Cotidiano

Resultado da economia veio pior que o esperado

RIO – O recuo de 0,6% da economia brasileira no segundo trimestre deste ano veio pior que o esperado por especialistas. De acordo com Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe da ABC Brasil, a expectativa era de uma queda de 0,5% entre os meses de abril e junho. Para ele, o resultado veio ruim. Ele destacou ainda a revisão do primeiro trimestre deste ano feito pelo IBGE, que passou de uma retração de 0,3% para -0,4%.

– O resultado veio ruim. O primeiro trimestre veio pior e a queda de 0,6% no segundo trimestre mostra um cenário ainda pior. Mas, apesar do resultado, o PIB representa um copo meio vazio e meio cheio. É meio vazio porque houve recuo do consumo das famílias (-0,7%) e o tombo do setor de serviços, de -0,8%. O menor consumo foi causado pela queda da renda, afetada pelo avanço do desemprego, a restrição do crédito e a inflação ainda alta. E é meio cheio porque houve avanço na formação bruta de capital fixo ( +0,4%) e nas importações (+4,5%). Esses dois grupos avançaram não porque houve aumento de investimentos em si e sim uma reposição de capital, já que nos trimestres anteriores a indústria tinha até parado de fazer manutenção – disse Leal..

Ele destaca, no entanto, que, pela primeira vez, a recuperação da economia vai se dar pela retomada dos investimentos e não pelo consumo das famílias, como tradicionalmente ocorreu no Brasil.

– Por isso, a recuperação da economia será mais lenta. Até porque os juros ainda estão muito altos. Investimento novo mesmo só deve ocorrer em 2017. Nos doze meses, a formação bruta de capital fixo já mostra uma reversão de tendência (houve queda de 15,1%). Chegamos no segundo trimestre no fundo do poço. E, agora, no terceiro trimestre, vamos começar a reverter. A expectativa é que entre os meses de julho e setembro ocorra queda entre 4% e 4,5% do PIB. Para o ano, mantive a expectativa inicial, de 3,1% – apontou Leal.

Apesar da expectativa menos pior, o economista estima ainda que o consumo das famílias deve continuar piorando, assim como o setor de serviços. Isso porque a taxa de desemprego deve passar dos atuaisa 11,6% para algo entre 12,5% e 13% no primeiro trimestre de 2017, quando deve atingir o ápice.

– A indústria foi a primeira a sentir a crise e a primeira a fazer os ajustes. Agora, o setor de serviço sente os reflexos do desemprego, que vai piorar – destacou.

Em relatório, a Gradual disse queo resultado da economia veio pior que o esperado. André Guilherme Pereira Perfeito, economista-chefe da Gradual, projetava alta de 0,6%. Ele destacou que, mesmo com o avanço da formação bruta de capital fixo, a razão entre investimento e PIB continua em 16,8%. “Apesar da melhora do otimismo empresarial, o que é uma boa notícia em si, os dados de ociosidade impedem que intenção vire gesto. Os dados de Utilização da Capacidade Instalada medidos pela FGV estão nos piores patamares e a produção de Bens de Capital conta com a maior ociosidade da história recente”, destacou ele em nota.

Por isso, ele acredita que o PIB deste ano deve permanecer muito baixo. “A persistência na demanda fraca somada a ociosidade sugere também uma recuperação muito lenta nos próximos trimestres. Ainda não refizemos nossas projeções, mas por hora iremos manter o PIB de 207 em apenas 0,5% de alta”, destacou Perfeito.