Cotidiano

Profissionais mostram como superaram uma demissão

Foto clara.jpg Emprego RIO – Sofrer com uma demissão é um comportamento legítimo. Em tempos de mercado restrito, especialistas concordam que está ainda mais difícil galgar uma recolocação. Mas manter o equilíbrio e o foco é tão difícil quanto importante. Afinal, a maneira como a pessoa lida com a situação faz toda a diferença na hora de se reposicionar.

O empresário Luis Araújo, por exemplo, transformou a demissão da companhia onde trabalhou por três anos numa oportunidade. Ele atuava como supervisor de atendimento numa empresa de planos de saúde e, em paralelo, fazia um curso de cinegrafia por hobby. Quando o desligamento chegou, ele decidiu agir rápido.

? Com o dinheiro da rescisão, paguei o restante do curso e comprei alguns equipamentos ? conta ele, que começou a filmar festas e eventos e, pouco depois, montou a empresa Follow Movie junto com seu sócio.

Hoje ele diz ter uma vida melhor do que quando estava na empresa e reconhece que, se não fosse a demissão, ainda estaria na companhia.

? Se há males que vem para o bem, este foi um caso legítimo. Tomei um pé na bunda para dar um passo para a frente ? comemora ele, que agora tem uma renda três vezes superior ao que recebia como empregado.

Como compara a CEO da empresa de treinamento Pro-Fit, Eliana Dutra, quando uma pessoa é demitida de um emprego de anos, a sensação é de perder o sobrenome. E a pior coisa que pode acontecer diante disso é se deprimir.

? É preciso olhar para a situação e ver o que se pode extrair de aprendizado. E se falta coragem de olhar para o passado, o melhor é mirar para frente. Só não pode ficar se achando um injustiçado ? alerta ela.

Pessoas com histórias como a de Araújo, segundo Eliana, souberam ir direto ao que interessa em meio a um momento tão delicado.

? Após um desligamento, a pessoa precisa refletir e reconhecer seus talentos, para que possa reforçá-los ainda mais. É claro que é impossível ter apenas pontos fortes, mas aprimorá-los é mais importante do que ficar tentando consertar os defeitos ? aconselha a especialista.

MUDANÇA DE HÁBITO

O empresário Túlio Silveira conhece bem as angústias de uma demissão. Após ser desligado de um emprego que manteve por sete anos, ele enfrentou meses de noites de sono interrompidas por pesadelos.

? Sonhava que estava atrasado ou tinha que retomar trabalhos que não terminei quando deixei o cargo que ocupava ? recorda-se ele, que atuava como analista de suprimentos em uma companhia e foi desligado pela política de cortes. ? Quando me vi desempregado, fiquei completamente perdido.

O caminho natural foi distribuir currículos e encarar maratonas de entrevistas. Mas, com o mercado em baixa, a chance de uma nova contratação começou a parecer cada vez mais distante. Foi a deixa para ele decidir agir com as próprias mãos.

? Comecei a pesquisar as possibilidades e cheguei até o hambúrguer artesanal. Como gostei da ideia, levantei receitas e técnicas para ver como poderia chegar ao melhor produto ? conta Silveira.

ihateflash_sa-1.jpgSeis messes depois da demissão, Silveira já estava com seu produto na rua, participando de eventos onde vende os sanduíches. Apoiado pela namorada Sabrina Cardoso, que largou o emprego para seguir com ele na empreitada, Silveira enxerga o seu ArteBurguer Gourmet crescer a cada dia. Ele já até consegue guardar parte do lucro para investimentos futuros.

? Tive que começar do zero, já que optei por algo que não tinha qualquer experiência. Mas hoje adoro o que faço ? reflete ele.

Silveira fez valer uma dica que Alexia Franco, sócia-fundadora da consultoria em recursos humanos Unique Group, considera fundamental.

? É importante usar o tempo livre para desenvolver novas habilidades e pensar diferente. Dessa forma, pode surgir alguma oportunidade que não era exatamente o que se esperava, mas com um resultado interessante. O importante é ser flexível ? resume ela. ? Atualmente, o profissional precisa planejar sua recolocação como um trabalho. Tem que mapear o mercado, buscar contatos e ter conhecimento dos seus diferenciais para direcionar o foco nas buscas.

Geralmente, segundo ela, as pessoas trabalham em funções que não trazem satisfação por razões distintas. Quando acontece uma ruptura, esse processo leva à reflexão e à avaliação do que precisa mudar.

? O ideal é não esperar uma demissão para iniciar esse processo e, durante a vida profissional, desenvolver outras atividades que possam ser um plano B ? diz ela.

ATÉ JUSTA CAUSA TEM SOLUÇÃO

O especialista em desenvolvimento profissional e autor do livro ?A Estratégia do Olho de Tigre?, Renato Grinberg, completa que, além de cumprir toda a rotina que a busca por um novo emprego requer, o lazer também não deve ser deixado de lado nesta fase.

? Aproveite o tempo restante para fazer coisas que não tinha tempo, inclusive relacionadas a hobbies e passar mais tempo com a família ? sugere Grinberg.

E como ele lembra, até uma justa causa pode ter um desfecho sem trauma:

? Faça uma análise sincera do que ocorreu e o que se pode aprender com a situação, pois você não foi o primeiro e nem será o último a passar por uma situação dessa.

Cuidar da imagem é um princípio básico para quem busca um novo emprego. Neste caso, como define a coordenadora do Centro de Carreira da Escola de Negócios da PUC-Rio, Renata Machado, vale aplicar a máxima de que ?é dando que se recebe?.

? As pessoas que conseguem se recolocar mais rápido são aquelas com bons relacionamentos. Quando somos generosos e cordiais, as pessoas se sentem confortáveis em retribuir da mesma maneira ? comenta a especialista. ? Por outro lado, quem fica apenas reclamando da empresa e não faz nada para mudar acaba com a imagem arranhada.

O diretor da consultoria de recrutamento Talenses no Rio, Paulo Moraes, reforça o ponto de vista de Renata. Segundo ele, o networking precisa estar sempre em dia. Recursos como as redes sociais, inclusive, podem e devem ser usados para esta conexão. Só não vale deixar o bom senso de lado.

? É válido manter o contato com recrutadores, enviar e-mails para consultas sobre vagas e andamento de processos seletivos. Mas sempre de maneira ponderada. Não pode ser insistente, nem demonstrar desespero ? aconselha Moraes.

DSC_0247.JPGAgir dentro dessas premissas possibilitou ao paulista Marcos Fernando Daniel conseguir um novo emprego três meses depois de ser demitido da empresa onde trabalhou por seis anos.

? A minha rede de relacionamentos foi muito importante. Conversando com as pessoas, elas reconhecem como sua vontade de voltar a trabalhar é grande e ajudam neste processo ? comenta ele, que foi contratados como especialista de produto em uma empresa de softwares.

FUGIR DA INÉRCIA

Daniel, que já havia construído boas relações no emprego anterior, tratou de continuar valorizando este aspecto também nos meses em que ficou desempregado, além de cuidar da mente para que não tivesse a autoestima abalada.

? Procurei fazer pesquisas na internet e cursos on-line, mas também fiz trabalhos voluntários, visitando casas de idosos. Minha preocupação era manter a mente movimentada para não ter aquela sensação de inércia, nem perder o contato com as pessoas ? conta Daniel.