Cotidiano

Robert Summers, engenheiro ambiental: 'As ruas do Centro são mais limpas do que as de Baltimore'

 “Cresci e vivi a maior parte da minha vida em Baltimore, Maryland. Em 1983, comecei a trabalhar na restauração da Baía de Chesapeake, à qual dediquei toda a minha carreira. Comecei como engenheiro e saí, ano passado, como secretário de estado de Meio Ambiente. Também trabalhei na limpeza da regiã portuária de Nova York.”

Conte algo que não sei.

Suas ruas aqui no Centro são mais limpas do que as de Baltimore. Parecem fazer um bom trabalho em limpar o lixo nesta área. Não fui longe, mas o entorno aparenta estar melhor do que vi no passado.

Qual a importância de as pessoas perceberem isso?

Quando elas têm um ambiente mais limpo, têm orgulho disso e ajudam a manter assim. São mais saudáveis, porque ficam menos expostas a doenças. Têm mais opções recreativas. E, economicamente, é um impacto enorme: se você quer trazer um grande negócio para cá, precisa oferecer um bom ambiente.

O que mais chamou sua atenção aqui?

Quando cheguei ao hotel, em Copacabana, vi do terraço muita gente na areia da praia, mas poucas pessoas no mar. Naquela noite chovera forte e, no dia seguinte, havia um rio desembocando na praia, em frente ao hotel! Seria de água pluvial, mas era definitivamente muito poluído. Isso ocorrer numa praia famosa mundialmente foi surpresa para mim.

Em algum momento sua baía esteve mal como a nossa?

Em Baltimore, antes das estações de tratamento, a Baía de Chesapeake era muito ruim. Houve uma epidemia de cólera na cidade que matou muita gente. Começamos a trabalhar no sistema de esgoto e cometemos muitos erros, porque era algo novo. Isso há 100 anos. De tão antigo, está começando a falhar. Hoje, estamos repondo tudo. Aqui, vocês estão fazendo pela primeira vez. Com a troca de experiências, vocês podem fazer muito mais rápido, mas será preciso um forte comprometimento.

É possível? Muita gente já está desesperançosa.

É difícil e caro, mas é possível. Demanda esforço de longo termo. Mas o que aprendemos na Baía de Chesapeake foi que é essencial definir metas de curto prazo. Fizemos várias, para cada dois anos, e esses objetivos eram muito divulgados. Assim, os cidadãos sabem que o governador, mesmo que só fique um mandato, terá ao menos duas metas viáveis a cumprir. Fizemos um boletim para acompanhamento, que estamos fazendo também aqui no Rio. São fundamentais o engajamento e a cobrança da população.

O estado está em crise e os investimentos são altos…

Claro que não é de graça. Em Maryland, para refazer o sistema de tratamento de esgoto, que custará US$ 4 bilhões, criamos uma taxa. Custa US$ 60 ao ano e vai para um fundo dedicado à restauração da baía. Assim, as pessoas se sentem conectadas.

O que tem que ser feito, já?

Vocês estão à beira-mar, e a qualidade da água na entrada da Baía é relativamente boa. Então, se forem corrigidos os problemas de saneamento na parte densamente povoada e mais poluída, ela se limpará rapidamente. Mas não para por aí: têm que se recuperar a vida, os mangues, para ter um ecossistema saudável. Há muito a ser feito, mas, com objetivos de curto prazo, transparência e engajamento dos cidadãos, é possível.

O que o leva a acreditar que desta vez teremos sucesso?

As impressões que tenho após as reuniões. Vocês têm boas universidades e cientistas muitos bons. Sabem quais são os problemas e como resolvê-los. É preciso reunir cientistas, órgãos públicos e cidadãos, para que todos entendam o que precisa ser feito. E trabalhar juntos. É algo que faltou na história da Baía de Guanabara e é um ponto crítico para que agora a limpeza funcione.