SÃO PAULO. Sem avançar nas principais reformas de ajuste fiscal ? como o corte de gastos do governo no curto prazo, a aprovação da PEC do teto dos gastos do governo, reforma da previdência e redução dos juros ?, os indicadores da economia brasileira vão piorar muito nos próximos anos e o Brasil teria mais uma década perdida em termos de crescimento econômico. A conclusão é de um estudo divulgado nesta segunda-feira pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
De acordo com o estudo, sem reformas, a carga tributária, que atualmente está em torno de 33%, subiria a 44,5%, e o juro real atingiria 10% ao ano até 2026. O crescimento econômico, que seria retomando e poderia chegar a 4,8% em 2026, com as reformas, não passaria de 0,1% nos próximos anos, condenando o país a mais uma década perdida.
? Sem as reformas, nossa carga tributária, que já é a maior da América Latina e uma das maiores do mundo, subiria ainda mais e o juro real chegaria a 10%, o que dificilmente atrairia investimentos. E, em termos de crescimento do PIB, teríamos mais uma década perdida ? resumiu José Ricardo Roriz Coelho, vice presidente da Fiesp e diretor do departamento de competitividade.
Segundo o estudo, sem as reformas, a dívida pública, como proporção do PIB, chegaria a 167,4%, enquanto que com as reformas implementadas ela tende a ficar em 75% até 2026. Em julho passado, essa proporção estava em 69,5%.
O estudo mostra que enquanto o PIB cresceu 48,7%, entre 2001 e 2015, as despesas do governo avançaram 128%, com as receitas avançando 85,1%. Até recentemente, a conta do descontrole do gasto fechava com o crescimento das receitas, mas estas começaram a declinar ainda no final do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, quando a economia brasileira perdeu fôlego.
Roriz observou que somente a aprovação do teto dos gastos do governo não será suficiente para o ajuste fiscal e para reduzir os gastos do governo. Isso porque as despesas obrigatórias continuarão crescendo, entre elas a Previdência. Segundo o estudo, sem um reforma, a Previdência passará de 41% para 52% do total da despesa do governo entre 2016 e 2022.
O estudo afirma ainda que é necessária uma redução da taxa básica de juros antes mesmo das reformas. De acordo com o levantamento, em janeiro deste ano a inflação oficial estava em 10,7% enquanto a Selic era de 14,25%.
? Em julho, enquanto a inflação está em 8,7% a Selic permanece em 14,25%. Ou seja, em termos reais, os juros aumentaram de 3,5% para 5,4% em seis meses. No final de 2017, a expectativa do mercado é de uma inflação de 5,1% e da Selic em 11%, o que sinaliza um juro real de 5,9%, o que mostra que o juro real vai continuar subindo até o final 2017 ? disse Roriz.
O estudo defende um corte de juros de 3 pontos percentuais ainda este ano e de 1,75% em 2017, com a Selic chegando a 11,25% este ano e 9,5% no ano que vem, já que somente com a queda dos juros a economia se recupera e a arrecadação de impostos sobe.
Ainda segundo o estudo, a participação da indústria no PIB caiu a níveis dos anos 1940. Era de 21,6% d PIB em 1985 e atualmente está em 11,4%. De acordo com o estudo, o desalinhamento cambial e o chamado custo Brasil são responsáveis pela desindustrialização do país.
? Há um diferencial de 30,1% de preços entre o produto nacional e o importado por causa desses fatores ? diz Roriz, observando que os empresários têm um retorno mais generoso aplicando em renda fixa do que na produção industrial.