Cotidiano

Sem resultado da eleição presidencial, equatorianos vivem suspense

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BUENOS AIRES – Numa decisão inédita e que instalou o temor de fraude entre a oposição equatoriana, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país informou que só divulgará o resultado definitivo da eleição presidencial realizada domingo passado até que resolva ?inconsistências? (não detalhadas), o que poderia levar até três dias. O órgão eleitoral interrompeu a comunicação de dados com 88,8% dos votos apurados e um cenário absolutamente incerto: o candidato do governo, Lenín Moreno, alcançava 39,09% dos votos, contra 28,39% do opositor Guillermo Lasso. Para vencer no primeiro turno, Moreno precisa obter 40% ou mais dos votos e uma diferença de pelo menos dez pontos percentuais em relação ao segundo colocado. E apesar de terem mencionado a possibilidade de um segundo turno no começo de abril, as mais altas autoridades do país continuavam cogitando ontem um triunfo definitivo de Moreno. Já Lasso denunciou irregularidades graves na apuração e assegurou que o segundo turno é um fato irreversível.

O presidente Rafael Correa, que pela primeira vez em dez anos não foi candidato, afirmou no Twitter que ainda devem ser contabilizados 1,2 milhão de votos e pediu que seja ?contado voto por voto, para ver se isso se define num só turno?. Analistas locais ouvidos pelo GLOBO consideram pouco provável que o candidato da governista Aliança País consiga impedir um segundo turno, mas não descartaram totalmente essa possibilidade.

Para Felipe Burbano De Lara, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), a tendência parece firme a favor de um segundo turno.

? As informações do CNE são confusas, ninguém entendeu bem por que foi adiada a confirmação do resultado, e a suspeita de fraude está no ar ? comentou. ? A verdade é que o governo, que nos últimos quatro anos perdeu mais de um milhão de votos, não estava preparado para isso.

Muitos elementos fortalecem a posição opositora. Além de várias pesquisas de boca de urna, a contagem rápida de votos realizada pela ONG Participação Cidadã, que tem muito prestígio no Equador, confirmou um segundo turno entre Moreno e Lasso, do movimento Criando Oportunidades (Creo). Na noite de domingo, a ONG apresentou os números de sua contagem rápida: 38,8% para o candidato do governo e 28,2% para Lasso.

O CNE contratou uma empresa privada para realizar sua própria contagem rápida, mas, para surpresa dos equatorianos, não publicou seus dados.

? Este compasso de espera está alimentando os rumores de fraude. Isso nunca aconteceu no Equador ? opinou César Ricaurte, diretor da ONG Fundamedios. ? Todos os dados que temos indicam que Moreno não conseguirá chegar aos 40%, o próprio governo já fala num eventual segundo turno. Mas é preciso esperar.

Ontem, seguidores de Lasso protestaram em frente à sede do CNE em Quito. O candidato opositor já está em campanha para um segundo turno e sua primeira medida foi convocar uma Mesa de Governabilidade, para discutir suas propostas de governo com os demais líderes de oposição. Caso ocorra, de fato, uma queda de braço com Moreno, o ex-banqueiro precisa dos votos de Cynthia Viteri (até agora com 16,29%) e de outros setores para fortalecer sua candidatura.

? Conseguimos um grande triunfo e, sem dúvida, no próximo dia 2 de abril conseguiremos conquistar o governo da mudança ? declarou Lasso.

Seu partido denunciou ?irregularidades no CNE e demora na divulgação de resultados?. Lasso disse, ainda, estar controlando a apuração ?voto a voto? e que considera impossível que ocorra uma mudança de tendência.

? O povo equatoriano vai defender, com valentia, o que foi conquistado nas urnas. Não permitiremos que isso se perca. Info – equador voto

MAIORIA SIMPLES NA ASSEMBLEIA NACIONAL

Já o candidato da governista Aliança País defendeu ainda ter chances de ganhar no primeiro turno. Mas, mesmo tentando mostrar-se confiante numa mudança de tendência, Moreno já parecia assumir que a disputa a partir de agora será com Lasso:

? Agora somos o senhor e eu, senhor Lasso… minha missão é derrotar a candidatura de quem representa o passado, o mais negativo da História do Equador ? afirmou o ex-vice presidente de Correa (cargo que ocupou entre 2007 e 2013), que seria, caso eleito, o primeiro presidente cadeirante do país, em consequência de um assalto violento, em 1998.

Com o panorama indefinido, ninguém se atreve no Equador a cravar um resultado final. A única certeza é que a governista Aliança País perderá mais de 30 cadeiras no Congresso e, em caso de uma eventual Presidência de Moreno, terá maioria simples e não absoluta, como tem Correa atualmente.

? Já sabemos que cerca de 60% dos equatorianos votaram contra o correísmo e que o futuro presidente deverá governar um país em recessão, sem a bonança do petróleo, e sem maioria parlamentar. Ganhe quem ganhar, não será fácil ? explicou Ricaurte.

Se o segundo turno for confirmado, Lasso teria mais margem para ampliar votos do que Moreno, acredita o analista.

? O candidato do governo está praticamente no seu teto. Já seu adversário tem um espaço maior para crescer, com os votos dos demais candidatos opositores. O desejo de uma mudança é grande e deverá uni-los.