Cotidiano

Quem é Aloysio Nunes, novo ministro das Relações exteriores

59600989_Brasil Brasília BsB DF 07-06-2016 - Impeachment - Na foto o sendor .jpgSÃO PAULO ? De homem de confiança de Carlos Marighella na luta armada a quadro de destaque do PSDB. Ao longo de sua trajetória, o novo ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, se transformou de uma radical militante de esquerda em um político autor de propostas associadas a setores conservadores, como a redução da maioridade penal para crimes hediondos.

Ao mesmo tempo, o tucano de 71 anos acumulou postos de destaque como ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, homem forte do governo José Serra em São Paulo e vice na chapa presidencial de Aécio Neves em 2014. Apesar de ter assumido a linha de frente da oposição nos 13 anos do PT no Planalto, nunca se constrangeu em falar da amizade que mantém até hoje com o ex-ministro José Dirceu, seu ex-colega de movimento estudantil.

Aluno de direito do Largo São Francisco, a mesma faculdade do presidente Michel Temer, Aloysio iniciou a carreira política como presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, em 1967. Era filiado ao PCB, que estava na clandestinidade. Foi nessa época que conheceu Dirceu, então presidente do União Estadual dos Estudantes (UEE).

Logo em seguida, se juntou aos quadros da Ação Libertadora Nacional (ALN) e entrou na luta armada.

Foi motorista de Marighella, o principal líder da ALN, em algumas ações e chegou a participar do célebre assalto ao trem pagador Jundiaí-Santos, em 1968. Coube ao futuro ministro das Relações Exteriores, dirigir um dos carros e guardar o dinheiro roubado que seria usado para financiar as ações armadas do grupo. Durante o período na clandestinidade, adotou, entre outros, os codinomes de Mateus e Lucas.

No mesmo ano do assalto ao trem pagador, foi enviado por Marighella a Paris, onde se transformou em uma espécie de embaixador da guerrilha brasileira. Cabia a Aloysio fazer contato com políticos e publicações europeias de esquerda para angariar apoio ao movimento brasileiro. Chegou a se filiar ao Partido Comunista Francês.

Anos depois, ao falar sobre o passado de guerrilheiro, Aloysio dizia ter uma visão “absolutamente crítica” do movimento não só por ser uma tática equivocada, como por combater a ditadura por “uma via que não era democrática”.

Procurado no Brasil pelo ditadura, viveu na Europa até a anistia, em 1979. De volta ao país, foi eleito, em 1982, deputado estadual em São Paulo pelo PMDB. Não participou da primeira leva de peemedebistas que deixou o partido para fundar o PSDB. Antes de mudar para o ninho tucano, foi vice-governador de São Paulo, no mandato de Luiz Antônio Fleury Filho, entre 1991 e 1994.

Já no PSDB, entre 2001 e 2002, ocupou o Ministério da Justiça. Em seguida, se aproximou do seu antecessor na pasta de Relações Exteriores, José Serra. Foi o seu braço-direto tanto na Prefeitura de São Paulo (2005.-2006) como no governo do estado (2007-2010). Mesmo com os ataques duros do PSDB ao PT na época do escândalo do mensalão em 2005, manteve contatos com o amigo Dirceu, que teve o mandato de deputado federal cassado por causa do episódio.

Em 2010, Aloysio foi eleito senador. Na disputa presidencial daquele ano, se opôs que o PSDB usasse o passado de ex-guerrilheira para atacar a petista Dilma Rousseff, adversária de Serra naquela disputa. Na época da ditadura,Dilma era integrante de uma outra organização, a VPR-Palmares.

No Senado, Aloysio assumiu a linha de frente da oposição ao governo da sua ex-colega de luta armada. Assim como Serra, o seu antecessor no ministério, era um crítico duro da política externa dos governos petistas e defensor, por exemplo, de sanções à Venezuela por causa da escalda autoritária do governo de Nicolás Maduro. Em 2015, viajou com outros parlamentares brasileiros para o país e foi hostilizado, causando uma crise diplomática.

Ao ser escolhido vice de Aécio na chapa presidencial em 2014, esfriou um pouco a sua relação com Serra, rival do senador mineiro na disputa interna do PSDB. No Senado, Aloysio apresentou uma proposta de Emenda Constitucional (PEC) para reduzir a maioridade penal para 16 anos em casos de crimes hediondos. Pela proposta, que recebeu críticas de movimentos de direitos humanos, caberia ao juiz ouvir o Ministério Público e decidir se o menor seria julgado de acordo com o Código Penal ou com o Estatuto da Criança e Adolescente. O projeto ainda está na Comissão de Constituição e Justiça da Casa (CCJ).