RIO ? O Conselho Tutelar de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, recebeu o termo de entrega da guarda de Valéria Correia da Rosa, sobrevivente de um acidente de carro que vitimou sua mãe, seu irmão, seu padrasto e um casal de amigos da família. A menina, de 13 anos, vai morar na mesma cidade com os avós maternos, que acompanham a recuperação da jovem no Hospital Municipal São Luiz Gonzaga desde a colisão do último domingo.
Na manhã desta sexta-feira, Valéria passa por uma cirurgia para reparar a fratura na perna esquerda ? única lesão física, segundo a enfermeira Gene Villanova, que o acidente deixou na menina. Embora o quadro seja estável, ainda não há previsão de alta. Gene explica que a liberação da adolescente vai depender da recuperação no período pós-operatório. A cirurgia estava marcada desde domingo, quando a menina sensibilizou a equipe médica ao insistir em acompanhar o velório da família. Ela acabou levada à cerimônia de maca, já com a perna imobilizada em um procedimento que antecedia a ida à sala de operação.
Apesar da comoção nacional que decorreu do registro do adeus da sobrevivente aos parentes, a família preferiu restringir as visitas do hospital, até mesmo pelo trauma que o acidente significou para Valéria. A decisão de médicos e enfermeiros de abrir uma brecha no tratamento para que a menina fosse à cerimônia visava justamente a não reprimir o sofrimento do luto.
? Me ligaram para que eu ficasse ciente de toda a mobilização para levar a menina ao velório de maca. Ela pedia muito para dar adeus à mãe. O médico traumatologista conversou com o psiquiatra, e eles decidiram liberar porque seria importante haver essa despedida ? frisou Gene, que ressalta a continuidade do acompanhamento psicológico da paciente.
Logística do adeus
O primeiro a ser consultado foi o psiquiatra Augusto Dutra Giacomelli, que explicou ao ?Zero Hora? a importância de ?prevenir a ocorrência de luto tardio e patológico? caso não houvesse despedida. Crucial, inclusive, para a recuperação física de Valéria, cujo quadro já não era grave naquele momento.
O médico Dr Humberto Lengert concordou com a avaliação do colega, mesmo porque a cirurgia de reparação da fratura só ocorreria no fim da semana. A representante do Conselho Tutelar em plantão naquele domingo, por fim, liberou o deslocamento de Valéria, que exigiu uma mobilização atípica da equipe médica.
? Do hospital à capela do velório, a distância era de meio quarteirão. Mesmo assim, como ela estava imobilizada, pedimos uma ambulância da Prefeitura. Enviamos com ela um técnico da enfermaria e chamamos um enfermeiro do município para acompanhá-la. Ficaram lá por cerca de uma hora ? relatou Gene.
Valéria acompanhava a mãe Gisele de Oliveira Correia, de 29 anos, o padrastro Fabiano Irassoque Brum, de 33 anos, e o irmão, Fabiano Ariel Correia Brum, de apenas 8 meses, além de um casal de amigos em uma festa no município vizinho de Santo Antônio das Missões. Na volta para São Luiz Gonzaga, o carro em que estavam bateu em outro veículo na BR-285. O acidente deixou seis mortos. Apenas Valéria e Igor de Santis Moraes, de 30 anos, que estava no outro carro, resistiram à colisão.
A delegada Elaine Schons, responsável pelo caso na Delegacia de Polícia de São Luiz Gonzaga, espera que os laudos da análise da cena do acidente e dos exames toxicológicos cheguem às suas mãos em pelo menos um mês. Como o material é enviado à capital Porto Alegre, ela ressalva, a conclusão do caso pode demorar até mais de três meses.
? Vamos aguardar o resultado das perícias da Polícia Rodoviária e a recuperação dos dois sobreviventes para ouvi-los. Por enquanto, não há pistas sobre o que causou o acidente ? ressaltou Elaine ao GLOBO.