SÃO PAULO ? Preso em São Paulo desde o dia 24 de junho alvo da ?Operação Custo Brasil?, o ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, não teria pego propina da Petrobras apenas para abastecer o caixa do partido, segundo os investigadores da força-tarefa que detalharam o esquema de corrupção foco da 31ª fase da Lava-Jato. O petista financiou escolas de samba de Porto Alegre e blogs. Em troca, matérias elogiosas a sua atuação no universo do carnaval e homenagens. ?O Rei do carnaval?, conforme ficou conhecido o ex-deputado, foi até enredo de escola de samba na capital gaúcha. Na Operação Abismo, realizada nesta segunda-feira pela Polícia Federal , ele teve prisão preventiva decretada pela segunda vez.
O petista já havia sido homenageado por duas escolas de samba gaúchas entre 2009 e 2016, período em que foi acusado de receber propina da Petrobras e da Consist. No carnaval deste ano, a Academia de Samba Praiana, de Porto Alegre, levou à avenida o enredo “Uma declaração de amor em Verde e Rosa: Paulo Ferreira, um homem do Carnaval”.
O enredo fala do “homem que tratou o carnaval como cultura e com seriedade”. No lançamento do enredo, ano passado, cartazes diziam: ?cara que falou e fez? pela cultura popular do Rio Grande do Sul. Em 2009, a Império da Zona Norte, também da capital gaúcha, bordou uma bandeira oficial com o nome de Ferreira, durante inauguração da quadra, encabeçada pelo ex-deputado petista.
MADRINHA DE BATERIA
Segundo investigações da Lava-Jato, entre 2005 e 2010, Alexandre Romano, ex-vereador petista e apontado como operador do esquema, recebeu R$ 1 milhão em propina do Consórcio Novo Cenpes, responsável pela obra do centro de pesquisa da Petrobras, e repassou a Ferreira por meio de contratos simulados e depósitos feitos a parentes dele, blog com matérias que eram favoráveis a ele e até mesmo uma escola de samba. No total, a obra da Petrobras pagou R$ 36 milhões em propinas.
Segundo Romano, foram feitos depósitos à ONG Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, uma escola de samba, e à Viviane Rodrigues, madrinha de bateria da agremiação. Foram identificados quatro pagamentos à escola de samba, no total de R$ 45 mil – um cheque de R$ 20 mil e cinco cheques de R$ 5 mil.
Viviane recebeu por meio de transferências entre 2010 e 2012. Ao todo foram 18 transferências, no total de R$ 61.700 – 16 de R$ 3.500, uma de R$ 4.200 e uma de R$ 1.500.
No processo, foram anexadas notas publicadas na internet, que citam homenagens à Paulo Ferreira pelo aniversário de 53 anos e sua posse como deputado federal pelo PT. “Paulo Ferreira é uma figura muito querida junto a Estado Maior da Restinga, sempre auxiliando e apoiando a escola de samba da nossa comunidade, bicampeã do Carnaval de Porto Alegre (2011/2012). E por este motivo a escola não poderia deixar de estar presente nesta festa, levando parte de seus integrantes para fazer um grande show para animar o aniversariante e seus convidados”, diz uma nota, que afirma que ele ajuda a comunidade e conta com o apoio de seus integrantes.
As investigações mostraram que foram repassados também dinheiro a um blog, identificado como “blog do Júlio Garcia”, que publicou matérias favoráveis a Ferreira. Em 2010, ele teria recebido R$ 6 mil.
Romano também apresentou comprovantes de cheques nominais, no total de R$ 3.500, a Ana Paula Ferreira e Jonas Ferreira, identificados por ele como filhos de Paulo Ferreira. Há também um canhoto de cheque de R$ 2 mil que, segundo Romano, teve como destinatário o próprio Paulo Ferreira. Leonita de Carvalho, que trabalhou na Casa Civil da Presidência da República, teria sido beneficiada por um cheque nominal de R$ 2.500 em abril de 2011 e uma transferência de R$ 4 mil em maio do mesmo ano. Ela trabalhou na Casa Civil da Presidência até março de 2015.
Na operação de hoje, a Polícia Federal cumpriu 35 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. A ação, batizada pela PF de “Abismo”, tem como objetivo apurar fraudes em licitação, pagamentos de valores indevidos a servidores da Petrobras e o repasse de recursos a partido político em virtude do sucesso obtido por empresas privadas em contratações como o projeto de reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) que fica na Ilha do Fundão, no Rio, estimado em quase R$ 850 milhões e cujo valor real pago pela estatal, após 17 aditivos, chegou a R$ 1,8 bilhão. O esquema investigado envolveu diversas empresas que pagaram mais de R$ 39 milhões em vantagens indevidas para uma empresa participante do certame, a Diretoria de Serviços e o PT.