SÃO PAULO – A Polícia Civil de São Paulo vai investigar o caso de suposta tentativa de estupro cometida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP) contra uma integrante da juventude do partido. Patrícia Lélis, de 22 anos, viajou de Brasília à capital paulista para denunciar o parlamentar e o chefe de gabinete dele, o policial civil aposentado Talma Bauer.
Um boletim de ocorrência estava sendo registrado no 3º DP (Santa Ifigênia) na noite desta sexta-feira para averiguar os crimes de tentativa de estupro, cárcere privado e coação. Policiais informaram ao GLOBO que, ao final do registro, seria pedida a prisão de Bauer, que foi detido na tarde desta sexta-feira. Por ser deputado, Feliciano tem foro privilegiado e não pode ser investigado pela polícia paulista.
A jovem passou por três delegacias ao longo desta sexta-feira. Segundo depoimento da jovem à Corregedoria da Polícia Civil, Bauer a procurou diversas vezes para que ela fizesse uma gravação que inocentasse o deputado. Ela contou que se sentiu coagida e ameaçada e mostrou que, enquanto prestava depoimento, seu celular não parava de receber chamadas do assessor.
Bauer chegou a ir ao hotel no centro da cidade em que a jovem está hospedada e, segundo policiais, ele a intimidou, o que levou a jovem procurar a polícia. À noite, o chefe de gabinete foi detido por policiais civis e conduzido ao 3º DP para prestar esclarecimentos. Horas antes
Até as 21 horas desta sexta-feira, a polícia ainda ouvia depoimentos sobre o caso. Fontes policiais informaram ao GLOBO que Feliciano e Bauer devem figurar como averiguados no boletim de ocorrência do caso. A investigação do deputado deverá ser encaminhada para a Polícia Federal.
Patrícia é de Tocantins, evangélica, militante da juventude do PSC e frequenta a igreja de Feliciano. Ela está na capital paulista há poucos dias acompanhada da mãe. O suposto assédio cometido por Feliciano teria ocorrido em junho deste ano, quando, segundo a jovem, o deputado a chamou para uma reunião com integrantes da juventude do PSC em seu apartamento funcional em Brasília. Chegando ao local, Patrícia diz que percebeu que não havia reunião nenhuma porque estavam apenas Feliciano e ela. Nessa ocasião, o deputado teria tentado estuprá-la.
O deputado nega a acusação. Ao longo do dia, em seu Twitter, ele escreveu uma citação bíblica do evangelho de São Mateus: ?Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.?
O caso somente foi revelado por Patrícia na terça-feira. Um dia depois, ela recuou da acusação em uma gravação que ela mesma publicou na internet. Ontem a jovem decidiu formalizar a denúncia. Contra o deputado a acusação de Patrícia é de que foi mantida em cárcere privado e sofreu uma tentativa de estupro. Em relação a Bauer ela denuncia o crime de coação por tê-la pressionado a fazer a gravação que inocentaria Feliciano. O parlamentar foi alvo anteontem de um pedido da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) para que o Ministério Público do Distrito Federal investigue o caso.
Patrícia contou à polícia que deixou Brasília para se proteger. Ela disse que procurou dirigentes do PSC para denunciar o parlamentar, mas, segundo ela, não teria recebido amparo.
Na internet circula um áudio que seria de um encontro entre ela e Bauer em Brasília realizado a pedido do assessor. Ela gravou toda a conversa. Na ocasião, a jovem diz que não gostaria de ir a uma delegacia denunciar o caso “por amor que tem à igreja”, mas avisou que não iria concordar com as atitudes do deputado, que a estaria difamando no partido. Bauer prometeu interceder por ela junto ao PSC.
O GLOBO conversou com Bauer no início da tarde desta sexta-feira. Ele disse que não sabia que Patrícia estava na capital paulista prestando depoimento à polícia. À noite, ele não foi mais encontrado pela reportagem. Feliciano também não foi encontrado.