RIO – A queda do PIB no primeiro trimestre do ano em ritmo menor do que o esperado levou economistas mais pessimistas a melhorarem as projeções para a atividade econômica este ano para uma queda inferior aos 3,8% registrados em 2015. Acreditam que o recuo, antes estimado acima dos 4%, pode ficar em não mais que 3,3% em 2016. Quem já tinha previsões inferiores a uma queda de 4% as manteve. Altas em quatro índices de confiança medidos pela Fundação Getulio Vargas, em maio, também apontam uma melhora nas expectativas de empresários e consumidores, componente considerado essencial para a retomada do crescimento. Mas, segundo analistas, essa melhora na confiança só vai se refletir em crescimento econômico se as medidas de ajuste anunciadas pelo novo governo forem de fato implementadas.
? A tendência é de recuperação. No último trimestre desse ano, a queda do PIB deve ser de 1% apenas, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, enquanto que em 2015 essa queda foi de 5,9%. O pior já passou. Não vai mais haver uma queda nessa magnitude. É como se a economia fosse uma panela de pressão, e você a destravou, fazendo com que essa pressão desapareça ? avalia Sergio Vale, economista da MB Associados, que revisou sua projeção para 2016 de -4,1% para -3,3% ontem.
Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, que revisou as projeções para o PIB de -4% para em torno de -3,6% e -3,7%, diz que já é possível começar a ver o fundo do poço:
? Em termos de dinâmica da economia, dá para começar a ver um fundo de poço, com o dado piorando no segundo trimestre, mas uma estabilização no fim do ano, com o consumo das famílias e os investimentos caindo menos e maior contribuição do setor externo.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, pondera:
? É um nível tão baixo, tão negativo, que embora seja uma mudança (o -0,3%), não é uma coisa tão animadora, principalmente porque esses dois componentes da demanda (investimento e consumo das famílias) já vêm de quedas muito fortes.
Quem estava menos pessimista para o ano de 2016, no entanto, manteve suas projeções, como foi o caso do Ibre/FGV, da LCA Consultores, do banco UBS e do Bradesco. A LCA Consultores tem a melhor estimativa para este ano, com uma recessão de 3,2%. Para 2017, a previsão é de crescimento de 1,5%. Já o banco UBS prevê uma perda de 3,5% do PIB em 2016, mas espera uma expansão de 0,8% no ano que vem.
? O segundo trimestre ainda será de recuo do PIB frente ao trimestre anterior, de 0,1%, mas já vemos uma variação positiva de 0,2% no terceiro trimestre e de 0,4%, também na comparação com o trimestre anterior ? aponta o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
Igor Valecio, economista do Bradesco, afirmou que o banco manteve a projeção do ano para uma retração de 3,5%, mas vê agora um ?viés altista?.
? Se tivesse que escolher entre uma revisão para uma queda de 3% ou de 4%, ficaria com 3% com folga. Outro ponto importante foi o dado de formação bruta do capital fixo, que deve ter sido o último de queda ante o trimestre anterior. No segundo trimestre esse dado já deve mostrar uma alta de 1% dessazonalizado ? explicou.
VOTO DE CONFIANÇA
Consumidores e empresários também apostam numa melhora de cenário. Em maio, o Índice de Confiança da Indústria atingiu o nível mais alto desde março de 2015; o de Confiança de Serviços (ICS) subiu pelo terceiro mês seguido; a Confiança do comércio foi ao maior nível em quase um ano e a dos consumidores voltou a crescer, depois de dois meses seguidos de queda.
? Os indicadores de confiança refletem muito o calor da hora, estão influenciados pela mudança de governo. Há os indicadores de expectativas, que refletem o humor, e os concretos, de emprego, produção de veículos, papelão e produção industrial que ainda não melhoraram. Então, esse indicadores que tiveram alta refletem muito mais uma mudança de humor ? explica Thais Zara, da Rosenberg Associados.
Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC, reforça que a melhora nesses índices são um voto de confiança ao novo governo:
? A confiança melhorou com relação à expectativa futura. A avaliação do presente continua ruim. Essas expectativas só serão revertidas de fato em números melhores, de consumo e investimento, se as medidas para estimular a economia e cortar gastos anunciadas pelo governo realmente forem implementadas. Do contrário, a confiança recua.
A melhora dos índices de confiança por si só, ressalta Aloisio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do FGV/IBRE, já dá mais tranquilidade ao governo para implementar essas medidas.