Cotidiano

Projeto de plantio de orquídeas capacita jovens e homenageia atletas

RIO — Ainda é outono. Mas, de maneira tímida e ao mesmo tempo ambiciosa, a cidade se prepara para florescer. Os troncos de árvores em diversos bairros têm ganhado orquídeas. A ação é um dos ramos do projeto Orquídeas na Cidade Olímpica, organizado pelo empresário Fernando Potsch — um entusiasta e especialista nessas flores — em parceria com a OrquidaRio, sociedade orquidófila carioca inteiramente dedicada ao tema. A meta é plantar 14.850 mudas para homenagear os 10.500 atletas olímpicos e 4.350 paralímpicos que vão participar da Olimpíada.

A ideia germinou no ano passado, quando Potsch estudava Engenharia de Produção no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), na UFRJ, e se interessou em pesquisar o legado que os Jogos Olímpicos deixariam, principalmente na área socioambiental. Mais do que plantar, o idealizador quer fincar raízes. Daí veio a iniciativa de capacitar e reposicionar jovens de grupos de risco para a jardinagem.

— O que ficou na minha cabeça foi que o grande fracasso para um megaevento como esse seria a falta de um legado. Pensamos em treinar jovens porque sabemos da dificuldade para achar um jardineiro. Capacitamos profissionais que terão espaço no mercado, além de deixar a cidade mais bonita — conta.

Potsch mantém a Casa das Orquídeas, em São Conrado, dedicada inteiramente às plantas. É lá que cuida das mudas usadas no projeto. A Barra será um dos próximos bairros a recebê-lo.

SEMEANDO CUIDADO

O projeto Orquídeas na Cidade Olímpica tem como foco os principais bairros que receberão os Jogos — além da Barra, Copacabana, Deodoro e Maracanã. A triagem dos locais para o plantio é feita pela Fundação Parques e Jardins, um dos órgãos apoiadores. O planejamento prevê ações na Avenida Olegário Maciel e na área ao redor de um shopping, ainda em fase de negociação, sem previsão de início.

O plantio tem o intuito de despertar o interesse do público em geral. Já o curso de iniciação ao cultivo de orquídeas é feito em parceria com outros projetos, como o Pró-Florescer, do Jardim Botânico, e a ONG Viva Rio.

— Fui procurar projetos sociais em andamento nas comunidades, com jovens já selecionados e que estivessem à procura de atividades. Estamos correndo atrás de patrocínio — diz Fernando Potsch, que busca incentivo por meio de crowdfunding (catarse.me/orquideasnacidadeolimpica).

O cuidado com as plantas foi transformado em profissão por Ricardo de Figueiredo Filho, presidente da OrquidaRio. Detentor de uma coleção de 600 orquídeas — que já chegou a ter duas mil —, hoje ele trabalha com conservação e plantio de orquidários residenciais e ministra cursos. A troca de experiências, garante, é o maior potencializador do projeto.

— Quando entrei no OrquidaRio, o então presidente foi me ensinando o que sabia. Aprendi também com a observação e a leitura de periódicos e de jornais estrangeiros. Atualmente, queremos levar um braço da associação para a Zona Oeste, principalmente Barra e Recreio, começando com uma exposição — conta Figueiredo Filho, um apaixonado pelas flores desde 1996.

As ações em vias públicas são realizadas com a ajuda de voluntários. Os sócios da OrquidaRio auxiliam os participantes e garantem que não é preciso traquejo para botar a mão na terra. O uso de pregos e arames é um dos erros mais comuns, e está proibido. As experiências já fizeram desabrochar o interesse de quem vive na Glória e em Botafogo, primeiros pontos a receber o projeto.

— Na Glória, um homem que cuida de um estacionamento contou que as orquídeas o remetem à infância, pois a mãe dele tinha plantas em casa. Sem que ninguém pedisse, ele está tomando conta delas — ressalta Potsch, que espera apoio da população na manutenção das orquídeas.

Mas nem adianta andar por aí procurando flores. As mudas plantadas, além de não estarem na época de florescer, são em grande parte doação. Muitas, conta Fernando Potsch, são encontradas no lixo, pois as pessoas as descartam após as flores morrerem. Outras são doações vindas de redes de supermercado que veem as plantas ficarem nas prateleiras pelo mesmo motivo.

— Acreditamos que há uma tríade: o homem, a árvore e a orquídea. Quando juntamos os três, uma alquimia desperta a paixão pelo diálogo com a natureza — conclui Potsch.