Marechal Cândido Rondon – A paralisação dos caminhoneiros que começou com o apoio de dezenas de entidades de classe da região começa a ver esse levante enfraquecido diante do não avanço pelo fim da manifestação, mesmo após algumas negociações entre líderes grevistas e governo. Além disso, os caminhoneiros estariam desrespeitando acordos como a liberação de cargas vivas, perecíveis e essenciais.
Entidades de classe calculam os prejuízos diários em cada um de seus segmentos e somente a Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) calcula no Estado prejuízos de R$ 550 milhões/dia. No oeste são cerca de R$ 37 milhões/dia, acumulando apenas nesta semana R$ 170 milhões de prejuízos. Na agroindústria, principal força motriz da economia regional, os números ainda não foram calculados, mas as perdas devem se igualar ou até ultrapassar as da indústria.
Nas indústrias, as diretorias analisam de perto os números e lamentam por perdas que, segundo os diretores, não serão mais recuperadas neste ano, potencializando a crise e não descartando o risco de demissões na tentativa de enxugar os custos.
Dentre as medidas que prometem ser adotadas por alguns movimentos regionais está a ressalva ao apoio da greve. A Caciopar, que tem se manifestado em nome das associações comerciais do oeste e de outras entidades, deverá emitir uma nota no início da semana reforçando que o apoio à causa estava balizado no cumprimento de acordos como a permissão para passagens de cargas vivas e perecíveis e de não haver bloqueios e retenção de veículos. Outras entidades devem seguir este mesmo caminho já neste fim de semana.
Perdas que não se recuperam e ano perdido
Segundo o diretor da Cooperativa Frimesa, Elias Zorek, o comitê de crise permanente chegou ontem a dados alarmantes considerando apenas suas unidades.
Com faturamento diário de R$ 12 milhões em 12 filiais, nesta semana caiu para R$ 1,8 milhão. Ontem o faturamento beirou R$ 1,5 milhão apenas, ou seja, 12,5% da média normal. “Vamos fechar o mês de maio com perdas de R$ 10 milhões e que não serão mais recuperadas neste ano (…) este é um protesto em que alguns que convidam para o banquete entram com os ovos para uma omelete e a indústria entra com o pernil, ou seja, a indústria é quem está morrendo, pagando por isso sem matéria-prima e sem transporte”, alerta.
Os dois frigoríficos estão completamente parados e no laticínio apenas metade do leite tem dado entrada na fábrica. “A outra metade está sendo descartada pelos produtores”, reforça.
Para o diretor, que também ocupa a função de vice-presidente de Agronegócio da Caciopar e de vice-presidente do POD (Programa Oeste em Desenvolvimento), esta já é uma questão de “segurança pública”. “Alguns grupos estão radicalizando. o prejuízo é incalculável e o ano está perdido, já vínhamos trabalhando com margens pequenas e o poder aquisitivo não permite aumento de preõs, ou o governo toma uma atitude agora ou não toma mais”, completou, ao afirmar que somente da cooperativa há 118 caminhões parados com produtos que certamente terão de ser descartados. “Nesta conta das perdas nem estão esses carregamentos”, considerou.
Para Zorek, o que se nota é uma causa política que está afetando o País. “Não se pode matar todo o mundo em função de uma causa. O governo precisa tomar uma atitude. Do jeito que está não se resolve”, considerou.
Toda a indústria no Paraná está comprometida
Um cálculo realizado pela Fiep estima que, se toda a atividade industrial do Paraná for paralisada, o segmento deixará de faturar aproximadamente R$ 550 milhões por dia, sem contar os inúmeros outros prejuízos causados pela interrupção não prevista na produção.
O presidente da Fiep, Edson Campagnolo, explica que, além de problemas para recebimento de matérias-primas, boa parte do parque industrial paranaense não consegue retirar os produtos acabados das empresas. “Assim, as indústrias não podem faturar as encomendas, o que compromete significativamente seu fluxo de caixa”, afirma. “Isso preocupa bastante, principalmente porque compromete a operação com bancos, já que as contas não param de chegar, e pode afetar inclusive o pagamento de salários e impostos. A situação é gravíssima para as empresas e para toda a economia do Paraná e do Brasil, especialmente neste momento em que ainda lutamos para superar a crise dos últimos anos”, completa Campagnolo.
Tomando como base o faturamento líquido da indústria paranaense, calculado pelo IBGE, economistas da Fiep chegaram à estimativa de que, caso a manifestação dos caminhoneiros se prolongue e haja paralisação completa das linhas de produção no Estado, as empresas deixarão de vender o equivalente a R$ 550 milhões por dia. Considerando a indústria brasileira como um todo, o montante poderia chegar a R$ 6,5 bilhões ao dia na mesma hipótese. Já os prejuízos gerados pela paralisação das atividades são muito maiores, seja pelo descarte de produtos e matérias-primas perecíveis, como no setor de alimentos, seja pelo atraso na entrega das mercadorias. Há ainda o caso de indústria que, por peculiaridades de seus processos produtivos, não podem simplesmente desligar determinados equipamentos, como fornos e caldeiras.
“Os transportadores são parte essencial de toda e qualquer cadeia produtiva. Como este movimento atual comprova, a falta de prestação de seus serviços causa impactos diretos às empresas, à economia e toda a população”, diz. “Se esses profissionais estão parados é porque, assim como os demais elos do setor produtivo, também enfrentam imensas dificuldades para exercer plenamente suas atividades. Por isso, é preciso que o governo tome atitudes e encontre soluções para o problema o mais rápido possível”, completa.
Frigoríficos
A Abpa (Associação Brasileira de Proteína Animal) reforça que até ontem mais de 70 frigoríficos suspenderam as atividades. Segundo a Aiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), cerca de 130 frigoríficos de carnes bovina, suína e de aves também interromperam a produção. Ontem, este número ultrapassava 200 unidades com paralisação de aproximadamente 90% da produção nacional de carnes.
Sobreaviso
Ontem, após o pronunciamento do presidente Michel Temer de que acionaria as tropas federais e as Forças Armadas para conter bloqueios nas rodovias, militares do Exército Brasileiro de Cascavel ficaram de sobreaviso. O mesmo ocorreu na Polícia Federal e na Polícia Rodoviária Federal. No fim da tarde de sexta-feira havia no Paraná mais de 200 pontos de manifestação em rodovias estaduais e federais.
Serviço de emergência continua garantido
Cascavel – Apesar da falta de combustível nos postos em consequência da greve dos caminhoneiros, o serviço de emergência em Cascavel e região não está comprometido.
A preocupação ocorre porque, no fim de semana, o número de ocorrências atendidas pelo serviço de socorro é maior e as viaturas necessitam de combustível para atendimento às vítimas.
De acordo com o setor de relações públicas do 4º GB (Grupamento de Bombeiros), que atende Cascavel e região, para os caminhões de combate a incêndio o atendimento está normalizado porque os veículos são movidos a diesel, produto ainda disponível nos postos autorizados.
Para as ambulâncias do Siate, um caminhão da prefeitura auxilia no reabastecimento, além da disponibilidade da Polícia Militar e do Exército para reposição.
As viaturas da Polícia Militar também continuam o trabalho normalmente e o 6º BPM (Batalhão de Polícia Militar) deve receber um caminhão com 10 mil litros de combustível nos próximos dias.
O trabalho do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) também está com a situação controlada. O combustível das ambulâncias é monitorado, assim como o estoque dos postos conveniados, que têm um acordo para armazenar combustível para o socorro.