LONDRES ? Os maiores temores da União Europeia se confirmaram: enquanto importantes pesquisas divulgadas durante o dia de votação indicaram que a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE) sairia vitoriosa, as apurações mostraram o contrário: com 25,6 milhões de votos apurados e 309 distritos contabilizados (dos 382 em jogo), 51,7% dos eleitores votavam pela saída, contra 48,3% a favor da permanência. Isto levou meios de comunicação como BBC e ITV a projetarem o Brexit (abreviação de British Exit, que significa ?Saída Britânica? em inglês) como vencedor. CONTEÚDO BREXIT PAPEL 2306
Durante as primeiras horas, a opção Leave (“sair”) tomou dianteira sobre o permanecer. Depois, o Remain (“permanecer”) chegou a ter vantagens intermitentes, mas os resultados voltaram a se inverter. Os apoiadores do chamado Brexit deram indicações de provável derrota em discursos, mas acabaram voltando atrás. A libra alcançou ainda seu nível mais baixo em 31 anos, durante um momento da apuração.
Apesar das fortes chuvas e enchentes, as urnas fecharam na hora esperada após um dia caótico em Londres e várias outras cidades. Políticos de todos os partidos políticos envolvidos na votação agradeceram aos eleitores ? somente em Londres, a participação foi de 74% do eleitorado habilitado. No entanto, o tempo instável prejudicou a participação dos britânicos na consulta popular, indicaram jornais e redes de TV locais diretamente dos centros de votação.
As apurações mostraram índices de participação maiores que os das eleições gerais de 2015, girando em torno dos 72%.
A libra esterlina começou cotada em forte alta durante o início da apuração. Em Newcastle-upon-Tyne, primeiro local com apuração divulgada dentro do território, a permanência passou com cerca de 50,7%, menor que o esperado. Já em Sunderland, onde a vitória do Brexit era esperada, foi maior ainda: quase 62% a 38%. Bastou o último resultado para a onda de confiança do mercado cair, assim como a moeda, que despencou nos minutos seguintes mais de 3%.
À medida em que mais resultados foram saindo, a vantagem do “sair” se manteve em uma constante, preocupando Cameron e analistas. Os mercados passaram a prever retrações após o bom desempenho do Brexit. Mas, com as variações, os índices demonstraram volatilidade nas principais bolsas asiáticas e no mercado de câmbio.
“Estamos ousando em sonhar”, escreveu no Twitter o líder pró-Brexit do Ukip (Partido pela Independência do Reino Unido), Nigel Farage.
? Uma nova aurora de um Reino Unido independente está surgindo. Será uma vitória para as pessoas reais, pessoas decentes ? disse ele a apoiadores. ? Espero que esta vitória ponha abaixo este projeto fracassado (referindo-se à UE) e leve a uma Europa de Estados soberanos.
Outros resultados decepcionaram os apoiadores da permanência na UE. Cidades como Liverpool não conseguiram vitórias grandes o suficiente como esperavam, e outras, como Sheffield e a maioria dos distritos de Gales, acabaram dando vitória ao Leave quando esperavam vitória do Remain. Isto fez com que a rede ITV passasse a dar possibilidade de haver o Brexit em 85%. O banco JP Morgan, que indicava vitória do Remain, também se retratou.
A aguardada consulta da YouGov, que não é uma boca de urna formal (afirma ser uma sondagem de intenção de voto com diferentes grupos de eleitores, com menor margem de erro), indicou com base em 5 mil eleitores a vantagem do Remain (permanecer) por 52% a 48%. A pesquisa consolidou a avaliação do instituto sobre o resultado, que nos últimos dias teve uma reviravolta contra o Leave.
Já a Ipsos, especializada em sondagens políticas, indicou uma estimativa de vitória do Remain por 54% a 46%, com base em consultas feitas durante quarta e quinta-feira. Na última consulta, a empresa havia estimado em 52% a 48%.
Militantes do fico comemoram primeiros resultados do referendo
Enquanto o drama da ausência de resultados continuava logo que as urnas fecharam, Farage disse que “a opção pela permanência parecia ter superado a saída”.
? Foi uma campanha extraordinária, com participação excepcionalmente alta ? disse ele à Sky News. Apesar de seu partido negar que ele tivesse admitido derrota, ele disse depois que “as pesquisas do mercado financeiro já indicavam” o provável resultado.
Pouco após os primeiros resultados, 84 parlamentares conservadores mandaram uma carta ao primeiro-ministro, David Cameron, agradecendo-o por convocar a votação e dizendo que “ele tem o dever de continuar liderando a nação, independente do resultado”. Entre os signatários, estão os correligonários Boris Johnson e Michael Gove, os dois maiores partidários pela saída. De acordo com a Sky News apoio, os riscos apontados por analistas de que Cameron renunciaria ao cargo caso o Brexit passe poderiam se dissipar.
Chuvas torrenciais atrapalham votação decisiva em Londres
TEMPO ATRAPALHA
O apoio à permanência chegou a 55%, ante 45% que defendem a saída britânica do bloco. O dado é de uma pesquisa online divulgada no Twitter, enquanto a votação do referendo britânico estava em andamento. Segundo o instituto Populus, que realizou o levantamento, foram entrevistadas 4.700 pessoas na terça e na quarta-feira.
Outras pesquisas de intenção de voto na véspera mostravam divisões sobre o Brexit, com algumas sondagens colocando o apoio à permanência no bloco na frente, e outras indicando maior respaldo à saída. Os níveis de indecisos continuam acima dos 10%, podendo definir a disputa.
Em Londres, alguns centros de votações atrasaram para abrir ou foram obrigados a fechar as portas por conta das enchentes. Em outras partes do país, moradores relatam dificuldades para chegar às urnas, e muitos eleitores ficaram sem poder dar seu votos, raios e veículos presos.
A previsão era que em poucas horas caia toda a chuva esperada para o mês inteiro na capital britânica. Durante a noite, tempestades alagaram ruas, casas e estabelecimento comerciais. O transporte público sofreu alterações, e bombeiros receberam cerca de 500 chamadas por conta de incidentes envolvendo inundaçõe
Os primeiros eleitores começaram a votar nesta manhã, e as urnas permaneceram abertas até as 22h (horário local). Mais de 46 milhões estão registradas para responder à pergunta: ?O Reino Unido deve continuar sendo um membro da UE ou deve sair do bloco??.
Farage afirmou que o tempo ruim poderia favorecer a saída da UE. O seu argumento é que os jovens, mais inclinados à permanência no bloco, têm menos tempo para esperar a chuva melhorar e ir ao centro de votação.
Mas, por outro lado, os idosos, em geral mais favoráveis ao Brexit, não trabalham e, por isso, têm o dia todo para ir às urnas.
? Tudo depende da participação e de que os grupos pró-UE fiquem em casa ? disse Farage.
A disputa sobre o Brexit gerou uma polarização que deixará marcas. Se o Leave (de ?sair?) vencer, as consequências econômicas poderão sacudir os mercados e o premier David Cameron dificilmente conseguirá se manter no cargo. Se o Remain (de ?permanecer?) ganhar, o governo precisará enfrentar a frustração de uma imensa parcela da população que demonstrou não confiar na UE.