NOVA YORK ? 2015 começou com a estreia de um musical no sul da cidade que abordava um tema de êxito pouco provável: uma biografia com sabor de hip hop de um dos fundadores da sociedade americana, ou founding fathers. No domingo, esse espetáculo sobre a história dos Estados Unidos fará história por si próprio, novamente. Links Tony
Apesar da presença do novo apresentador James Corden e a chegada de Barbra Streisand pela primeira vez desde 1970, “Hamilton” de Lin-Manuel Miranda será o centro das atenções dos Prêmios Tony no Teatro Beacon.
O musical está indicado a um recorde de 16 prêmios e, com alguns de seus atores competindo em uma mesma categoria, pode chegar a uma máximo de 13, o que superaria a marca de 12 Tonys ostentada por “The Producers”.
A biografia de Miranda sobre o primeiro secretário do Tesouro americano protagonizada por atores de minorias étnicas se transformou em um fenômeno cultural, chamando atenãço na Broadway como nenhum outro espetáculo. Ela já foi discutida em campanhas presidenciais, influenciou no debate sobre a moeda nacional e seus astros aparecem com regularidade em programas de variedades matutinos e noturnos.
Espera-se que os Prêmios Tony sejam uma espécie de salto vitorioso para um musical que arrebatou as maiores honrarias. Miranda já recebeu este ano um Prêmio Pulitzer, um Grammy, o Prêmio Edward M. Kennedy de Teatro Inspirado na Historia Americana e uma bolsa da Fundação MacArthur.
HISTÓRIAS POUCO COMUNS
À sombra de “Hamilton”, chegaram musicais com histórias pouco comuns para a Broadway: a de uma esposa confeiteira infeliz em “Waitress”, a história interna de um musical afroamericano esquecido dos anos 1920 em “Shuffle Along”, e um espetáculo de bluegrass sobre uma mãe solteira no sul em “Bright Star”. Um dos musicais más sombrios foi “American Psycho”, com um herói brandindo uma faca banhada em sangue.
As peças e remakes incluíram um olhar sobre os escravos sexuais liberianos em “Eclipsed”, a reunião de uma família fraturada no dia de ação de graças em “The Humans”, um relato sobre o que ocorre quando morre a atual rainha da Inglaterra em “King Charles III” e dois remakes pouco convencionais de Arthur Miller: “The Crucible” (traduzido como “As bruxas de Salém) e “A View from the Bridge” (“Panorama visto da ponte”). Em uma, os atores andavam descalços. Na outra, um cachorro que parece um lobo fez uma aparição de dar calafrios.
Thomas Kail, indicado a melhor diretor por “Hamilton”, disse que percebeu uma mudança na oferta da Broadway e uma boa acolhida aos relatos pouco usuais.
“Inerentemente, o que penso é que o espetáculo de Lin está dizendo e o que tantos dos espetáculos desta temporada estão dizendo é que contar a sua história importa. Pode ser sobre uma garçonete em uma pequena cidade. Pode ser sobre uma mulher no sul. Pode ser sobre um grupo de estivadores. Pode ser um musical nos anos 1920”, disse. “Estamos escutando os ouvimos e estamos respondendo a isso”.
A temporada também foi rica em termos da diversidade dos atores: 14 dos 40 indicados ao Tony em peças e musicais, ou 35%, são atores de minorias étnicas. E já há mais indicados não-brancos em outras categorias, incluindo o coreógrafo Savion Glover, os diretores George C. Wolfe e Liesl Tommy, e a dramaturga Danai Gurira.
PRESENÇA FEMININA
As mulheres também bateram recordes: “Eclipsed” é a primeira peça da Broadway com uma diretora, escritora e elenco completamente feminino e, incidentalmente, completamente negro. Já no lado dos musicais, “Waitress” marcou a primeira vez que os quatro cargos-chave de criaçao em um espetáculo ? compositor, coreógrafo, libretista e diretor ? foram todos exercidos por mulheres.
Os intérpretes surdos também brilharam na Broadway no remake do musical “Spring Awakening” (“O despertar da primavera”), que, por sua vez, incluiu a primeia atriz cadeirante da Broadway. O espetáculo usou linguagem de sinais e, com isso, atraiu um novo público.
“É uma temporada que trouxe à Broadway espectadores que provavelmente nunca haviam se interessado ou nunca tiveram a oportunidade de vir e verem a si mesmos representados no palco, de modo a se sentirem emocionados e conectados”, disse Adrienne Warren, indicada a um Tony por “Shuffle Along”.
“Isso está mudando. O público está mudando. As historias estão mudando. A narrativa está mudando. Esta é uma temporada onde vejo que estamos cuidando da narrativa e estamos levando os limites muito mais além do que vimos em outras temporadas”.