BRASÍLIA – Fim de linha para as manobras do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética. Ao final de quase noves meses de um processo marcado pela pesada influência do deputado fluminense acusado de ter mentido sobre contas com dinheiro não declarado no exterior, com adiamentos, recursos procrastinatórios, troca de relatores e membros favoráveis a sua cassação, nesta terça-feira falou mais alto a pressão popular que guiou os votos de dois deputados dados como votos certos para Cunha: Tia Eron (PRB-BA) e Wladmir Costa (SD-PA) definiram a primeira derrota que pode culminar com sua cassação também no plenário.
Após dar o voto que determinou a aprovação da cassação, Tia Eron saiu antes do fim da sessão sem falar com a Imprensa.
? Feliz não estou, mas com sentimento de dever cumprido. Contra fatos não há argumentos. A consciência e a pressão do povo falaram mais alto ? disse o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo .
O relator, Marcos Rogério (DEM-RO), acha que agora não cabe mais recurso ou manobra na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para mudar a decisão do Conselho.
? Contra todo tipo de pressão e manobra de Eduardo Cunha, o Conselho de Ética não faltou ao Brasil e hoje demonstrou que votou pelas provas e não pela política. Esperamos que o plenário tenha essa mesma percepção ao concluir o processo de cassação ? comemorou Marcos Rogério.
No plenário deputados da oposição se juntaram a manifestantes do movimento ?Vem para a Democracia? e gritavam: ?Aproveita e bota Cunha na cadeia?.
? Hoje o que definiu aqui foi a pressão popular, sua excelência o cidadão ? disse Chico Alencar (PSOL-RJ).
? Acabou . Depois desse resultado, Cunha não tem mais chances no plenário ? disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP).
Os deputados aliados de Cunha ficaram arrasados com o voto surpresa de Tia Eron e deixaram o plenário cabisbaixos.
? Ela votou com a consciência dela. Não tenho o que comentar ? resignou-se o deputado Nelson Meurer (PP-SC) que ficou ao lado de Tia Eron durante a maior parte da sessão, sem conseguir influenciar seu voto.
Um dos mais próximos interlocutores de Tia Eron, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que logo ao chegar ela deu a ?senha? de que poderia abandonar o amigo Eduardo Cunha, ao dizer que levaria em conta a recomendação do seu irmão no dia da votação do impeachment: votar com sua consciência.
? Valeu gastar saliva! Ganhamos o voto da Tia Eron. Quando ela deu a senha do meu irmão, eu vi que ali tinha uma chance. Foi uma conquista da relação ? comemorou Júlio Delgado.