BRASÍLIA – Depois de forte cobrança dos deputados, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta terça-feira que fará a leitura do relatório do processo contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no plenário na próxima segunda-feira. Ele afirmou, porém, que a data para votar o processo de cassação em plenário, que não tranca a pauta, dependerá da aprovação do projeto da renegociação da dívida dos estados com a União, ainda emperrado na Casa.
Maia definiu a data ao responder a um questionamento do deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), um dos responsáveis por representar contra o ex-presidente da Casa no Conselho de Ética, onde o relatório que pede a cassação do deputado foi aprovado por 11 votos a 9. Depois, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) rejeitou o recurso de Cunha, abrindo o caminho para a cassação de seu mandato.
– Peço a Vossa Excelência que tenha uma resposta clara e precisa sobre o caso de Eduardo Cunha, que faça a leitura no começo da semana que vem no máximo, para que a campanha eleitoral comece com cada parlamentar dizendo aos seus eleitores como votou no processo de cassação. Cunha é réu por crimes gravíssimos contra a administração pública e que acabam se confundindo com todos nós se permitirmos que ele continue aqui, mesmo afastado, mesmo não fisicamente presente – disse Molon.
Maia respondeu imediatamente, marcando a leitura para segunda-feira. Ele negou que o assunto seja um tabu para ele. O presidente da Casa era aliado próximo de Cunha, mas se afastou dele nos últimos meses.
– Não é nenhum tabu, (não lemos porque) não tivemos nenhuma sessão, mas a gente pode fazer essa leitura na segunda-feira – respondeu.
Rodrigo Maia vinha sendo cobrado por vários parlamentares para resolver a questão de Cunha no plenário ainda em agosto. Desde que assumiu, o novo presidente adotou tom cauteloso, sempre afirmando que esperaria uma sessão com quorum alto para pautar o processo de cassação do peemedebista, para não correr o risco de ter que marcar uma data e depois remarcá-la.
Nesta terça, além de Molon, também pressionaram Maia os deputados Ivan Valente (PSOL-SP), Henrique Fontana (PT-RS) e a líder da Minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Jandira apresentou uma questão de ordem, mas Rodrigo Maia não respondeu na hora e ainda passou a palavra para o orador que aguardava na tribuna, o deputado Simão Sessim (PP-RJ). Ela insistiu de forma enfática na cobrança:
– Vossa excelência não vai responder? – perguntou.
– Não – disse Maia, passando novamente a palavra para Sessim.
– Começou bem sua gestão – ironizou Jandira.
– Obrigado – retrucou Maia.
Na eleição para a Presidência da Câmara, na qual Maia foi eleito, o PCdoB anunciou publicamente apoio ao deputado no segundo turno. Ao contrário de outros deputados da legenda, Jandira fez questão de dizer que não tinha colaborado para a vitória de Rodrigo Maia e que não participou da votação em segundo turno. No primeiro turno, o partido lançou o deputado Orlando Silva (SP) candidato.
O líder do PT, Afonso Florence (BA), usou a tribuna, mas não fez a cobrança direita a Maia. Mesmo sem anunciar publicamente, parte da bancada do PT apoiou Rodrigo Maia, colaborando para sua vitória. Logo depois de eleito, Maia fez questão de agradecer Afonso Florence pelo apoio.