RIO ? Nome forte do rock nordestino há alguns anos, a cearense Selvagens à Procura de Lei lançou, no começo do ano, seu terceiro álbum de estúdio, batizado de “Praieiro” ? o primeiro registro da banda desde que Rafael Martins (voz e guitarra), Gabriel Aragão (voz e guitarra), Caio Evangelista (voz e baixo) e Nicholas Magalhães (voz e bateria) trocaram Fortaleza por São Paulo, o que, segundo eles, influenciou diretamente no resultado do trabalho.
Nesta quinta-feira, como parte da turnê do disco, a banda, que já se apresentou em grandes festivais como o Lollapalooza, volta ao Rio para tocar no Imperator, pelo evento Rio Novo Rock, em noite que contará ainda com a carioca Posada e o Clã, liderada pelo vocalista Carlos Posada. Selvagens à Procura de Lei – Tarde Livre (Clipe Oficial)
Antes da festa desta noite, Rafael Martins bateu um papo com o GLOBO para falar um pouco sobre a maturação de “Praieiro” e a estreia na casa do Méier. Leia abaixo:
Que lembranças vocês têm do show de lançamento de “Praieiro” no Teatro Odisseia?
Depois da tour de divulgação do segundo disco, passamos um certo tempo sem ir ao Rio e aí quando fomos lançar o “Praieiro” deu pra sentir que os nossos fãs cariocas estavam com muita vontade de curtir o nosso show. Foi incrível, sempre gostamos de tocar no Rio e principalmente do publico carioca que é bem empolgado e curte rock.
E o que pretendem trazer de diferente para esta apresentação no Imperator? Vocês já tocaram na casa? Conhecem o projeto?
Vai ser nossa primeira vez no Imperator e com certeza o nosso show com maior número de fãs e curiosos. Fizemos esse ano duas vezes no Teatro Odisseia e uma em Duque de Caxias. Já tinhamos feito show tambem na Audio Rebel e abrimos para o Imagine Dragons em 2014 no Citibank. Acredito que o show de quinta vai ser o de maior respaldo pra nossa carreira no Rio, sei que é um pico onde a galera frequenta por ter vários shows de bandas autorais e isso é o que precisa rolar mais e mais. Sinto que cada vez que fazemos show aí estamos deixando nossa marca em terras cariocas porque o publico sempre é maior quando voltamos.
“Praieiro” soa como o disco que vocês mais misturaram influências diferentes. Agora, meses depois do disco na praça e tendo tocado-o tantas vezes ao vivo, como vocês avaliam essa opção (e o disco como um todo)?
Foi ótimo poder registrar no disco a vibe em que estávamos durante a concepção do disco e a gravação. Tudo aconteceu de forma natural e foi fluindo dentro do estúdio até chegar onde chegamos. São composições que flertam com outros estilos (reggae, funk, disco, xote) e tudo isso já estava dentro do nosso som, apenas nunca tinha sido explorado. O show ficou mais rico. Agora tem a hora de bater cabeça, a hora de dançar e a hora reflexiva psicodélica. O que importa é que a nossa essência continuou a mesma: fazer música de forma sincera, sem querer agradar aos outros e principalmente botando pra fora tudo aquilo que está preso no peito. Somos uma banda essencialmente de rock, mas a cada trabalho queremos nos inovar. SAPDL – Praieiro
O fato do disco ter sido financiado por crowdfunding trouxe uma maior liberdade criativa para vocês neste sentido?
Sempre tivemos liberdade criativa, não alterou em nada. O que mudou foi que o projeto gráfico do álbum, a comunicação do disco envolve totalmente nossos fãs. O disco também é deles, é de todos nós. Somos muito gratos aos nossos fãs que nos apoiam em tudo que fazemos e com o crowdfunding não foi diferente, deu super certo.
Vocês moram em São Paulo há quase três anos. Como a mudança para uma cidade tão grande impactou vocês enquanto banda e enquanto indivíduos? E de que maneira isso influenciou no resultado final de “Praieiro”?
Foi uma mudanca de ares bem significativa pras novas letras, músicas e pra mudançaa pessoal de cada um. Passamos a nos reconhecer mais como cidadãos do mundo, perceber que o Brasil é muito grande e que existem realidades diferentes foi revelador. Lembro que quando chegamos lá eu comparava muito com Fortaleza, e tudo isso foi entrando no “Praieiro” de forma questionadora, como em “Sangue Bom”, que fala sobre poder andar a pé e sobre a visão política que passou a mudar com as andanças e experiências na capital paulista. São Paulo hoje é onde vivemos, adoramos a cidade e existem milhares de opções pra cultura. Lá é onde conseguimos impulsionar nossa arte de forma mais abrangente, mas Fortaleza sempre será a nossa terra. Esse sentimento também veio à tona quando percebemos que o “Praieiro” trata-se da nossa vida em uma nova fase, é a nossa praia em SP.
Aliás, muita gente entendeu o disco como uma grande mensagem de saudade de Fortaleza, mas não é isso, certo?
Não não, talvez lá durante esses anos a gente tenha se voltado mais pras nossas raízes, mas por se tratar de um disco quente, meio rock de praia, tropical, ficou mais do que claro que tínhamos que mostrar a nossa cidade natal nos clipes, nas fotos, nas letras e em tudo mais. Chegamos em Sampa no segundo disco e lá fizemos muitas coisas na divulgação do segundo disco, na época lançado pela Universal Music e que tinha um teor mais introspectivo, reflexivo e rock n roll. Considero o “Praieiro” um disco que fala muito sobre esses primeiros três anos de vivência em SP e que se resume às nossas vidas. Muito do que passamos em SP e na estrada está registrado ali.
Vocês costumam ter uma abordagem política em algumas de suas composições. Como vocês avaliam esse momento turbulento do país? E isso já tem inspirado vocês a criar coisas novas?
Foram anos conturbados, com vários escândalos políticos e pouco esclarecimento de fato pro povo. Estamos numa época em que as pessoas estão tomando conclusões baseadas em redes sociais, em discursos inflamados e em manifestações ódio. Sem dúvida é um momento marcante no Brasil e que a cada dia se torna mais difícil prever o amanhã, mas uma coisa é certa: as pessoas não estão mais tão alienadas quanto a isso e as possibilidades de mudança virão com essa força, com as manifestações, com as novas formas de se fazer política. Precisamos ver as coisas andando, a engrenagem rolando e o país evoluindo. Acredito no Brasil e sim, letras novas virão a partir desse sentimento. Mesmo com tudo que aconteceu, sinto que precisamos acreditar no nosso país e na democracia. Caso contrário, estaremos nos entregando e sendo cúmplices de todo o desastre causado pela corrupção, jogo sujo e bandidagem que faz parte da nossa política.
SERVIÇO
Rio Novo Rock com Selvagens à Procura de Lei e Posada e o Clã
Onde: Imperator ? Rua Dias da Cruz, 170, Méier (2597-3897).
Quando: Nesta quinta-feira, às 19h.
Quanto: R$ 20.
Classificação: 16 anos.