Cotidiano

Renan corre para ter agenda positiva antes de deixar comando do Senado

renan-calheirosBRASÍLIA ? O destino do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que reinou no Congresso, influenciou a República e deixará o cargo em pouco mais de dois meses, ainda é incerto. Mas ele tem aproveitado cada minuto no comando do Senado para pressionar pela aprovação de uma agenda positiva e de medidas de interesse dos políticos com problemas na Justiça, como a votação da urgência do projeto de abuso de autoridade, previsto para o dia 6. No próximo dia 1º, entretanto, ele pode se tornar réu no julgamento do primeiro dos 12 inquéritos a que responde no Supremo Tribunal Federal (STF), a maioria deles no âmbito da Operação Lava-Jato.

Nos bastidores, Renan ajudou a articular a votação da anistia ampla, geral e irrestrita para o caixa dois na Câmara e a liberação de parentes de políticos no projeto de repatriação de recursos não contabilizados no exterior. Ele tem usado parte dos seus últimos meses no comando do Senado para contra-atacar, principalmente, com ações que atingem o Judiciário, como a comissão que levanta os supersalários nos três poderes. Ao mesmo tempo, analisa, junto a aliados, as possibilidades para seu futuro político a partir do próximo ano.

Desde que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve o seu mandato cassado, após ter sido afastado do cargo por tentar obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, o presidente do Senado, Renan Calheiros, tornou-se um alvo prioritário, e sua reação foi atirar contra quem o investiga. Tirou da manga dois projetos de lei e atua com vigor para aprová-los até 15 de dezembro, quando se inicia o recesso no Congresso: o que define os crimes de abuso de autoridade e o que acaba com os salários acima do teto constitucional. Inicialmente voltado aos juízes e desembargadores que engordam seus contracheques com penduricalhos, o projeto atingirá ministros do Executivo, deputados, senadores e servidores dos três poderes.

futuro ainda não definido

Renan Calheiros escolheu a dedo medidas que afetam diretamente juízes e procuradores, mas que encontram respaldo generalizado na sociedade. Ele ainda não decidiu que caminho seguirá a partir de 1º de fevereiro do próximo ano, quando seu sucessor será eleito. Tem analisado as alternativas possíveis para alguém em sua situação, que já ocupou alguns dos cargos mais importantes na política do país, mas pode se tornar réu a qualquer momento. A aliados, disse nos últimos dias não saber o que poderá fazer a partir do próximo ano, mas vem sendo aconselhado a manter-se discreto ? o que, para seus colegas, é a receita mais indicada para ficar fora do foco das investigações.

? Ele se fechou em copas. Quer aproveitar todo o tempo que resta na presidência do Senado ? contou um peemedebista próximo a Renan.

Um dos cenários mais prováveis, hoje, é que Renan assuma a liderança do PMDB no Senado, atualmente ocupada por Eunício Oliveira (PMDB-CE). Outras possibilidades também são aventadas. Uma delas seria passar a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Esse é o colegiado mais prestigiado no Congresso, pois por lá passam todos os projetos importantes. Ao mesmo tempo, seria um cargo com menos holofotes que a liderança do partido.

Mas aliados de Renan dizem que ele tem feito de tudo para agradar a seus colegas no Senado. Criar uma rede de proteção que possa salvá-lo de eventuais processos tem sido sua prioridade zero, mesmo que isso signifique ter de abrir mão de qualquer cargo de destaque para contemplar outros senadores. Uma outra opção, que seria sua nomeação para um ministério no governo Temer, é descartada.

? O ministério não vai acontecer. Michel não é doido de convidar, e Renan não é doido de aceitar ? resume um interlocutor do presidente do Senado.