BERLIM ? Alguns dos seus colegas foram embora para a Síria para lutar ao lado do Estado Islâmico. Mas Dominik Schmitz, 28 anos, resolveu por um freio à sua radicalização ao ver o que a ideologia fazia dos seus adeptos. Hoje, três anos depois de deixar o salafismo, reconhece em vídeos do grupo extremista amigos convertidos ao islamismo na pequena cidade de Mönchengladbach, no coração da província alemã.
Dominik tinha 17 anos quando resolveu deixar escola e família para se tornar um soldado do islã. Viveu sete anos junto aos islamistas, mas um dia, ao ver que o seu grupo estava se radicalizando demais, resolveu se desligar. O filho de um policial e de uma ajudante de farmácia vive hoje em Colônia, a cidade da famosa catedral que é um dos principais símbolos do catolicismo europeu e por isso frequentemente alvo de ameaças dos jihadistas. Ele acaba de escrever um livro sobre o ciclo vicioso que faz os jovens, filhos de imigrantes e alemães étnicos, terminarem como carrascos de execuções ou homens bomba do Estado Islâmico.
O que leva um adolescente alemão a aderir ao extremismo islâmico?
Os motivos são complexos e seria impossível descrever em uma palavra. Trata-se de um longo processo, que começa, talvez, com a necessidade do calor de uma família. Os meus pais se separaram quando eu tinha 5 anos. Na casa da minha avó materna, havia muitos santos nas paredes mas a minha religião, o catolicismo, não oferecia as respostas pelas quais eu ansiava sobre as grandes questões da vida, o sentido da existência. Quando eu tinha 17 anos, ouvi um amigo falar de Alá, sobre uma religião sem Papa ou bispos. Por outro lado, havia o componente da rebelião contra os pais e a sociedade. Eu queria me tornar uma pessoa especial. EI_0506
O que mudou na sua vida depois de aderir ao grupo dos salafistas de Mönchengladbach?
Larguei a escola, me distanciei de todos os amigos, deixei a barba crescer e dedicava uma boa parte do dia às orações. Outra mudança radical foi em relação às mulheres. Quando as víamos de minissaia ou blusa decotada, olhávamos para o lado. O mesmo quando estávamos diante de outdoors de verão, com modelos de biquíni, o que víamos como uma afronta a Alá. Havia, de um lado, o rigor das regras, que me agradava porque vivia em excesso de liberdade. Mas havia também as promessas do paraíso. Masturbação era considerado um pecado grave, mas havia muitas promessas para o paraíso depois da morte, de muito sexo com mulheres virgens.
Havia ligações diretas entre o seu grupo e a al-Qaeda ou o Estado Islâmico?
O nível de organização não é tão intenso. Os contatos aumentaram depois que abandonei o grupo. Mas o meu colega Daniel foi mais tarde para a Síria para lutar junto ao EI. Fiquei triste quando vi seus vídeos na internet, pois concluí que o seu caminho era definitivo. Quem chega até o EI nunca mais consegue voltar. E fiquei triste também pela brutalidade dos vídeos. Talvez ele mesmo tenha decepado cabeças de vítimas.
Como descrever os convertidos que foram para o EI na Síria?
Cada um tem um motivo diferente, mas a maioria queria romper com o passado e sofria com o estigma de fracassado. No grupo do qual eu participei, apenas dois tinham diploma universitário e 90% eram desempregados. Parte não tinha profissão e nunca havia trabalhado, vivia da ajuda social do governo.
Quando descobriu que também os salafistas pregavam a violência?
Em 2013, quando me desliguei, havia vários tipos de salafistas. Todos eram fundamentalistas e radicais, mas havia os que mais pregavam a violência contra descrentes como um dever. Nessa época, notei que o que considerava uma religião implicava estar disposto ao terrorismo. Confesso que ainda hoje vejo o islamismo como a melhor das religiões. Ainda hoje sou muçulmano. Mas o que mudou é que valorizo mais o meu individualismo e não quero ter ninguém perto de mim que diga o que devo fazer.
Os terroristas do EI usam a religião para fundamentar a violência…
Há diferentes interpretações, mas há muitos trechos usados tanto pelos muçulmanos pacíficos quanto pelos que seguem o Islã político. O Islã não explica a violência, mas eu gostaria de lembrar que sem ele não haveria o EI. Todo o ódio dos terroristas é canalizado contra cristãos e judeus, contra a sociedade livre, contra a alegria da vida.
É verdade que foi alvo de ameaças quando deixou o islamismo?
Fui chamado de traidor e precisei chamar a polícia inúmeras vezes. Hoje não revelo mais a ninguém o meu endereço. A situação piorou depois que escrevi o livro. Mas era muito importante contar a minha experiência para que outros adolescentes evitem o perigo de cair numa situação parecida. Aceitar a violência nunca pode ser uma opção de busca de um sentido para a vida. Eu conto sobre a minha experiência em escolas alemãs.