NITERÓI ? Os heróis não foram apresentados e a ameaça ainda é desconhecida, mas o cenário está posto. O primeiro quadrinho da HQ ?Protocolo: a Ordem? mostra a Baía de Guanabara, com o Cristo em primeiro plano e o Pão de Açúcar ao fundo. Já o segundo traz a Ponte Rio-Niterói. Em seguida, a ação se desenrola pela via e o Capitão R.E.D, personagem criado pelo niteroiense Elenildo Lopes, leva uma surra de um grupo de mascarados. Outros heróis se juntam a ele ao longo da história, num total de 47 vigilantes nacionais, criados por 33 artistas brasileiros.
Esses eventos são comuns nas duas grandes editoras americanas, a Marvel e a DC Comics. As turmas, tanto a de Homem-Aranha, Capitão América e X-Men quanto a de Super-Homem, Batman e Mulher-Maravilha, de vez em quando se encontram em histórias que envolvem o combate a um mal comum. Mas, no Brasil, é primeira vez que uma HQ neste estilo é lançada.
? Nós temos muitos heróis nacionais, e é preciso que os brasileiros conheçam esses personagens. Eu vou sempre lutar por isso. Quando a gente começou o projeto, houve muitas críticas. Hoje, mostramos às pessoas, às crianças, e elas se identificam. São personagens com histórias diversas, de todos os cantos do país. Sempre há um com quem se identificar ? diz Lopes.
O projeto foi lançado pela primeira vez em 2014, na plataforma de financiamento coletivo Catarse. A empreitada inicial não deu certo, já que o valor a ser arrecadado, R$ 45 mil, não foi alcançado. Depois, em 2015, com o modelo reformulado, a meta foi cumprida:
? A primeira tentativa envolvia profissionais consagrados da área, que já têm uma carreira estabelecida no exterior. Agora, chegamos à quantia desejada, menor, porque os próprios criadores dos personagens trabalharam na revista.
O trabalho foi feito a muitas mãos. Lopes editou e Thiago da Silva Mota, criador do ninja Dragão Negro, foi o roteirista. Já os desenhos ficaram por conta de Ton Marx.
? O Thiago, que é de São Paulo, era o mais preparado para fazer o roteiro, já que ele coleciona a maioria das revistas, conhece a fundo os personagens. Eu, Augusto Velazquez e ele criamos o argumento e ele consolidou ? conta Lopes.
A trama gira em torno de O Crânio, um herói alienígena radicado no Brasil, que perdeu a memória quando jovem. Os personagens se unem quando seu irmão, o vilão Krok, chega ao planeta, em busca de seu parente e dos recursos naturais da Terra.
? O Crânio foi criado por Francinildo Sena e é um dos personagens mais antigos, que mais têm revistas publicadas. Por causa de sua importância e porque ele é alienígena, resolvemos usar a sua história para criar a ameaça exterior ? diz.
Apesar de o projeto ter sido concluído, os criadores das HQs lamentam o fato de que os quadrinhos de heróis brasileiros não sejam um sucesso. Segundo eles, o público consome muito mais as histórias que vêm dos Estados Unidos; e os artistas mais consagrados do país, principalmente os desenhistas, trabalham fora, na Marvel ou na DC.
? Historicamente, existe um pensamento de que os brasileiros não gostam de heróis nacionais. Talvez por isso, grandes autores nacionais, como a dupla Fábio Moon e Gabriel Bá, e Rafael Grampá, tenham se dedicado ao mercado independente, fazendo incursões no mundo dos heróis só quando convidados pelas grandes editoras internacionais ? diz.
Lopes e seus colegas lutam para mudar o quadro. O segundo volume de ?Protocolo: a Ordem? já está em desenvolvimento. Ele também prepara a edição número dois da HQ do Capitão R.E.D. O primeiro volume saiu em 2012.
? Tínhamos parte do roteiro e muitas artes do projeto frustrado de 2014. Então, vamos levar os heróis a um universo paralelo e aproveitar o material já produzido ? avisa.
O primeiro contato de Lopes com os quadrinhos foi, claro, na infância. Como a maioria das crianças de sua geração, ele, que tem 33 anos, era vidrado nas histórias da Turma da Mônica.
? Quando era pequeno, eu lia e desenhava os personagens. Depois, vi os Cavaleiros do Zodíaco e pirei. Hoje, sou ainda muito ligado aos mangás japoneses e aos clássicos, como os do Batman: ?Ano um?, escrito pelo Frank Miller; e ?A piada mortal?, feito pelo Alan Moore. Gostei muito também do quadrinho da versão jovem do Astronauta, da Turma da Mônica, roteirizada pelo Danilo Beyruth ? revela.