MADRI – Após dez meses sem um governo formal, a Espanha deu fim ao impasse político mais grave de sua História recente: o Parlamento concedeu um voto de confiança e garantiu o segundo mandato do conservador Mariano Rajoy como presidente do governo. A votação no Legislativo veio depois de duas eleições gerais que deram vitória a seu Partido Popular (PP), mas sem conseguir formar coalizões. A sessão abriu caminho a um frágil governo de minoria por conta da abstenção de seu principal rival, o Partido Socialista Operário (PSOE). Rajoy vinha governando interinamente desde dezembro.
Tendo alcançado um número de 11 abstenções, o PSOE abriu caminho para que a sessão desse maioria absoluta de 176 deputados. A decisão não garante estabilidade política a Rajoy, que terá que negociar com o Congresso diretamente aval a propostas, já que o PP tem apenas 137 assentos do total de 350 do Parlamento.
? Não peço um cheque em branco, peço um governo previsível ? disse Rajoy, derrotado na primeira votação, na quinta-feira.
Depois de uma rebelião interna que terminou com a renúncia do líder do PSOE, Pedro Sánchez, a legenda instruiu seus membros a se absterem do voto de confiança. Sánchez anunciou horas antes da votação no Parlamento a sua renúncia formal, afirmando “discordar fortemente de um governo de Rajoy”.
? Não posso abandonar o meu partido, mas também não posso quebrar o meu compromisso com milhões de eleitores.
O PP teve mais votos que os rivais nas eleições de dezembro e junho, e Rajoy resistiu aos apelos de opositores para se afastar e permitir que outro líder do PP tentasse formar uma coalizão com o PSOE e com o jovem partido liberal Cidadãos.
Apesar da minoria no governo, o resultado é uma vitória para Rajoy, de 61 anos. Depois de vencer a eleição de 2011, Rajoy cortou gastos públicos para enfrentar o crescimento da dívida enquanto a Espanha passava por uma severa recessão. O desemprego subiu a 27 por cento e os bancos do país precisaram de um resgate de 41 bilhões de euros da União Europeia.
Mesmo com uma taxa de crescimento econômico anual de 3%, o país tem uma taxa de desemprego de 18,9% e a maioria dos seus habitantes ainda sofre as consequências da crise. Mas se não puder governar confortavelmente, Rajoy ainda poderá dissolver o Parlamento e convocar novas eleições, um cenário que os socialistas querem evitar a todo o custo.