes de dar continuidade às preocupações dos países em desenvolvimento para facilitar sua crescente participação no comércio internacional ? criticou Serra ao discursar no encontro ministerial da OMC, realizado em meio a reunião da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris.
O chanceler condicionou a permanência do Brasil nas negociações da OMC aos seus resultados, e disse que o país está disposto a novos tipos de tentativas enquanto os temas que considera importantes ?continuarem sobre a mesa?.
? No mundo de hoje, acordos comerciais assumem uma diversidade de formatos e originam muitos fóruns. O Brasil vai também seguir este caminho, e permanecerá engajado nas negociações da OMC se elas avançarem ? disse.
Serra elogiou a proibição de subsídios para a exportação de produtos agrícolas, o que ?impediu a total perda de credibilidade do pilar de negociações da OMC?, mas ressalvou:
? Entretanto, a capacidade da OMC em se manter como um fórum de negociação significativo ainda está em questão.
O ministro cobrou um ?avanço sério? na questão dos subsídios domésticos na agricultura, pela definição de uma agenda progressiva de mudanças, ?etapa por etapa?, para eliminar as distorções. O que o Brasil não pode ter hoje na OMC é ?paralisia?, defendeu, sugerindo uma maior exigência por resultados sucessivos nos encontros ministeriais realizados a cada dois anos em vez de se apostar tudo nas grandes rodadas comerciais, como Doha.
Serra defendeu que o Brasil cumpriu seu papel econômico após a crise de 2008, e que é preciso que os países avançados façam agora a sua parte.
? É importante que nossos parceiros agora permaneçam abertos ao comércio e, como foi recomendado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), importantes economias usem o espaço disponível para estimular a demanda. Reequilíbrio não pode ocorrer em uma só via ? alertou.
A próxima conferência ministerial da OMC ocorrerá no final de 2017, e a Argentina foi o primeiro país a se candidatar como sede do encontro.